Caçadores de Tempestade

CAPÍTULO 4: CORRIDA

Raio começou a berrar feito um maluco, querendo entender como uma pedra poderia ter ultrapassado o portal. Ninguém estava menos desesperado, mas ele era o único a verbalizar isso. Lâmpa simplesmente respondeu que, por conta dos feitiços combinados, uma travessia era possível, uma vez que o rubi muito provavelmente havia passado dos trezentos quilômetros por hora e ido longe o bastante para romper a barreira.

Foi aí que tive a brilhante ideia de sugerir deixarmos a pedra lá, já que o governo não iria tão longe por causa de um simples acréscimo de poder; e se fosse, muito dificilmente conseguiria encontrar aquela coisa minúscula. Mas Raio nem me deixou terminar de falar sobre isso, porque começou a desenrolar uma longa lista de observações malcriadas. Primeiramente, claro, ele chamou atenção para fato de que deveríamos considerar o enorme poder que havia lá; depois, evidentemente, gritou a respeito do perigo de simplesmente ignorar a pedra, já que, ainda segundo meu irmão, o governo com certeza iria atrás dela, uma vez que existia sensor de ultrapasses de portal; e por último, embora não menos importante, Raio observou que a magia poderia escorrer em cima de algum humano, transformando-o em feiticeiro, causando rebuliço e o consequente descobrimento do nosso lado.

Um bando de babaquice. Para começar, passar pelo portal não era lá a coisa mais segura do mundo. Era tão perigoso quanto neutralizar uma pedra de poder. Ainda mais quando se estava fraco como eu sabia que eu e Raio estávamos. Portais de mundos eram altamente perigosos: descarregavam energia constantemente. Levando-se em consideração que a passagem costumava durar uns dez segundos, não era lá algo muito recomendável.

Nenhum dos outros estava exatamente inclinado a concordar comigo e simplesmente ignorar a pedra. A única que não estava tão animada quanto eu era Lua, embora fosse apenas porque ela não gostava da ideia de portais em seu corpo mágico. Tinha uma fobia doentia com a possibilidade de perder os poderes, mesmo sabendo que isso era irracional; o máximo que poderia acontecer com a magia intrínseca dela era desgastar, distorcer, como se ela já tivesse trinta anos de uso, mas desaparecer? Era uma ideia idiota e todos sabiam disso, inclusive ela. Lua Cheia até perguntou se nós não pegaríamos a próxima pedra, tentando claramente substituir aquela última esmeralda que viria pelo rubi. Raio apenas respondeu que, se nós ainda estivéssemos no lado mágico quando a pedra caísse, claro, nós a pegaríamos, mas se não, sinto muito "o rubi está com a nossa marca, é mil vezes mais importante". O que para mim era sinônimo de: o rubi tem mais poder, portanto, merece nossa atenção. Blá, blá, blá. Babaquice, foi o que eu disse.

No final, no entanto, Lua acabou por concordar com a missão, para o meu horror e para a felicidade grupal. Tudo muito lindo, todo mundo concordando com a ideia suicida de Raio, ninguém levando em consideração que Madrugada ia nos seguir.

– Trovão, estou falando com você, preste atenção no plano! – gritou Raio, com uma voz irritada.

Sua voz me fez lembrar mais uma vez de que ele havia mirado em mim, e eu não ia esquecer tão cedo. Pior: eu nem tinha a intenção de esquecer.

Nós ainda estávamos no mesmo lugar e agora Raio estava decidindo como seria a divisão das nuvens. Provavelmente ele ia mandar três de nós juntos e os outros dois separados, para despistar Madrugada. Acreditei que meu irmão fosse comandar uma das nuvens, já que ele corria feito um maluco, e da outra Lâmpa seria encarregado. Ninguém iria combinar nuvens, porque isso seria perigoso, como eu e Lua sabíamos tão bem. Só íamos transportar mais de uma única pessoa nas massas coloridas, o que não afetava o peso de poder.

Eu sinceramente achava que era um péssimo plano, mas não ia verbalizar. Passar pelo portal sobre uma nuvem poderia nos expor do outro lado, mas ninguém estava exatamente se importando com isso. E eu não ia comentar esse fato.