— Você tá entrando baixo demais, Samuel — disse o mestre. — Quantas vezes preciso repetir? Não é porque seu oponente é mais baixo que seus socos tem que ser fracos.
— Sim, mestre — disse Sam. Ele perdeu a conta de quantas vezes dissera aquilo só hoje.
— Mostre pra ele como se faz, Thiago.
— Sim, mestre — respondeu seu amigo e caminhou até ele.
Sam cerrou os maxilares quando viu o sorriso de deboche nos lábios de Thiago. Ele balançou a cabeça e levantou as mãos, em posição de guarda.
Mas não fez diferença. Mesmo com luvas, Thiago era rápido demais para ele. No momento em que o professor mandou começar, o soco de Thiago virou um borrão, perfurou a defesa com facilidade e acertou o queixo dele. O golpe deixou Sam tonto, mesmo usando o capacete protetor, enquanto ele caia no tatame.
Ainda piscando, demorou um pouco para a sala parar de girar. Quando os olhos voltaram ao normal, Sam tirou as luvas e pegou o braço oferecido pelo amigo.
— Você é forte demais — disse.
— É, eu sei — disse Thiago, levantando-o. — Mas o fato de que você não gosta de bater nos outros ajuda.
— Sinto muito não ser um bruto.
Thiago riu.
— Não faço ideia do porquê você decidiu treinar Muay Thai do nada. Se realmente quer lutar MMA, melhor ficar no Jujutsu. Você é melhor agarrando caras sem camisa, de qualquer forma.
— Não fale de forma que pareça gay. — Sam deu um soco no ombro do amigo. — E você só está falando isso porque é péssimo no negócio.
— Prefiro atingir meus oponentes a ir pro chão com eles — disse Thiago, devolvendo o soco.
Eles enfileiram com o resto dos alunos. Cumprimentaram o professor, agradeceram pela aula e seguiram em direção ao vestiário.
— Ô, Sam. — A voz de Thiago chegou até ele através da partição dividindo os chuveiros. — Você ainda não falou pra sua mãe e pra Mirela que quer lutar profissionalmente, né?
Sam manteve os olhos fechados enquanto lavava o cabelo.
— Eu tento toda vez que começam a falar de faculdade e pá, mas... é complicado dizer.
— Sei como é... Não dá pra imaginar elas te apoiando — disse Thiago. — Falando sério, eu imagino a sua mãe chorando e indo pra igreja rezar pra você não seguir esse caminho.
Sam deu um riso fraco. Imaginara o mesmo.
— E a Mirela vai ficar uma fera.
— Tais ferrado de qualquer jeito. Boa sorte. — Mesmo pela parede de madeira, Sam sabia que o amigo tinha um sorriso no rosto.
— É, valeu pelo apoio. Realmente preciso.
— Sempre a disposição.
— Não sei o que eu faria sem você.
— Provavelmente ia se agarrar com uns caras sem camisa até chão.
Eles terminaram de se trocar e caminhavam para o ponto de ônibus.
— Quer comer onde? — perguntou Sam.
Thiago fechou os olhos e cruzou os braços.
— Sua mãe que cozinha hoje, né? Vamos comer lá na tua casa.
— Você só quer almoço grátis — disse Sam, depois riu.
— Quero mesmo é a comida da tua mãe...

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Sem Glória Para Você
HorrorEle era o escolhido. E deu sua vida para proteger a cidade. Mas não teve glória para ele. Ao invés de herói, ele foi chamado de monstro