PLENO

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PLENO

Falei dos jornais lidos

empilhados, tal história

corroída sem memória,

sem vergonha ou valentia,

embora escancarada.

Falei da pele sobre a pele

qual cor tom sobre tom,

qual falo apontado

no sexo em novelos

sem fios emaranhados.

Falei do riso fácil aos borbotões,

das rixas e rugas

que falharam como lava,

das mãos e seus reflexos,

do corpo e cérebro, por fim.

Não sei se fui ouvido,

e a sensação é que me olhavam

como se gritado houvesse,

como criança arteira

que quebra o prato de doces.

Falei das flores

que desmanchavam das mesas

enquanto o perfume

se entranhava em nós

quadro a quadro.

Falei das horas que transbordavam

do relógio antigo, de pé.

Falei do tempo em que a vida

abraçava cada segundo.

Não sei se fui ouvido,

mas hoje a sensação

é

pura

plenitude.


Palavras e poemasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora