Capítulo 51 - Chuvisco

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Tantas coisas aconteceram naquele primeiro dia em Afeldhun que precisarei de calma e paciência para me lembrar de tudo e colocar no pergaminho.

Vamos lá. Primeiramente, a noite e Faena deram lugar à manhã e a Lily. Eu demorei um tempo para aceitar que minha irmã e meus amigos tinham ido até ali para me buscar. Veja bem, até mesmo Lena aceitou embarcar em uma jornada perigosa atrás de um elfo magricela que ela mal conhecia, e eu não sabia se me sentia emocionado ou culpado.

De qualquer modo, ao longo daquela manhã, Lyriel foi me explicando como eles haviam seguido a mim e Faena. Ouvi mais de uma vez que "a maldita dokalfar" havia abandonado o irmão em situação extremamente desfavorável. Lily também me falou sobre os mortos-vivos que encontraram, sobre Cecília e Rob da Casa de Pedra, sobre fazendas, estradas e medo. Quando me questionou sobre minha jornada, tentei ser o mais vago possível, pois não queria minha irmã odiando ainda mais a Asynja de Afeldhun.

Lyriel, no entanto, foi ficando mais calma à medida que percebeu que eu realmente estava bem (o que, confesso, era um mistério para ambos). Nós discutimos o fato de Faena e Faedran serem filhos da dokalfar renegada e imaginamos como papai e mamãe receberiam as muitas notícias (já podia imaginar Valenia querendo esganar Fierna e sua rebenta). Aliás, como estariam nossos pais? Eu não quis contar a Lily o que tinha visto antes, perto de Elina e Elwing, mesmo porque os cisnes haviam me dito que Myron estava bem. Guardei o que sabia para mim, e foi nesse momento que Ma Ulna retornou ao quarto.

"Afeldhun já sabe dos Gylfis e de vocês", ela disse, com uma expressão enfastiada. "O conselho dos anciões ainda está reunido, decidindo como e quando vocês serão apresentados ao bando. Também estamos esperando Duncan e Fierna despertarem para confirmar o sucesso da sua cura, pequeno. Mas tudo vai bem com eles, não se preocupe."

"Teremos que ser apresentados?", Lily disparou, cruzando os braços. "Eu queria poder ir embora logo e esquecer de tudo isso." Ma Ulna riu do mau humor de minha irmã, o que só deixou Lily ainda mais irritada. "Infelizmente, haverá a necessidade não só de uma apresentação, mas também de testemunhos sobre o que aconteceu. Além disso, seu irmão não pode viajar agora, filhote de texugo. E nem o contador de histórias de vocês, eu suponho".

Lyriel nem esbravejou com o apelido. A menção a Dufel fez com que ela ficasse em silêncio, então eu pude tomar as rédeas da conversa. "Ma Ulna, falando nisso... preciso ver meus amigos. Você pode nos levar até eles, por favor?".

 Ela torceu o nariz. "Bem, rapaz, antes você precisa se alimentar, não acha? Já tomou água?".

Respondi que sim, Faena havia deixado água e aquelas raízes. Ela infelizmente notou a careta que eu tentei disfarçar. "Argh! Depois de tudo o que você fez, a filha de Afeldhun lhe oferece a pior iguaria já criada pela Deusa? Quanta ingratidão. Muito bem, garoto. Vamos resolver todos esses problemas. Eu só quero que me prometa uma coisa: não vai curar seu amigo agora. Espere até amanhã, pelo menos."

Eu estaquei. Não podia prometer aquilo. Estava me sentindo bem, muito melhor do que havia imaginado. Lily agarrou minha mão; a aura dela cresceu, querendo me proteger. Sorri para minha irmã e tentei argumentar: "vamos ver como ele está, pode ser? Ma Ulna, gostaria de contar com a sua opinião e sua ajuda. Faena me disse que sabe fazer coisas que ultrapassam o poder dos clérigos mais capazes."

A anciã bufou. "Faena gosta de exaltar Afeldhun, isso sim. Bem, você se esquivou da minha proposta me adulando. É mais malicioso do que eu pensava, filhote."

Eu me transformei em um tomate em poucos segundos. Ouvi risadas de Ma Ulna, e Lily resolveu apertar minha bochecha, coisa que fazíamos para espezinhar um ao outro. "Muito bem, chega de judiar de você, filhote. Vamos reuni-lo com seus amigos, acho que não há melhor forma de recuperar as energias. Ninguém lá embaixo vai incomodá-los em minha presença, eu garanto... e temos até uma carona para não cansar as pernas de vocês."

Sombra e Sol (EM HIATO - autora teve bebê)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora