25. DUAS VERSÕES - PARTE 2

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NICOLETTI

Se eu tivesse que escolher uma palavra que resumiria toda a minha vida seria farsa

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Se eu tivesse que escolher uma palavra que resumiria toda a minha vida seria farsa.

Tudo o que vivi não passou de uma farsa.

Uma farsa grande, pesada e muito, muito dolorosa.

Quando eu era mais nova uns sete, oito anos, sempre que eu ia me deitar depois de ditar o que meu pai julgava ser certo ou errado, costumava imaginar que minha mãe abriria a porta do meu quarto, me daria um beijo de boa noite e enquanto esperava eu pegar no sono, cantarolava alguma música de ninar qualquer. Ou que meu pai entraria no meu quarto, se desculpasse por tudo o que me fez, dizia que me amava mais do que tudo na vida ou que pelo menos dissesse para que eu não me preocupasse, pois tudo o que eu desejaria daria certo. Tudo ficaria bem.

Porém a farsa durava apenas quando eu deitava a cabeça no travesseiro durante a noite, e tão logo a realidade me atingia como uma bela e dura bola de futebol na cara no dia seguinte bem cedo, lembrando-me que minha própria mãe havia me abandonado e que meu próprio pai me odiava sabe-se lá o porquê.

Mas dizem que quando a gente é criança, nunca perdemos aquela ingênua e inocente fé que tudo pode melhorar em algum momento do dia, mês, ano ou... o mais doloroso, nunca.

Apesar de tudo o que meu pai me fazia passar, eu estaria mentindo se disse que não tentei ganhar, pelo menos, uma demonstração pequena de afeto da sua parte. Me matava de estudar para ser a menina mais inteligente da escola, só tirava notas altas, nunca me metia em brigas ou algo do tipo, até porque eu era tímida até para me olhar no espelho; nunca repeti nenhuma série; passei em primeiro lugar na faculdade pública; arrumei um estágio do qual ganhava bem e dava todo o meu dinheiro em sua mão para receber o que em troca?

Se você disse beijos e abraços, passou bem, mas bem longe mesmo. Mas, se você respondeu pontapés e socos; humm, mon cher, você está no caminho certo.

E talvez, talvez essa mulher aqui na minha frente, que passei vinte e três anos pensando que ela era minha mãe e imaginando que havia me abandonado, quanto na verdade estava na prisão pagando por um crime do qual ela era inocente, poderia ter respostas para todas as minhas perguntas e dúvidas. Começando pela: por que meu pai me odiava tanto?

— O-o que você disse? — murmurei, após me ajeitar melhor no sofá e aguardar que o ar voltasse para os meus pulmões. — Se você não é minha mãe, quem é minha mãe então? Por favor, seja direta e fale de uma vez.

— Livie, Anne-Livie Maya Chevalier. Nós éramos melhores amigas desde pequenas e você é a cópia idêntica dela — sorri, ao mesmo tempo em que uma lágrima escorre de seu olho direito.

— Ela... morreu? — no instante em que murmuro a pergunta, sinto as mãos de Travis sob os meus ombros, me reconfortado e me dando forças.

Rosé ou Rosely, sei lá por qual nome chamá-la, assenti.

Obsession -  Livro 1 [REVISANDO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora