CAPÍTULO 5: IMPACTO

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Eu não fiquei completamente apagado. Eu me mantive consciente o tempo todo. Ou pelo menos parcialmente consciente. No mínimo, parecia que eu tinha entrado no mar e agora estava me afogando. Não sabia dizer quanto tempo havia se passado, mas fora o suficiente para me colocarem numa maca e me examinarem.

E então, tão rápido quanto imaginei que fosse acontecer, eu acordei. Abri os olhos e vi um homem que nunca antes tinha visto. Ele era grisalho, tinha uma barriga considerável, como a de alguém que tinha problemas com a bebida, e usava óculos. Seu rosto parecia cansado, como o de minha mãe quando ela estava doida para ir para casa depois de um longo dia de plantão. Os olhos eram castanhos, meio esverdeados, quase da cor do mel sob o sol. Ele levou um susto quando eu o olhei.

– Nossa – ele disse, mais para si do que para mim.

Eu o ignorei por completo. Levantei os dois braços e arranquei todos os fios que estavam grudados no meu corpo. Pulei da maca e senti o chão meio irregular. Isso era fruto do quê? Tontura? Talvez, mas eu não estava com cabeça para ficar averiguando.

– Meu jovem – disse o velho, repentinamente nervoso. – Não pode sair, você não acabou de examinar... Tem de voltar... Seu coração...

Não ouvi o que ele disse. Continuei andando, olhando o quarto azul cheio de equipamentos apenas o suficiente para ter certeza de que Raio não estava ali. Saí do aposento, batendo a porta. No corredor comprido, senti um ar condicionado forte demais contra minha pele. Percebi que ainda estava sem camisa. Uma enfermeira que passava me olhou como se eu fosse a coisa mais estranha que ela tinha visto na vida.

Havia um monte de macas no corredor. Um monte. Médicos por todos os lados, andando sem parar por entre elas. No final do corredor, havia um buraco do tamanho de uma janela, apesar de grande demais para ser uma. Alguém disse o meu nome, bem ao meu lado.

– Seu irresponsável – continuou a voz, aos murmúrios. Girei o rosto e vi Lua Cheia. Ela tinha a expressão de alguém que estava em completa agonia. – Que bom que está consciente, estava ansiosa para gritar com você – ela continuou, falando com pressa.

Antes que eu pudesse responder, ela puxou meu cotovelo, guiando-me pelo corredor. Lua não parou de falar durante um único segundo.

– O médico disse que você bateu muito forte com a cabeça e por isso perdeu os sentidos durante alguns minutos. Seu coração não está bem. Parece que ele, o próprio médico, que é humano, ouviu seus batimentos só de estar perto. Ele fez uns exames rápidos aí, não sei direito. Disse que você tem um problema cardíaco por conta da alta liberação de adrenalina. Algo em relação à agitação e ao estresse, eu acho – ela disse, guiando-me por outro corredor, perpendicular ao que estávamos. – Raio está por aqui, antes que você pergunte. Ao que parece, um clínico geral foi chamar um especialista, porque... Bom... Eles não sabem muito bem o que fazer...

Ela disse a última parte com uma voz tão baixa que foi difícil ouvir. Acreditei que ela não queria que eu ouvisse de fato. Isso seria previsível. Minha garganta estava embolada.

– Temos que ser rápidos – continuou Lua, ainda me puxando. – Não sei se o médico que atendeu você vai vir atrás de nós, mas acredito que sim, porque ele disse que você não está respirando o suficiente para uma pessoa normal. Isso porque o seu coração não está deixando, parece que ele bate tão rápido que sufoca os pulmões, impedindo que o oxigênio entre. Algo com que um humano teria de se preocupar – ela falou a palavra como se sentisse nojo daquilo.

Viramos em mais um corredor. Mais macas. Perguntei-me porque eu tinha sido escolhido para estar em um quarto. Acreditei que fosse uma sala de exames; isso explicava as máquinas esquisitas e ultrapassadas.

Caçadores de TempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora