[SETE]: O CONVITE

5.2K 660 105
                                    

NICHOLAS

Se não fosse o pai do Derek nos acordando às quatro e quinze da madrugada, provavelmente teríamos dormido no quintal, jogados no gramado enquanto uma das minhas pernas repousava por cima das dele e a brisa do quase amanhecer acariciava o nosso rosto. Não que isso fosse um problema, seria adorável acordar ali fora com o som dos pássaros, as folhas caindo ou a luz do sol invadindo a nossa pele para causar aquele calor que provavelmente nos acordaria em poucos segundos. Se eu estivesse sozinho, provavelmente repensaria melhor nisso, mas com o Derek ao meu lado, isso parecia ser uma ideia incrível, tão incrível quanto antes, quando costumávamos acampar em finais de semana ou feriados, algo que não fazemos mais.

O tio Fred, pai do Derek, nos forçou a tomarmos uma grande xícara de café com torradas antes de nos deitarmos outra vez para aproveitar as restantes horas de sono que tínhamos, e no quarto, por estarmos tomados pela sonolência e a preguiça, sequer terminamos de encher o colchão inflável onde eu dormiria, tomando a decisão de dividirmos a mesma cama com edredons diferentes. Tivemos uma breve conversa antes de adormecer, e digo breve porque só trocamos mínimas cinco palavras até o Derek me deixar no silêncio para adormecer, me deixando sozinho ali por longos minutos onde eu encarava a janela, já que estávamos deitados em lados opostos e essa era uma das minhas únicas visões de interesse.

Quando acordo pela manhã, logo me dou conta da sua ausência ali perto – o que foi fácil de sentir antes mesmo de abrir os olhos, já que ele ocupava grande parte do espaço com a sua forma de dormir –, e quando finalmente abro os olhos, percebo que ele realmente já não está ali. O relógio ao lado da sua cama marca às 9:25, perdemos o horário da aula, ou só eu perdi e ele decidiu ir sem mim, o que não acredito tanto.

Após ficar de pé, trajando aquele samba canção emprestado na noite anterior, eu analiso o que tínhamos para fazer por ali, seu quarto com paredes em cor vinho e preto já estava bem organizado, o suficiente para eu não ter que me preocupar com nada além de arrumar a cama e me dirigir até o seu banheiro onde faço as necessidades da manhã e escovo os dentes com a escova que havia deixado ali desde a minha última visita. Depois de lavar o rosto e vestir as roupas do dia anterior – a única peça que eu tinha levado comigo –, finalmente tomo coragem para descer as escadas, mas antes que eu faça isso ouço o som da maçaneta da porta a girar e voz do tio Fred, que me encontra sentado na cama, exibindo a minha cara de sono e o ninho desgrenhado que ainda há em meus cabelos.

— Nicholas? — ele chama, colocando apenas a cabeça para dentro do quarto, e quando seus olhos me encontram ali, ele termina de entrar, deixando a porta aberta. — O Derek saiu, pediu para te avisar assim que você acordasse e eu acabei ouvindo uns barulhos lá de baixo, só passei para avisar. — ouço suas palavras. — E também para dizer que não vou acobertar as faltas no colégio, vocês tinham tempo para ter ido, que seja a última vez que acontece. — tio Fred adverte enquanto eu concordo com a cabeça.

Reparo brevemente na semelhança entre eles dois, os cabelos loiros, que agora estavam quase grisalhos, o olhar em cor mel – enquanto o Derek tinha olhos verdes –, poucas coisas diferenciava um do outro, o exemplo disso é a altura, sendo o tio Fred um pouco mais alto.

— Não vai acontecer outra vez. — reafirmo sobre a falta no colégio, afinal aquilo nem era a minha culpa mesmo. — E não precisa se preocupar, tio. Vou ficar por aqui mesmo até ele chegar. — permaneço a encara-lo.

— Certo. Eu vou precisar sair agora para resolver algumas coisas antes do trabalho, você sabe como a casa funciona, sinta-se livre e caso decida ir para casa, você sabe onde deve esconder a chave, não é? — ele ri quando eu concordo.

— Tenha um bom dia! — falo antes que ele feche a porta.

— Vocês também. E não deixe o Derek se meter em encrenca com essa festa ai, vocês jovens já gostam desse tipo de coisa. — tio Fred grita, já um pouco longe.

Depois do Ritual (romance gay)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora