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Naquele café?- Apontei para o lugar onde estivera.
Não!- Disse ele deixando escapar um pequeno sorriso- No estádio, a dez minutos daqui?
Num estádio, bem , decerto que o que se iria passar lá não iria ser um jogo de futebol tal como eu pensara.
Contudo uma pequena parte de mim sentia necessidade de sair e talvez rever a real Melanie, não haveria problema, ninguém me iria conhecer, nem ninguém iria saber do meu passado ou perguntar se a ferida que o meu coração suportava estava melhor, e de certa forma isso acalmaria o turbilhão de emoções que corria na minha alma.
E nos olhos daquele rapaz, eu sentia uma centelha de esperança, ele iria tirar-me dos fundos da minha alma e eu não estava certa se iria gostar.
Oh!- Foi a única coisa que o meu subconsciente deixaram escapar da minha boca , pois tinha a admiração a barrar-me o raciocínio.
-Grande não é?- Disse ele expressando o orgulho que tinha. - Eu sei que provavelmente não é muito boa ideia, e provavelmente a equipa de segurança do estádio não vai gostar muito, mas eu poderia falar com a Gemma e ela levava-te para dentro do estádio, assim não ficarias sozinha dentro do estádio, e duvido que arranjes bilhetes tão tarde, assim poderias ouvir-me e uma fã nunca é demais- Disse ele com as covinhas, que imediatamente me fizeram lembrar a Stephanie numa foto que eu tinha tirado com ela numa festa da faculdade que ela me tinha obrigado a ir e da qual eu saíra vinte minutos depois de ter tirado aquela foto.
-Gemma?- Perguntei, seria a namorada? Só de pensar nisso o meu subconsciente, que nunca é uma boa ajuda, lança um pequeno riso e alerta-me para a desilusão que possivelmente vou apanhar...
-Sim a Gemma, ela é a minha irmã, parece que ficaste fechada em casa durante uns anos hãn?- Ele riu e deu-me outro leve empurrão.
Nesse momento voltei à realidade, deu-me uma dor no peito em forma de sofrimento, e senti os meus olhos a recomeçar a arder. O conhecido ardor que eu sentira à sete meses atrás, o que eu senti quando me queriam tirar daquela casa e remover todas as recordações com uma brusquidão que me obrigaria a abandonar tudo, a abandonar a minha mamã. O ardor que eu sentia quando, todas as manhãs acordava e olhava para a fotografia da minha mãe, e o ardor que eu sentia naquele momento por me terem tocado recordação mais dolorosa que o meu coração era capaz de suportar.
Eu pensei naquele momento deixar o rapaz plantado e sair a correr, pensei nas consequências que podia ter.
Contudo ele parecia precisar de tanta ajuda como a que eu alegava não precisar, ele esforçou-se comigo, e veio falar comigo e talvez, só por essa razão ele merece-se que eu me esforça-se com ele.
Então tomei a decisão mais sensata...
Depois de um breve raciocínio e de ver a insistente criança de à pouco a sair da pastelaria com o croissant na mão e com um ar certamente satisfeito por ter o que provavelmente desejara. Ia dar ao Harry uma resposta à sua afirmação quando ele surpreendentemente diz:
-Era obvio que o pai a ia subornar- Com que então ele também estava atento à pouco...
Não pronunciei nada e mandei-lhe um pequeno sorriso não estando mais interessada no assunto que nos tinha chamado a atenção. Contudo o facto de ele também ser observador agradou-me não achando que aquilo me iria prejudicar, pelo menos naquele dia..
-Não foi assim tanto tempo. -Disse arrependendo-me mal o pronunciara.
- Mas então quanto tempo foi? E porquê?
Nao me sentia à vontade para entrar num talk show com o Harry...

Harry,era estranho saber o nome dele e ainda mais estranho pronuncia-lo, não sabendo a origem de tanto desconforto a pronunciar ou pensar sequer no nome dele decidi não lhe dar resposta olhando para a london eye de novo.

Começaram a chegar turistas com as suas máquinas fotográficas em punho e com um ar curioso e de quem pretende ver e andar em tudo.
A minha mãe gostava de fotografar e eu também embora não o fizesse à algum tempo...

Pensei em faze-lo no dia seguinte, não percebendo a vontade que me dera de o fazer naquele momento, e ia ser ali, na london eye, e como era sexta-feira, o dia seguinte seria o dia ideal para o fazer.

Estava com uma súbita vontade de o fazer e sei que isso vai fazer com que me sinta próxima da minha mãe mesmo não o estando.

-Então? Queres que fale com a Gemma? Ela vai com uma amiga da universidade, vai ser divertido...- Ele disse dando-me outro daqueles amigáveis empurrões.

E talvez ir ao concerto fosse realmente agradável, seria como se eu fosse a Mel, a rapariga que ninguém sabia de nada sobre ela, sempre séria melhor do que Mel a rapariga calada e por vezes ausente da Universidade. E embora a dor se mantivesse eu pensei no que eu era e no que eu já tinha sido. O que fez com que o meu "eu" aceitasse...

-Ok eu vou- disse sorrindo, tentando ainda convencer-me daquilo que eu queria, embora não tivesse bem a certeza se séria o mais correto.

- Ainda bem que aceitas-te! Vais adorar.- Disse ele revelando assim as covinhas perfeitas dele.- Eu vou dar-te número de telemóvel da Gemma, mas por favor não o dês a ninguém. Posso confiar?- Perguntou com uma expressão muito profunda, à qual eu respondi com um aceno de cabeça.- Tens aqui - Disse ele dando-me uma folha e sorrindo - Aponta ai o teu número para depois eu te poder ligar a confirmar e a Gemma poder ligar-te a dar as indicações- Disse ele passando-me o telefone dele para as mãos deixando-me assim nervosa. Fiquei meio confusa com o nervosismo e não sabia se o meu número de telefone acabaria num sete ou num seis, dando uma breve vista aos meus contactos constatei que acabava num quatro castigando-me assim mentalmente por ter dado o meu número novo, erradamente, à Stephanie, a pergunta que eu me fazia todos os dias do porquê de ela não mandar sms ganhou, no momento resposta.

- Harry? Se sabes que vais ter consequências, porque é que me queres levar ao concerto?- perguntei finalmente depois de lhe dar o meu número acompanhado do meu nome.

- Bem eu vou ter de ir. -Disse sorrindo de uma maneira estranha e distraída, até que a expressão dele tornou-se séria.- Pensa Melanie, nem todas as consequências são negativas- disse acabando a frase com um piscar de olho.
Um homem muitíssimo bem constituído (que eu nem reparara que estivera sempre sentado no banco a uns metros de nós) aproximou-se dele sorrindo, ele abandonou o local acompanhado pelo homem, deixando-me, ali sem saber o que estaria para vir...

The Soul*Onde as histórias ganham vida. Descobre agora