XXXII.✓

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Jessie me encara fixamente, suas mãos estão geladas assim como as minhas. Tenho muita vontade de beijá-la e sentir seu sabor mais uma vez, mas me controlo sabendo que provavelmente se o fizesse levaria um chute nas bolas. E depois em todo resto do corpo. Então me contenho em respirar fundo pela décima vez e começo:

— Eu sei que fui um completo babaca, eu sei disso.

— Que bom que ao menos se da conta — resmunga me fazendo quase sorrir. Quase.

— Eu errei, fui embora sem te dar explicação, como se você não significasse nada, mas não é isso. Você é muito importante para mim, Jessie. — Ela recolhe suas mãos e da dois passos para trás. Desvio o olhar mordendo minha boca por dentro e depois volto a encará-la, meu coração parece que vai pular goela acima a qualquer momento. — Eu tive que fazer isso, sabia que se eu te falasse você daria um jeito de ir comigo.

Seus olhos são raivosos.

— Teve que ir? Teve que ir?! — Pergunta incrédula. — Você é pior do que eu pensei!

— Calma, que merda. — Passo a mão pelo cabelo. Jessie é estourada demais.

— Por que você "teve que ir"? — Seu tom é debochado. Respiro fundo.

— Um dia antes de eu ir — pigarreio sem jeito —, encontrei com o Thereese em uma loja de doces... — Coço a cabeça. — Ele me disse que os desgraçados estavam atrás de mim. — Jessie arregala os olhos. — E se eles me encontrassem iriam encontrar você, a Mirella, o Estevan, o pequeno Aley... — Respiro fundo e abaixo a cabeça. — E você estava estabelecida aqui, estava fazendo sua vida do jeito que deveria ser... Não queria que voltasse a viver da maneira que estávamos antes... Eu não pensei, só fiz! E sinto muito por isso. Me desculpa, Jessie — peço por fim.

— Você é um completo idiota, não é? — Franzo a testa a encarando, ela tem os braços cruzados e os olhos cerrados me encarando. — Acha que vou acreditar nisso, Kendall? Agora vai se fazer de herói?

— Porra, Jessica! Acha que eu iria inventar toda uma história dessa? Só pra você ter pena de mim? Deus! — Me viro passando a mão pelo cabelo pela vigésima vez.

— Eu não sei o que pensar! Nem sei quem você é, Kendall. — Volto a olha-lá.

— Não diz isso, você sabe exatamente quem eu sou. E também sabe que o que eu disse é verdade. Sei que sabe, Jessie.

— Já disse que é Jessica, que porra! — Segura sua cabeça.

— Para de mudar o assunto. — Me olha enfurecida.

— Você é um babaca! Como pode Keel? Como pode?! Eu confiava em você! Você era o único que eu tinha! — Se abraça. — E na primeira oportunidade que teve me deixou naquela merda de apartamento! Nem disse nada! Nada, Ken, nada! — As lágrimas saem por seus olhos e eu sinto um punhal sendo cravado no meu peito.

Deus! O que eu fiz?

— Jessie, me desculpa... Eu... Eu não queria te fazer chorar... — Minha respiração falha e uma dor enorme invade meu peito destroçando tudo. Não era minha intenção fazê-la chorar quando vim pra cá.

Ela abaixa a cabeça ainda se abraçando, agora mais forte, como se protegendo de mim.

— Eu te odeio! Te odeio! Guardei tanta raiva durante esses três anos e nove meses, que você não faz ideia! — Grita me encarando, seus olhinhos azuis estão vermelhos e as lágrimas continuam correndo por seu rosto. — Eu chorei a droga de um dia inteiro! Sem falar nas madrugadas que eu insistia em lembrar por tudo que já passamos e chorava feito um bebê! E agora estou novamente chorando como uma idiota! Eu te odeio, Kendall!  

Indecência✓ - Livro 3 da série Corrompidos. Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt