Flores para os mortos

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EU ESTAVA REALMENTE PERDIDA.
Eu caminhava por este velho cemitério tentando encontrar a saída por cerca de vinte minutos, mas, toda vez que achava estar próxima aos portões de entrada, acabava me embrenhando ainda mais no interior, passando um pequenas alamedas que serpenteavam por todo o local.
Quando mais eu avançava, mais decaído tudo parecia. As estátuas despencadas e as sepulturas mal-cuidadas estavam cobertas por uma camada cinzenta de musgo. A neve se acumulava aos montes sobre os túmulos, embora a alameda principal estivesse, para minha surpresa, livre. Eu estava seriamente tentada a gritar por ajuda, como uma criancinha patética perdida da mãe. Já podia até sentir minhas bochechas esquentando de constrangimento só de imaginar a cena.
E pensar essa confusão começou, na verdade, comigo e minhas boas intenções.
Eu havia me oferecido á minha mãe para sair e comprar alguma comida para a gente, já que ela esta a ocupada na nova casa, desempacotando caixas e adiantando algumas tarefas de seu novo trabalho. Ela havia recebido uma proposta para ocupar um cargo alto, com um salário astronômico e diversos benefícios incríveis, em uma das filiais de uma famoso firma de advocacia, o que resultou em uma mudança às pressas para uma cidadezinha chamada Esperanza, apenas algumas semanas antes do Natal. Foi tudo tão repentino, mas a proposta era tão boa que minha mãe não teve como recusar.
Sempre lutamos para manter nossas finanças em dia, e agora finalmente não precisaríamos nos preocupar com o assunto. Minha mãe estava radiante com essa reviravolta tão surpreendente em sua careira e, se ela estava feliz, eu também estava.
Mesmo que isso significasse deixar minha escola e me matriculas em um lugar novo só para poder terminar meu ultimo ano e me formar.
Além da escola, tive que abandonar todos os meus amigos, mas, de alguma forma, isso não me aborreceu muito. Na verdade, fez com que eu percebesse que eu nem era assim tão próxima a ninguém e eu espe- nava poder fazer novos amigos neste novo lugar.
Então deixei minha mãe em seu escritório em casa, enterrada atrás uma pilha de pastas, e, assim que coloquei os pés para fora, dei de cara com uma senhora que mais parecia uma louca com o seu cabelo roxo e óculos de lentes grossas, que pediu minha ajuda para carregar um imenso vaso de plantas que ela dizia ter comprado para o marido. Claro que eu tinha que ajudar. Minha mãe me ensinou a sempre respeitar os mais velhos aquela senhora era realmente velha! Que mal haveria em lhe dar uma mãozinha?
Eu me arrependi da minha boa vontade assim que ela me passou o vaso. Era gigante! E muito, muito pesada Não havia andado nem meio quarteirão e minhas costas já estavam me matando. Também ura espalhada por todo o meu rosto e no meu suéter.
A velhinha, que se chamava Dona Violeta, tagarelou dur caminho, me fazendo todo o tipo de pergunta inconvenien onde eu era, se tinha namorado, qual era o meu nome.. perguntar o meu nome era até algo bem razoável, mas o re sava do mais puro intrometimento.
Quer dizer, por que cargas d'água ela precisava saber do meu status de relacionamento? E dai se eu nao tinha namorado? Isso não era da conta dela! De qualquer forma, eu não costumava sai com muitos me ninos na minha outra cidade. Nunca consegui perceber o que havia de tão incrível em namorar. Namorado costumavam ser tão irritantesa mandoes, sempre me dizendo o que faze ou que eu deveria agir mais como menina Eu não precisava de ninguém me dizendo o que fazer, co mo me comportar ou que eu deveria usar vestidos em vez de jeans lagos. Eu não precisava de namorado do meu lado para me sentir bem, muito obrigada.
Esse assunto de namoro já tinha me deixado de mau humor, mas ainda assim me esforcei ao maximo para ser educada enquanto suportava o diálogo que sempre se seguia quando eu dizia o meu nome para um estranho. Com Dona Violeta, apesar do cabelo roxo. nao foi diferente.
- Você disse que o seu nome e Joe?- ela perguntou, franzindo o cenho por detrás de seus oculos grandes.
Sem pensar duas vezes eu apostaria todo o novo e polpudo salário da minha mãe em qual seria a próxima pergunta. Faça chuva ou faça sol, a fala que se seguia após eu dizer meu nome era uma certeza minha vida.
- Mas Joe e nome de garoto.
SEMPRE, SEM EXCEÇÃO.
Como de praxe, apenas suspirei alto e bom som em resposta. Como se eu não soubesse que Joe e nome de homem. As pessoas po deriam pelo menos ser mais criativas e dizer algo além dessa conclusão genial.
Mas até preciso dar um crédito para Dona Violeta. Ela pelo menos tentou esconder a surpresa.
- Bem, acho que não há nada de errado, os jovens de hoje gostam de tudo quanto é tipo de esquisitice: meninos de brinco, meninas com tatuagens. Uma garota com nome de homem não erão ruim assim - Ela disse após ruminar um pouco a respeito da estranheza do meu nome.
E, então, enfim chegamos ao nosso destino, onde o marido de Dona Violeta parecia esperar pelas flores. Fiquei tão chocada que não consegui sair com nenhuma resposta engraçadinha. Dona Violeta havia me levado para o velho cemitério de Esperanza,até a sepultura do marido, onde me pediu que colocasse o vaso ao lado da lapide. Eu me senti tão culpada por ter reclamado do vaso pesado e da terra que mais que depressa me desculpei e pedi licença para que a senhorinha tivesse privacidade para "Conversar com o marido".
Aquele era um daqueles dias frios, mas gostosos, de dezembro e decidi dar uma volta pelo cemitério. O sol pálido chegou até mesmo a sair de trás das nuvens cinzentas e a neve havia parado de cair no início da manhã. Era como se o inverno tivesse me dado um descanso naquele dia permitindo que eu desfrutasse daquela pequena caminhada em um clima quase agradável.
Bem, pelo menos FOI agradável até o momento em que me perdi. E lá estava eu, andando sem destino em um velho cemitério, tentando encontrar o caminho que me levasse de volta à Dona Violeta ou, melhor ainda até a saída. Uma brisa suave soprou em meu rosto e o ar carregava um cheiro suave de cravos, apesar de não ter nenhuma flor por ali.
E foi então que eu o vi.

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⏰ Last updated: Jan 24, 2017 ⏰

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