CAPITULO 21- b r e a k my h e a r t

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Entrar naquela casa não era pra ter doído, mas eu senti uma pontada no coração assim que uma empregada abriu a porta. Eu não a conhecia, então presumi que fosse nova.
- Boa tarde, sr. Ian, sua mãe e seu pai estão te esperando na sala de jantar.
- Obrigada.
Eu segurei na mão de Lisa, que estava fria. Ela parecia estar mais nervosa que eu.
- Está tudo bem, Ian...ela colocou sua outra mão sobre a minha. Você vai ficar bem.
Achei graça de sua tentativa de me acalmar quando ela mesma não estava calma. Apenas sorri, a puxando pra dentro. A casa continuava a mesma, com chão de madeira e paredes claras. A grande sala de jantar agora parecia maior ainda, já que a imensa mesa estava composta apenas por meu pai e minha mãe.
- Ian! Sente- se, meu filho. Quem é sua amiga?
- Lisa Wengrov. -  Ela falou.
- Augusto Castelli, prazer, querida.
- O prazer é todo meu.
- Essa é minha esposa, Fe...
- Nós já nos conhecemos. Não é mesmo, Lisa?
Franzi a testa. Lisa e Felicia não se conheciam, o que estava acontecendo?
- Olha quem chegou! - Felicia se levantou, sorrindo e olhando para alguém atras de nós. - Ah, quanto tempo, querida. - Minha mãe passou entre eu e Lisa, nos forçando a virar.
- Agnes. - Foi a única coisa que consegui pronunciar, já que a surpresa tomou conta de mim. Ela parecia tão surpresa quanto eu. Sem falar uma palavra sequer, ela me cumprimentou e logo depois cumprimentou Lisa.
- Bom, já que estamos todos aqui, que tal nos sentarmos? - Minha mãe disse, sorridente.
Puxei a cadeira para Lisa e me sentei ao seu lado, segurando sua mão por baixo da mesa. Ela parecia desconfortável.
- Bom, Lisa... conte-nos sobre você. - Meu pai disse, parecendo realmente interessado. - Vejo que tem um sobrenome famoso.
- Sim - Ela deu um sorriso amarelo.
- Onde você e Ian se conheceram? - Ele perguntou.
- Essa é uma história engraçada... - Lisa disse, sorrindo de verdade pela primeira vez. - Acho que na minha aula de ballet.
- Testando novos esportes, Ian? - Augusto perguntou.
Eu forcei um sorriso.
- Sempre é bom.
- E vocês estão namorando? - Felicia perguntou. - Você não parece o tipo de garota do Ian.
- Ainda não. - Lisa se adiantou.
- "Ainda" não? - Felicia arregalou os olhos - Pensei que eram só amigos.
- Se pensou, por que a pergunta? - Respondi Felicia.
- Ian, meu filho, fale direito com a sua mãe...
- Agnes, meu anjo - Minha mãe começou. - Como vai a sua vida de modelo?
- Está tudo bem, Felicia. Algumas marcas querem me contratar como modelo fixa, mas meu empresário ainda acha melhor ficarmos só na fotografia mesmo.
- Ah! Essas marcas estão sem sorte...perder um rostinho desses é um azar e tanto!
Agnes apenas sorriu, mas eu entendi o que minha mãe estava fazendo. Ela queria irritar Lisa, e estava conseguindo.
- Você tem visitado Amora? - Meu pai perguntou, fazendo com que todos na mesa virassem para mim. Agnes engoliu em seco, minha mãe arregalou os olhos e Lisa tentou me confortar, apertando minha mão.
- Pensei que não falaríamos de Amora hoje. - Agnes sugeriu.
- Ela deve estar presente, é um almoço de família. - Felicia tentou.
- Ela não está presente. E jamais estará, mesmo se Amora acordar vocês não a verão mais.
- Ian... - Lisa falou baixinho.
- Respondendo a sua pergunta, pai, eu a visitei ontem. E o senhor? Qual foi a última vez que viu sua filha?
Ele não respondeu, apenas deu atenção a empregada que agora colocava a mesa.
- Achei lindo você ter apresentado Lisa para Amora. - Minha mãe voltou o assunto. - Lisa parece ter gostado muito dela, até foi visitá-la sem você hoje de manhã.
- Gosto de como Ian me conta sobre Amora, vocês criaram uma menina muito boa.
- Claro que criamos. Criamos todos os nossos filhos muito bem. Eles são apaixonáveis... Agnes sabe muito bem, não sabe, querida? - Felicia estava passando dos limites. - Foi melhor amiga de Amora e namorada de Ian por anos.
- Sim, Felicia, seus filhos são incríveis. - Agnes falou, voltando a comer logo em seguida. Vi minha mãe sorrir e Lisa estremecer. Naquela cadeira, Lisa parecia tão pequena que eu queria tirá-la dali.
- Eu estive no hospital hoje, Ian. Foi assim que conheci sua princesa.
- Você esteve no hospital? - Perguntei a Lisa, que pareceu incomodada em me responder.
- Sim, eu... - Lisa falou, mas foi interrompida pela minha mãe.
- Eles querem que você assine uma papelada para que possam desligar os aparelhos, eles precisam de...
- Como é? Quem te disse que desligarei os aparelhos?
- Ué, eu... eu entendi que você estava aqui para se despedir de sua irmã. Faltam apenas alguns meses, pensei que você gostaria de acabar logo com a dor de Amora.
- Você só pode estar brincando. Não vou desligar aparelho algum, Felicia, e não discutirei esse assunto com você. Se essa for a intenção desse almoço, peço que nos dê licença.
- Não! - Augusto se pronunciou - Felicia não tocará mais nesse assunto e nós vamos seguir com nossa refeição em paz. Todos de acordo?
Fizemos que sim com a cabeça e voltamos a comer. Escondidinho de carne seca sempre foi minha religião.
- Lisa, você está na faculdade? - Meu pai perguntou.
- Sim, eu curso Direito.
- Uau! Os Wengrov terão uma advogada na família.
- Sim.
- Lisa, você pretende especializar em que área? - Agnes perguntou.
- Ainda não sei, mas quero ser advogada ou juíza.
- Ah! Que incrível. Meus parabéns, Direito parece ser um curso bem complicado. Eu não conseguiria. Só de ver tudo aquilo de livro já me dá sono. Sabe quem também faz Direito? Henrique... ele até me pediu seu número mas eu não tinha...
- Obrigada! Os livros não são tão complicados, é só você...
- Ah, Agnes, você é tão boa em tudo que faz...o que é uma simples faculdade de direito perto de tudo que você conquistou? Henrique seria uma boa escolha para Lisa, por que não passa seu número a ele? - Ela se voltou para Lisa.
Ao mesmo tempo que vi Lisa se encolher na cadeira, vi Agnes engolir em seco. Minha mãe conseguiu deixar as duas desconfortáveis em apenas alguns segundos.
- Com licença. - Lisa disse, antes de se levantar.
Eu me levantei, indo atras dela. Lisa ja estava na porta da sala quando, finalmente, a alcancei. Segurando seu braço, a virei pra mim. Ela estava chorando.
- Lisa... Felicia só queria te irritar.
- E você deixou! Ela falou tudo aquilo na sua frente, Ian! Você nem se deu o trabalho de me defender. Talvez estivesse tão encantado com a presença de Agnes que tenha se esquecido da minha.
- O que você...
- Ter vindo aqui foi um erro!
- Eu sei, esse almoço...
- Não, Ian, ter vindo a São Paulo com você foi um erro.
Ela se soltou da minha mão. Eu estava sem reação.
- Volte pra mesa, Ian. Você tem um almoço para terminar.
Ela saiu pela porta da sala e eu apenas fiquei parado. Algo me dizia que aquele momento definiria meu relacionamento com Lisa. E eu estava certo.

                              ****
Quando entrei no táxi, meu corpo todo doía. Não porque a família de Ian tinha me humilhado diversas vezes, mas porque algo me dizia que seria sempre assim. Eu jamais seria o suficiente. Eu jamais seria Agnes.
Sempre. Quem eu pensava que era para sequer utilizar essa palavra em relação a nós dois? Eu soube desde o começo que não haveria um "sempre". Para nós, seria apenas "quando".
O caminho até o hotel foi mais longo do que eu gostaria, mas assim que desci do táxi eu percebi que estava decidida.
- Lisa? Está tudo bem? - Tobias me perguntou.
- Sim, eu... - Eu percebi que precisava de um abraço, mas não pediria isso a ele. Ele pareceu notar.
- Posso? - Perguntou, chegando perto.
Apenas assenti. Ele me abraçou e passou a mão no meu cabelo.
- O que quer que ele tenha feito, Lisa, Ian é um bom garoto, você só precisa lembrá-lo disso.
Eu só conseguia chorar, porque sabia que aquilo não era mentira, mas também sabia que eu e Ian jamais daríamos certo, e fiquei sem entender o porquê daquilo me machucar tanto.
Quando entrei no quarto, tirei os sapatos e procurei pela minha mala. Comecei a jogar tudo dentro, sem muita cerimônia e arrumação. Depois de alguns minutos, ouvi porta abrir e me deparei com um Ian Castelli nervoso.
- O que você está fazendo?
- O que parece que eu estou fazendo?
- Não vá embora, Lisa.
- Me deixa em paz!
Ele fechou a porta atras de si e tentou segurar minha mão, mas eu a soltei rapidamente.
- Não encoste em mim.
- Você visitou Amora?
Franzi a testa. De que aquilo importava?
- Sim.
- E por que não me contou? Eu teria ido com você, não tem problema algum...
- Eu precisava conversar com ela sobre você.
- O que você queria falar sobre mim?
- Não interessa mais, Ian. Me deixe terminar minha mala.
- Eu não quero que você vá embora.
- Não interessa o que você quer! - Eu gritei.
- Claro que não, né Lisa? - Agora estávamos os dois gritando. - Nunca interessou! Você sempre esteve mais atenta a o que você quer! Você machuca as pessoas como se elas não fossem nada só pra depois você se vitimizar e sair ilesa. Quer saber, faça o que você quiser.
Eu percebi que estava chorando descontroladamente.
- Ilesa? Você ouviu as coisas que sua mãe falou? Você ouviu Agnes dizendo que Henrique pediu meu número? Você ouviu aquelas coisas? Como você pode sugerir que estou saindo ilesa de tudo isso?
- Achei que você queria que Henrique tivesse seu número! Minha mãe pode ter passado dos limites, mas eu não pude fazer nada.
- Como não, porra? Você não poderia ter me defendido? Quer saber, Ian? - Eu fechei a mala, já pronta. - Volte para sua família perfeita, volte para Agnes. Você é exatamente como eles. Só reze para que você não sofra um acidente e eles te matem, como fizeram com Amora. Eu nunca mais quero te ver na minha frente. Vai viver, vai viajar, vai se apaixonar, Ian! Só nunca mais procure por mim.
E foi assim que nós acabamos mais rápido que qualquer cigarro que já coloquei na boca. Ver Lisa saindo do quarto do hotel quebrou meu coração em vários pedaços, mas nada doeu tanto quanto eu olhei em seus olhos e eles choravam. Deus, aqueles olhos... eu jamais esqueceria aqueles olhos.

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