Cap. 7

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Estava com o rosto sério, com medo. Eu não queria continuar esse caminho. Não estava entendendo mais nada do que se passava. Eu fiquei quieta, congelada no chão. Enquanto o homem colocava a mão em meu ombro.

- Venha, vamos. Você tem que ir até seu pai, ele quer falar com você.

- Mas você notou que estamos no...no..

- No submundo?

        Ele riu de mim, e apenas me puxou caminho a diante. Me parece que ele não entendeu que eu tinha medo do que podia acontecer e que eu apenas estava me fazendo de mal entendia. Mas na verdade quem não entendia era ele. Estou no meio do submundo. Um calor escaldante, pessoas gritando por misericórdia, e vários sei la o que as empurrando para diversas torturas diferentes, e cada vez mais pesadas. Era triste. Angustiante. A angústia, o medo, a dor, o sofrimento, tudo parecia te consumir por dentro e por fora. Especialmente as almas de adolescentes. Elas olhavam para você, como se tivessem alguma esperança, mesmo com tudo aquilo. São todos que se suicidaram quando estavam nos limites extremos de seus pensamentos. Não mediram as consequências de seus atos. E agora, simplesmente estava nisso. Certo.

      Respirei fundo ao adentrar num tipo de castelo ou seja lá o que for aquilo, só sei que era enorme. Haviam castiçais com velas, coisas bem complexas. Era tudo em tom negro, intenso. E o mais estranho de tudo era a quantidade de crânios espalhadas por uma mesa, como se fosse arroz.

{...}

      Entrei lentamente junto ao homem na pequena porta, indo em direção a uma maior ainda. Era como se ela fosse três vezes maior. Era majestosa. Gostei daquilo. Um sorriso se formou em meus lábios aos poucos, mas logo morreu. Havia um coelho. Mas foi jogado a um tipo de cão. Realmente. Inferno.

     As portas foram abertas, e, diante de mim apareceu um trono com sete cadeiras menores ao lado. Nela estavam sentados sete garotos jovens, e na do meio, um homem com mais ou menos uns 30 ou 25 anos, sei lá. Eu o olhava temerosa, e não tinha coragem de dar nem mais um paço se quer. Então fiquei congelada, a cerca de 12 metros de distância daquele ser. Mesmo assim, ele se levantou com os outros homens, e começou a me rodear, me fazendo me encolher toda. O filho da mãe que havia me trazido, fora embora. Eu estava sozinha com aqueles seres. Meus olhos arregalados, eles me analisando como se fosse um pedaço de carne.

- Vocês estão de acordo em aceitar ela na família?

- Ela me parece fraca de mais papai.

- E magra.

- Boazinha.

- Desnutrida.

- Mentalmente desfavorecida.

Cada um me falava uma coisa diferente, e eu apenas estava quieta. Até que um deles virou e deu um sorriso malicioso.

- E com certeza deve ser virgem, sintam esse cheiro. - Todos desabaram no riso, menos o homem mais velho.

- Escutem vocês, eu não sei que porra está acontecendo, mas creio que minha vida não lhes interessa. Agora posso voltar pra casa? Eu não quero estar na presença de um bando de broxas que se acham os reis, só porque devem ser os príncipes do inferno. — Falei em alto e bom tom, e acabei virando de costas e começando a sair de lá. Mas simplesmente um deles pareceu diante de mim e segurou- me pelo braço fortemente.

- Olha...estávamos errados. Ela nos desafiou, mesmo achando que era humana.

- Mas eu sou humana, não sou uma aberração como vocês.

- Você é sim. - O mais velho começou, se aproximando com um sorriso cretino. - Você também é minha filha, ou seja... É a sétima princesa do inferno. Você ainda não está definida para uma das coisas ruins. Mas pode deixar, que papai conse-

- Escuta aqui. - O interrompi arqueando as sobrancelhas. - Vocês tem que parar de usar drogas. Eu não sou filha de ninguém. Simplesmente sou filha de uma mulher calma... E tals. Não tenho parentesco com o diabo. Minha prima que é freira e olhe la. Agora posso ir embora? Eu estou dolorida por causa do que me aconteceu. E faça me o favor de me chamar quando acontecer algo de verdade.

Me soltei do garoto de uma vez, e sai caminhando como se nada me importasse. E eles deixaram. O único porém que tinha nessa história, era que, eu não sabia como sair dali.
Simples.
Mas agora que fiz aquele escândalo, eu teria de sair de um jeito ou de outro. Meus olhos ja estavam cansados, e para mim, isso não passava de mais um sonho. Não mesmo. O mais engraçado é que eu me sentia mais mal, a medida que saia do castelo. Ate que finalmente, no último degrau eu desmaiei.
Foi um apagão rapido, como um flash de luz de um raio. E meu corpo foi ao chão, a tempo de eu sentir a dor do impacto. Merda. O que seria de mim agora? Novamente entregue a isso. Eu estava sem reação. E pelo jeito, permaneceria assim por mais um bom tempo.

{...}

Acordei de sobressalto dentro do quarto da casa de minha prima, o que foi um alívio. Aquilo não passou de um pesadelo novamente. Tudo causado por minha própria mente perturbada pelo acidente que sofri. Certeza. Eu precisava visitar um neurologista rapidinho, antes que acabasse morrendo por causa dessas merdas.

     Balancei a cabeça em completa negação, e peguei minhas muletas, as apoiando bem no chão. Me levantei da cama bocejando e com várias dores diferentes, e logo ja estava caminhando na direção da escada.

    Meu sorriso não poderia ser de fato, maior do que nunca. Por estar dolorida? Não. Por estar sozinha em casa, e sem ouvir todas aquelas baboseiras. Eu estava começando a pensar, que até o submundo era mais agradável, mas parei na segunda vez. Credo, aquelas visões que eu tive, não desejo a ninguém. Nem a meus piores inimigos. Era algo bem bizonho e medonho.
A noite ia caindo aos poucos, mesmo ainda sendo seis da tarde, ja escurecia muito mais fácil do que eu imaginava. Mesmo assim, não me sentia ameaçada. Eu ia passar até as dez sozinha, nada poderia dar errado em 4 horas. Tirando o fato de eu trancar a casa toda, e logo depois acabar dormindo na sala. Isso seria trágico. Mas eu ia resistir ao trágico.
Ri internamente, pegando o telefone, e pedi pizza, esfirra doce e suco natural porque estou de regime. Claro. E acabei me deitando no sofá, sorrindo como boba, peguei o controle, e coloquei em qualquer canal melhor que tivesse. É, parece que passar a noite não vai ser tao ruim. Só parece mesmo. Não deu cinco segundos e ja tinha alguém batendo na porta. Puta merda. Eu me levantei xingando até as paredes de filhas da mãe, e me apoiei nas muletas suspirando fundo. Ao abrir a porta, algo me paralisou.

Era o homem que estava em meu sonho/pesadelo.

- Achou que era um sonho, bebê? Pois então. Vim pessoalmente até você.

LuxúriaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora