TRÊS

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Tenho a sensação de que o impacto moera os ossos de meus joelhos. Minhas pernas tremem, bambas. Fora isso, mesmo a adrenalina ainda estando a retardar minhas dores, a mordida em meu braço lateja, o ferimento na parte de trás de minha cabeça formiga e minha garganta continua queimando como se ácido tivesse sido respingado nela. Mas ainda estou de pé.

Assim que considero ser possível, cambaleio para trás, levando meus olhos até a janela, nervosa. Não vejo ninguém.

Espero mais um pouco.

— Ryne? — tenho a impressão de sentir minhas cordas vocais rasgando.

Os batimentos de meu coração cavalgam tão rápido quanto um cavalo de corrida em meu peito.

Nada.

— Ryne? — repito mais alto.

A resposta é a mesma.

Chega um ponto em que imaginar o pior é inevitável. Os mais apavorantes pensamentos ameaçam apossar-se de mim; pensamentos que arranham os cantos de minha mente como um gato trancafiado, que torturam e ferem demasiadamente meu psicológico. As piores teorias, os piores e se?, todos rodopiando dentro de mim até que eu me sinta tonta.

Estou confusa, estou ferida. Não quero também estar sozinha.

Quando me dou conta de que me encontro prestes a começar a chorar, Ryne aterrissa. Solto um gritinho abafado de surpresa, correndo desajeitadamente para abraçá-lo. Meu corpo choraminga com o contato.

— Silêncio — reclama, desfazendo-se de meu abraço, provavelmente incerto sobre nossa segurança.

Olho-o torto, minha breve dose de felicidade esvaindo-se por completo.

— O que aconteceu lá dentro antes de você ter chego para me ajudar? — indago.

— Aquela mulher me atacou — diz ele, descrente de sua própria declaração.

— Qual mulher? — digo, forçando as palavras para fora.

— A que achamos estar morta.

Pisco em confusão. Talvez eu não tenha sido a única a bater a cabeça.

— Ryne, ela definitivamente está morta.

— Sim, foi o que também pensei, mas... — começa ele, e então bufa, balançando os braços como se para dissipar qualquer memória que ele ache ter quanto a isso. — Não vi mais ninguém fora ela e o homem que te atacou hoje. Você viu?

Percebo que ele tenta desviar do assunto. Provável que esteja se achando louco, porém não o culpo. O que acabamos de enfrentar realmente foi uma loucura.

Nego com a cabeça.

— Eu consegui prender ele em um dos quartos. Não acho que tenhamos que nos preocupar com um novo ataque muito cedo — comenta.

— Que bom.

Ignorando seus protestos anteriores, enrosco meus braços ao redor de sua cintura. Ryne retribui o gesto, relaxando aos poucos. Ele me aperta delicadamente contra seu peito, cuidadoso com meus machucados. Sua cabeça se inclina para baixo a fim de depositar um beijo em minha testa, mas então ele congela. Sinto-o tencionar.

Esquivando-me de meu irmão, olho em seus olhos. Sua expressão é séria.

— Sua cabeça — diz simplesmente.

— O que tem ela?

— Está sangrando.

— É, eu já havia percebido — confirmo baixinho. Eu realmente sentira o líquido quente escorrer entre meus cabelos.

NevoadaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora