DE OLHOS FECHADOS, FONES NO OUVIDO,

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 LUCAS CANTA ALTO "HELLO", DA ADELE.

Tem de se esforçar para a cada refrão dizer "Hello from the other side" e não "Qual é a senha do Wifi", aquela paródia do Whinderson. Ele estragou a música. Quando está totalmente mergulhado no som, sente uma mão no ombro, e dá um salto.

Sua mãe ri. – Desculpa, estava te chamando faz tempo, mas você não escuta com esse troço aí.

– O que foi, mãe? – Lucas pergunta emburrado.

– Eu te trouxe um presente.

A mãe entrega para ele um novo controle do PS3. Por isso ele não esperava.

– Nossa, mãe, valeu... O Natal acabou de passar, achei que...

– Não que você mereça, né? Mas... – A mãe se senta na cama com ele. – Você merece. – Ela dá um beijo na cabeça do filho enquanto ele desembrulha o controle. – Quero te ver feliz.

– Valeu mesmo, mãe. Vou tomar mais cuidado com esse para o Tobias não comer.

– Por favor, que não foi barato.

– Eu sei... Podia ter me avisado, que conheço uns sites que vendem mais em conta.

A mãe faz carinho na nuca dele. – Você entende tudo dessas coisas, né?

– Nah, só o básico. Não sou tão geek não.

– Vi seu vídeo com sua avó –, a mãe comenta como não quer nada.

– Hum, gostou?

– Gostei... achei bonitinho...

– Que bom.

– Fiquei com ciúmes, na verdade...

Lucas levanta a cabeça e olha para a mãe intrigado. Solta um riso. – Kkkk, mãe, até você! Afe, todo vídeo que eu faço alguém fica com ciúmes!

– A gente era tão próximo, Lucas, você era tão carinhoso comigo... Lembra aquela casinha de boneca que você fez pra mim no dia das mães, com tudo o que eu gosto?

– Como eu ia esquecer, mãe? Você deixa aquele troço até hoje na sua cômoda... Já podia ter jogado fora.

–Não quero jogar fora. Quero me lembrar de você assim, carinhoso, sensível...

– Mãe...

– Sei que você tem de crescer, seguir sua própria vida, mas eu queria poder acompanhar, estar sempre ao seu lado.

– Você está do meu lado, mãe. Não é como se eu estivesse saindo de casa...

– Mas vai, né? Eu sei que vai em breve. Em poucos anos você já vai ser maior de idade, terminar o colégio, daí vai querer morar em São Paulo, de repente até fora do Brasil. E vai esquecer da sua velha mãe...

– Ai, mãe, deixa de ser dramática. Nunca vou esquecer de você, nem que eu quisesse...

– Eu só queria ter mais tempo com aquele meu filhinho amoroso, que fez a casinha de bonecas...

– Mãe... você já parou para pensar que um filho hétero jamais teria feito uma coisa daquelas para você?

A mãe olha para ele surpresa. Então cai na risada. – Hahaha, pode ser. É verdade, Lucas. Talvez eu já devesse ter entendido. Não vou dizer que não tinha passado pela minha cabeça, né? Mas você é meu único filho, a gente não tem um manual de como isso funciona, o que as coisas querem dizer...

– Desculpe se fui uma decepção pra você... – Lucas fala meio apelando para o melodrama.

– Para com isso, Lucas, não tem que desculpar. Na verdade... Eu que preciso me desculpar. Acho que não foi legal a forma como tratei sua opção...

– Condição. Eu não optei...

– Isso, sua condição. Tenho vergonha de mim mesma, por cobrar de você questões que são minhas. Eu e seu pai conversamos muito, ele me fez entender muitas coisas, na verdade. A gente aceita você assim... Não, "aceita" não é a palavra. A gente ama você assim. Como você mesmo comentou agora, com a história da casinha de bonecas. Eu sempre amei você, e muito do que eu amo acho que é exatamente por você ser assim como é, sensível, carinhoso, homossexual, inclusive.

Lucas está com os olhos cheios de lágrimas. E não responde para conseguir controlar o choro. A mãe já deixa as lágrimas escorrerem, funga e diz:

– Tenho outro presente para você. Na verdade, não é tanto um presente, só uma boa notícia. Resolvemos aceitar o convite de sua amiga Alex para passar o réveillon. Seu pai acha que pode ser divertido. Nós sabemos que o réveillon só nós três ano passado foi meio deprimente...


LUCAS E ALEX - Amores ConectadosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora