Silêncio.
Nunca pensei que o silêncio pudesse ser tão incômodo, mas naquele momento até ouvir os meus novos vizinhos transando seria melhor que aquele silêncio.
Claro que como uma tola apaixonada eu esperei que ele dissesse que me amava e que tinha medo que eu não retribuísse o sentimento mas acabei quebrando a cara. Claro que ele não me amava. Ele nunca me amaria. Só faltava eu convencer o meu coração daquilo.
Cansada de esperar uma resposta eu rolei os olhos e fui para o meu quarto, mas não consegui chegar lá pois Tom agarrou o meu pulso e voltou a me fazer olhar para ele.
-O que você disse?
- Eu não vou repetir. Pode me soltar?
Vi ele respirar fundo e fazer uma expressão pensativa. Eu sabia que ele estava tentando achar uma desculpa para desviar daquela situação.
- Olha Mel...
-Olha o quê Thomas? -Perguntei sem paciência. -O que você quer falar? Que você não sente o mesmo por mim? Não perca o seu tempo porque isso já está mais que óbvio!
Virei de costas para ele tentando me acalmar. Maldita ressaca que não me deixava pensar direito. Respirei fundo, passei a mão pelos cabelos e fui para a cozinha atrás de água para tomar algum comprimido para dormir. Era isso. Eu precisava dormir e me desligar mais um pouco daquela realidade de merda. Mas de novo quando eu fui dar um passo ele me impediu e me forçou a encara-lo.
-Mel, você não sabe o que está falando. -Falou cauteloso, como se estivesse falando com algum animal selvagem. -Isso que você sente não é amor, é...
Ah, ele não tinha dito aquilo. Explodi pra cima dele.
-É o que? Apego? Afeto? Amor fraterno? -Enquanto falava eu dava passos na sua direção e cutucava seu peito com o dedo indicador. Lágrimas corriam livremente pelo meu rosto. -Você acha que eu não sei o que eu estou sentindo porque não foi você quem sofreu uma adolescência inteira vendo o garoto que você gosta sair com várias garotas! Porque não foi você quem se limitou a beijar um número mínimo de pessoas em lealdade a alguém que está cagando e andando pra você! Eu te seguia igual a uma idiota para as suas "saidinhas" e pra quê? Pra ver você se agarrando com tudo que tinha peitos! Agora você dizer que eu não sei o que eu sinto é a piada do século! Você pode falar que não sente o mesmo por mim mas não venha me dizer como me sentir!
Meu rosto estava quente de raiva e aproveitando que eu inconscientemente o tinha "empurrado" até a sala, fui até a porta e a escancarei para ele.
-Fora! Fora da minha casa! Eu não quero mais ver a sua cara... NUNCA MAIS!
Ele me olhou atônito por alguns segundos, mas por fim foi embora como eu mandei parecendo um pouco perdido. Eu estava na porta vendo ele pegar o elevador e vi o casal do 560 me olhando assustados.
-Tão olhando o quê? Perderam a cara aqui por acaso? -Atirei mal humorada.
Eles arregalaram os olhos e correram para dentro de casa, talvez surpresos por eu tê-los tratado tão mal. Eu sempre buscava tratar bem as pessoas para ser tratada bem de volta. Ensinamento valioso da minha finada vó Solange (que Deus a tenha).
Bati a porta com força e gritei toda a minha frustração o mais alto possível. Eu estava me tornando uma pessoa péssima, e a troco de que? Continuava sendo desprezada pelo homem que eu amava. Coração burro. Por que não podemos nós mesmos escolher quem amar? Evitaria tanta dor no mundo. Imaginem, você conhece bem a pessoa, verifica o pacote e enfim decide: vou me apaixonar por você. Não seria mais prático?

VOCÊ ESTÁ LENDO
INSUFICIENTE
RomanceNesse livro vemos a história da pequena (ou nem tão pequena assim) Milene. No auge dos seus vinte anos ela se vê infeliz sentindo um amor platônico pelo seu quase irmão e amigo de infância, Thomas. Thomas tem hábitos peculiares que vão contra alguns...