018 - O aspecto prático da coisa

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Nesse momento ela riu de si mesma. Estava sendo absurda. Claro que não tinham trocado o nome dos bairros! Ela mesma tinha feito uso das placas de trânsito a poucos dias atrás quando dirigiu a vã da escola para levar a senhorita LaDonne para casa. Naquela fatídica noite que encontrou Gwen emaranhada em volta do perigoso Justin Hockfiel.

Ela não gostava nem de lembrar.

Aquilo suscitava memórias adjacentes em que ela era a protagonista e a pessoa que se emaranhava a ela não era Justin.

Mas era melhor pensar em outra coisa, ela tinha um ônibus para pegar.

Ou pelo menos tentar pegar.

Cinquenta minutos depois, com a coluna reclamando do peso da mochila, Mary se convenceu de que o ônibus para a casa de Kara não passaria no ponto onde ela estava.

Os motoristas de ônibus agora tinham a dupla função de dirigir e receber o dinheiro dos passageiros, o que para Mary parecia pouco seguro, mas o que contava era que nenhum deles parecia disposto a dar as informações que Mary precisava para conseguir chegar ao seu destino via transporte público.

Quem acabou a ajudando foi um motorista de táxi.

E claro, ele lhe cobrou uma pequena fortuna para levá-la até lá.

Ela pagou com o coração apertado. Mas logo em seguida se lembrou que não deveria ser mesquinha. Não era porque ela deixou de ser uma religiosa que pararia de agir de modo justo, conforme a religião.

Além do mais, ver as portas duplas da entrada da Casa LaDonne era um tremendo alívio. Ela chegou a respirar fundo antes de bater.

Não imaginou que seria atendida logo após o seu primeiro toque a porta. A Senhora Atkins estava rápida no gatilho! Mary cogitou abrir a boca para elogiar, mas mais uma vez a Senhora Atkins foi mais rápida.

– Noviça Mary! Que felicidade! Chegou o milagre que todos estavam esperando! – a idosa exclamou no auge da empolgação.

Mais um pouquinho e ela começaria a dar pulinhos.

– E qual foi o milagre? – Mary perguntou, sentindo a empolgação tomar conta de si também.

– Ora, você! – a Senhora Atkins exclamou animadíssima mais uma vez, por um triz não deu um pulinho. – E da boa notícia que com certeza você trouxe! É o fim da suspensão da senhorita LaDonne? Ela pode voltar para o Colégio em paz? Os patrões estão tão aflitos! Tão humilhados pela situação! Era justamente de uma notícia dessas que eles precisavam. A senhora quer que eu chame eles? Ou prefere falar diretamente com Gwen? Ou melhor ainda, por que eu não chamo Kara? Ela vai adorar vê-la, ainda mais se você conseguir tirar a irmã dela dessa enrascada.

– Ah... – foi só o que Mary conseguiu dizer.

Ela não conseguiria tirar a irmã de Kara dessa situação. Aliás, muito pelo contrário, tinha sido ela quem tinha colocado a pobre Gwen nessa enrascada.

Se Mary não tivesse levado a Madre Superiora até a cabana, nada disso teria acontecido.

Porém aconteceu. E Gwen estava para ser expulsa da instituição.

Se os pais de Gwen estavam se sentindo humilhados agora, nada seria comparado ao momento em que a notícia caísse na boca da sociedade.

As fofocas durariam semanas, talvez meses.

E Mary tinha uma parcela de culpa considerável naquilo.

– Noviça Mary? A senhora está bem? – a empolgação da Senhora Atkins decaiu vertiginosamente, agora ela apertava o braço de Mary em busca de atenção.

– Não – Mary respondeu.

Ela não estava bem mesmo. Estava sofrendo de um forte arrependimento. Não só por ter dedurado a aluna LaDonne e exposto ela a um futuro ridículo, mas também a todo o resto.

Aquela história de deixar de ser noviça e tudo o mais.

– O que você tem? – a Senhora Atkins perguntou. – Está pálida como um sabão de coco.

O que claramente ela não tinha era preparo para o mundo real. Não sabia pegar um ônibus, não tinha iniciativa suficiente pedir informações de como pegar. E pior, tinha pagado toda a generosidade com que a família LaDonne sempre a tratou com falta de lealdade e, consequentemente, não tinha para onde ir.

Ela tinha consciência de quem mesmo ela tendo feito o que ela fez, se pedisse abrigo ali, eles não hesitariam em abrigá-la.

Mas acontece que ela não queria. Não era justo. Ela não tinha sido justa. E o que decorreu daqui não tinha como consertar.

De repente, ela sentiu uma saudade imensa do Colégio. Da simplicidade que era ter como único desafio manter o hábito limpo. Ela estava segura entre os portões dourados do Colégio Santa Tereza. Ela estava acostumada àquela segurança.

Tão acostumada que falou uma desculpa qualquer para a Senhora Atkins, virou as costas e foi embora.

Gastou todo o resto das suas economias pegando um táxi de volta para o colégio. Só conseguiu respirar regularmente quando de fato estava atrás das grades do portão.

Porém, seu desafio ainda não estava terminado.

Ela tinha que convencer a Madre a aceitá-la de volta.

Sabia que não seria fácil.

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Gente, o tanto de comentários de incredulidade que recebi com a volta da noviça! Quero dizer que EU também não tô acreditando! Mas vamos não acreditar juntos? 

Desculpa pelo capítulo mais ou menos curto e sem revisão, mas a) ainda estou me ambientando de volta na história e b) atrasadíssima pra encontrar as migas. Amanhã dou uma revisada aqui pra arrancar os erros grotescos e a gente finge que eles nunca aconteceram. 

Pra quem leu "O mundo dá voltas" sabe que é uma mudança E TANTO do último livro que escrevi pra esse. Então é isso, vai levar um tempinho, mas aos poucos eu vou contando o que aconteceu com esses dois aqui. 

Mas por hoje é só. Estou muito leitorinha, lendo desesperadamente "Mundos Paralelos", que tem os contos dos escritores do Wattpad (inclusive um meu!!!!!!) e tô adorando a experiência. Alguém daqui leu? Bora comentar? 

Aliás, o livro tá com um perfil aqui no Wattpad e tá rolando concurso por lá! É só seguir aqui, ó: MundosParalelosLivro <3 

E é isso. Estrelem, comentem e tudo o que tem direito. A forcinha pra que eu continue essa história continua bem-vinda! 

Beijos estrelados! Agora vou ver as migas/leitoras (me atrasei por uma boa causa, tá?). Tchau!

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