Capítulo 39 - 1 de agosto (Pedro)

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- Oh! Olá! – apressou-se a cumprimentar, com um sorriso, tirando o seu outro auricular. – Estavas aqui há muito tempo?

Sou um cavalheiro, não admito, não é?

- Não. Foi mesmo agora. Vim agora do Parque do Avião e cortei para aqui – outra mentira. Mas é uma mentira branca. Não faz mal, pois não?

- Que coincidência!

Nem sabia ela o quanto!

- E estás bem? Quero dizer... costumas correr sempre de manhã é? Ou é ocasionalmente?

"A sério que não podias ser mais óbvio, Pedro?", perguntei-me mentalmente.

- Oh, sim. Quero dizer, costumo variar entre a manhã e a tarde, mas gosto mais da manhã. Durante a tarde Leiria torna-se num autêntico forno gigante.

- A quem o dizes – respondi, por entre risos, apoiando-me agora de costas para o castelo e olhando de lado para ela, observando-a. – Que percursos costumas fazer?

Estava claramente a abusar da sorte. Mas olha, não tinha nada a perder.

- Costumo sair de casa e desço, depois, por detrás dos prédios que ficam em cima do McDonalds, sabes? Ao pé da ponte? Depois vou parar atrás do antigo Liceu e vou até ao Parque dos Mortos, sabes onde é, certo?

- Claro! As nossas praxes são quase todas lá.

Ela assentiu. Quase que podia jurar que estava corada, mas rapidamente continuou a falar, voltando a olhar para a vida no centro da cidade.

- Depois passo pelo jardim atrás e venho aqui parar por baixo.

- E eu vim por cima, pelo Parque do Avião.

"Que raio de escolha de palavras Pedro. Sinceramente. Estás a tentar seduzir assim a rapariga?", pensei.

Ela anuiu, sorrindo.

- Queres correr comigo? Não devo correr muito, pelo que depois deixo-te onde quiseres e vou para casa... - disse-lhe sem pensar.

Nem tinha percebido bem as palavras que me tinham saído da boca. Realmente, ao estarmos apaixonados ficamos mais parvos. Mas ela pareceu ponderar, realmente, no que eu dissera:

- Eu também não posso demorar muito mais. Vou depois ter com as Gémeas...

- Isso é um sim? – quis saber.

- Sim!

Quase que pulava de alegria. Só não o fazia porque não era propriamente o momento, mas, por dentro, era o que fazia. Acho que até os meus órgãos tinham mudado de lugar tal era a agitação em que me encontrava. Ia correr com ela!

- Que percurso queres seguir? – perguntou-me.

- Como tens de ir ter com elas depois, deixo-te decidir. Não tenho mais nada para fazer... - menti! Tinha o meu irmão em casa sozinho, mas ela não precisava de saber. E, verdade seja dita, segui-la era muito melhor. E, se dependesse de mim e se ela quisesse, iria segui-la para sempre.

Ela virou-se para mim, desencostando-se do apoio da ponte e sorriu-me. Parecia contente.

- Vamos então correr?

- Bora! Parceira de corrida... - respondi-lhe, entusiasmado e dando-lhe um leve encontrão.

E foi assim! Foi tão mágico.

Corremos! Gostava de te dizer onde, qual o percurso, mas não me lembro. Tudo o que eu via era ela. Ela e as suas conversas. A perguntar o que eu estudava, que idade tinha e, até, se a minha casa ficava longe de onde estávamos.

- Uau! Nem dei conta de que estávamos perto da tua casa. Quero dizer, não estou a fazer confusão, pois não? A minha memória às vezes gosta de pregar partidas, mas esta é a tua casa, não é?? – quis saber, divertida, aproveitando a ocasião para mandar uma mensagem rápida. Possivelmente às suas amigas, dizer que estava quase lá.

- Sim, é mesmo esta! A tua memória está ótima. Moramos relativamente perto – sussurrei, tomando depois coragem para a encarar. – Queres ir correr amanhã?

O meu coração ribombava com a pergunta formulada.

Todas as minhas células pareciam tremer de ansiedade.

- Sim! Acho que pode ser, mas não tenho a certeza ainda...

- Então como poderás dizer-me? – perguntei, receoso de não a conseguir voltar a encontrar esta semana por quaisquer planos que pudesse estar a combinar com as suas amigas. Ou amigos...

Vi-a ponderar na resposta e, claramente, que o fazia.

Ansiava saber o que pensava. Queria perceber o que estava a sentir. O que tinha sentido com o meu convite inusitado. Queria, desesperadamente, saber!

- Se não quiseres, diz... - aventurei-me a dizer. Tinha também de ser compreensivo. Por mais que a minha vontade fosse difícil de domar, teria de compreender.

- E se trocássemos o nosso perfil do Facebook? Eu depois mando-te mensagem por lá!

Um sorriso resplandecente iluminou o meu rosto.

Pelos vistos, a minha cruzada poderia continuar! Poderia conseguir chegar a bom porto. Chegar à sua vida. Ao seu coração!

- Que ótima ideia! – proclamei, estendendo-lhe o meu telemóvel para que ela procurasse o seu perfil no meu e eu fiz o mesmo no dela.

- Então depois digo-te algo, está bem?

Assenti.

Despedimo-nos, cordialmente, e vi-a correr pela rua.

E agora estou aqui a escrever-te isto. Com medo de entrar no banho e perder a sua mensagem. Com medo de estar no telemóvel, ficar sem bateria, e não ver o que me dirá. Com receio de o meu irmão me chatear tanto para estar com ele que não consiga responder a tempo.

Mas vá... não posso estar assim! Ela quis correr comigo. Tenho a certeza de que irá cumprir com o que disse.

Vou relaxar, meu diário.

Até logo,

Pedro

P.S.: Ficas Comigo? (Nova Edição)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora