Dedicatória:
Para a Clarice que eu não sou mais.
Eu socaria você.Caio da cama em um baque surdo ao me assustar com as várias batidas, do que pude perceber, ser de uma frigideira contra uma colher de sopa. Me arrasto pelo chão frio xingando mentalmente o despertador que tocava sem parar em cima da cômoda.
— Desgraçado! — puxo o fio da tomada o desligando rapidamente. Suspiro ao descobrir que estou, mais uma vez, atrasada para a escola.
Com todas as minhas forças naquela manhã, me obrigo a levantar do chão me arrastando até o banheiro, derrubando alguns produtos de higiene da pia ao pegar minha escova de dentes e em seguida, tropeçar no box do chuveiro. Choramingando por meu mindinho do pé dolorido, deixo a água gelada me arrepiar por inteira. Pelo visto nem o dinheiro da pensão, nem do trabalho haviam sobrado para termos água quente esse mês.
Morar na parte mais pobre dos subúrbios de Nova Jersey não é nenhuma maravilha. O apartamento tem dois pavimentos, no qual dividimos o primeiro com nossas vizinhas, as senhoras O'leary. Temos uma sala conjugada à cozinha, dois quartos e um banheiro separado. É o suficiente para uma mãe e uma filha tentando aproveitar as oportunidades que a vida nos dá e ficando satisfeitas com o que temos. Mesmo que ainda não seja o suficiente para mim.
Apareço na cozinha andando rapidamente até sentar ao lado de minha mãe e me servir enfiando um grande pedaço de panquecas na boca.
— Bom dia, dona Júlia! — dou um beijo melado de calda em sua bochecha, me esticando em minha cabeça.
Ela ri, ao limpar o rosto com uma toalha.
— Bom dia, preguiçosa! — ela ri ao limpar o rosto — Está atrasada.
— Um tiquinho. — abro um sorriso amarelo.
— Sei. — arqueou uma das sobrancelhas — Quer que eu a leve para a escola? — pega seu blazer os vestindo para o trabalho. Se não fôssemos logo, o ônibus não se daria o trabalho de esperar.
— Não, tudo bem. — tiro minha louça da mesa a levando até a pia — Eu vou andando. Marquei de me encontrar com Patrick e a Liza pra irmos juntos.
— Tudo bem.
Ela me espera na porta para saírmos juntas. Descemos as escadas do pequeno alojamento até chegar na calçada da rua e a mesma ir até seu carro velho. O parachoque está amassado no lado direito e costumo dizer que tem seu charme, como se o sedã prata ultrapassado tivesse uma linda e charmosa covinha.
— O seu ex vai me buscar, hoje? — grito para que ela ouça quando nos afastamos.
— O cachorro do seu pai vai dobrar o turno dele. — tento não rir — Se quiser, pode passar a tarde na casa da Liza. — entra no carro me mandando um beijo — Tchau, meu amor! — logo em seguida dá a partida.
— Tchau, senhora de idade! — grito de volta abrindo um sorriso brincalhão para a mesma que me olhava com uma expressão neutra não achando graça do meu apelido.
Mamãe é corretora de imóveis e trabalha vendendo casas pela cidade. Desde que se divorciou do meu pai, ela faz de tudo para termos uma vida suficientemente boa e eu tento não dar trabalho para não ser mais um problema em sua vida. A separação a deixou um pouco abalada e isso fez com que sua vida virasse de cabeça para baixo. Claro, ela e meu pai continuam amigos como sempre foram desde as suas adolescências, era o mínimo que podiam fazer já que tinham uma filha e o casamento estava destruído.
Meu pai a ajudou a conseguir outro lugar para morar, apesar dele ter insistido para ficarmos em nossa antiga casa, mas minha mãe não queria continuar morando no mesmo lugar que a fez se encher de alegria por anos e por fim, ser a casa onde viveu o pior momento de sua vida. O momento que ela entendeu que sua felicidade não era ali, com seu marido.

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Colegial: gringos, Brasil e romance
Teen FictionKristen Hale é filha única de pais divorciados. Seu pai, norte americano e sua mãe, brasileira. A doce e desastrada garota que mora em Nova Jersey, Princeton com a mãe, vive uma vida pacata e feliz até despedirem sua mãe e as duas serem expulsas do...