Rejeição

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Narrado em Primeira Pessoa.
• Versão de Morgans, Senhora Das Trevas.
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ABORTANDO

   Reconquistar Felix parecia impossível nesta situação, ainda mais agora com Sininho que acabara de revelar seu sentimento mais íntimo, e ainda mais sabendo que eu estou prestes a parir um filho que não lhe pertence.
   É angustiante não sentir amor por essa criatura pequenina e indefesa, que de fato eu não deveria sobrecarregar a culpa do pai em cima do mesmo, eu não queria odiá-lo, mas isso aumenta a cada dia que se desenvolve mais dentro de mim. Eu não quero que nasça. Não quero que tenha o pai que terá, ele não merece.

   Parece egoísmo, mas não é. Ainda há tempo de ir... Eu sei que há! — Pensamentos.

   Caminhando de um lado para outro dentro da cabana em cima da árvore, voltando as cenas anteriores de quando eu tinha apenas dezessete anos, porém agora solitária como no orfanato, ao descabelar-me por rejeitar a criança, misto com pensamentos de como seria a vida da criança tendo o pai como Pan.

Será que ele faria com esse bebê o mesmo que fez com Rumplestiltskin? — A pergunta que não quer se calar. — Tudo que há em Pan é mentira. Ele é a mentira em forma de garoto diabólico!

   Repousando meu corpo semi-nu sobre a cama, deslizava calmamente as mãos pelo criado-mudo, no qual em sua gaveta ainda havia uma tesoura semelhante a que outrora fora utilizada por Pan para amendrontar-me em seus fetiches sexuais.
   Por diversas vezes supirei acariciando minha barriga, lamentando à base de meu choro copioso por estar cometendo aquela ato que eu era de totalmente contra. Agora eu podia de forma clara compreender as situações das garotas de Miami.
Estava segurando firme a tesoura em minha mão, apertava tanto que deixava minha pele avermelhada. Eu tremia, não conseguia introduzi-la como eu gostaria. A soltei deixando cair e pesar sobre o lençol branco amarelado. Minha consciência estava mais pesada que uma âncora de navio.
Sentei-me na cama, tentava segurar as lágrimas mas era impossível, meu coração acelerava deixando-me sem ar, eu tremia e soluçava. Encarava a tesoura, e ela parecia me encarar de volta, parecia o certo a se fazer.
A agarrei novamente firmemente, sabia que iria me arrepender com o resultado depois, mas por impulso passei a introduzi-la em minha vagina vagarosamente até onde ela pudesse alcançar em meu útero. A dor que isso me causava nas entranhas deixavam minhas pernas trêmulas e eu não podia exitar os imensos gritos de dor.
Agora o sangue vermelho escuro banhava manchando o lençol, não havia tido náuseas ainda, porém com a dor imensa me ocasionou. Segurei meus cabelos ao semi-debruçar meu corpo na cama com o rosto virado para o chão, passando a por para fora apenas o suco gástrico de meu estômago dos dias que passei sem me alimentar.
Ao término, deslizei o braço em meus lábios na tentativa de limpá-los. Soltei meus cabelos e deitei-me na cama, mesmo ela estando suja. Eu não obtinha forças para levantar-me e fazer a limpeza do ambiente. Apenas minha tristeza fazia-me companhia até então.
Eis que o garoto de cabelos castanhos, vestimentas e olhos verdes oliva extramente atraente e assustado apareceu no quarto em que eu me encontrava.

- Ellie? O que você fez? - Seu nervosismo e espanto eram exagerado. Eu simplesmente fiz o que eu achava necessário. Não respondi à sua pergunta, afinal era meio óbvio naquela situação, e também por que não me haviam forças para falar. Suas mãos extremamente jovens deslizaram por minha barriga de forma que me acariciasse. Eu podia sentir dentro de mim algo se mexer, aquilo era incômodo e me dava aflição.

- Quanto mais tentar abortar, mais rápido será o dia de tê-lo, Ellie! - Pan afirmou ao pegar-me no colo após tirar o que me sobrava de roupas, colocou-me na banheira e gesticulando sua mão a mesma passou a encher-se. Retirou-se do local e eu podia fitar o meu corpo, minha barriga parecia ter aumentado, em torno de cinco à seis meses de gravidez. Eu jamais me vi daquela forma, muito menos de alguém que eu definitivamente passava a odiar cada dia mais.
Ele retornou, sentou-se no chão ao lado da banheira acariciando meus cabelos. Eu não movia um músculo se quer, desejava nunca ter nascido, ou morrer naquele instante. Ajeitei-me na banheira passando a deitar-me vagarosamente, fitava o teto desligando-me do mundo apenas suspirando com suas carícias.

Peter Pan Fails Where stories live. Discover now