"CADA UM TEM UM MOTIVO DIFERENTE PARA TER ORGULHO.

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"CADA UM TEM UM MOTIVO DIFERENTE PARA TER ORGULHO. SE NÃO FOSSE DIFERENTE, NÃO SERIA MOTIVO."

Diz o coordenador na frente da sala de aula. Lucas mantém os olhos fixos nele, esperando um olhar de reconhecimento, mas o coordenador passa rapidamente por ele, pairando sobre a turma, deixando claro que a mensagem é para todos. Lucas mantém o olhar fixo mesmo assim, porque se não ancorar no coordenador migrará imediatamente para Nicolas, numa carteira pouco a frente, com uma nuca exposta que Lucas imagina estar tão arrepiada quanto sua própria. E se fugir da nuca de Nicolas, certamente encontrará olhares de colegas por todos os lados, todos sabendo que o discurso se refere a ele. Nunca pensou que seus desejos mais íntimos se tornariam uma questão discutida em classe.

Não deveria ser. Sua homossexualidade só diz respeito a ele... Ou ao menino de quem ele gosta. Mas muito antes de ele ter consciência, já era um problema, já era chamado de viadinho e provocado pelos colegas da classe. O que eles tinham com isso? Por que incomoda tanto algo que ele mesmo nunca pediu para ser, demorou para ter certeza de que era e, mesmo assim, nunca chegou a concretizar? Nem se pode dizer que é pecado, se é essa a questão. Ele nunca fez nada. Foi só um beijo, mal foi um beijo, só um selinho...

– Me admira que vocês, tão jovens, que se acham tão modernos, tão descolados, ainda tenham ideias tão conservadoras quanto às orientações de seus colegas –, o coordenador Moisés continua. – Me admira que aqueles que se acham tão machões se incomodam com os que não são. Será que isso é prova de macheza? Será que vocês não têm maneiras mais nobres de provarem sua masculinidade?

Os meninos que começaram a ouvir o discurso com risinhos e cochichos agora estão quietos. Ainda assim, Lucas ainda sente olhares nele. Que se dane. Lucas não precisa mais mentir para ninguém, muito menos para si menos. Já ouviu todo tipo de provocação, até já apanhou; ele duvida que o discurso do coordenador mude algo, mas pior as coisas não podem ficar.

– Então se alguém tem dúvida sobre a posição da escola, nossa posição é de respeito e aceitação a todos, sem discriminação e julgamento. Estamos aqui para aprendermos juntos.

Puxadas pela professora de biologia que ouvia atentamente ao lado do coordenador, foram ouvidas algumas palmas, principalmente das meninas mais puxa-saco e de um ou outro menino que aplaudiu só de gozação. O coordenador saiu da sala e a aula prosseguiu, mas Lucas não conseguia mais prestar atenção em nada. Como alguém pode se interessar pelo complexo de golgi com tantas crises mais complexas acontecendo na sua própria vida? Lucas queria sair dali e pensar em tantas outras questões mais imediatas...

Sentiu uma mão em seu ombro. Laís, sua amiga que se sentava logo atrás se debruçou e cochichou em seu ouvido – Não se incomoda, não. Esse sermão não tem nada a ver com você, tem a ver com a idiotice dos outros, pensa nisso.

É. Até pouco tempo Lucas só encontraria refúgio mesmo em casa, no seu quarto. Só podia contar consigo mesmo e conversar com um ou outro amigo distante, pela internet. Agora talvez as coisas estivessem um pouco melhores, ele pensava. Ele tinha uma amiga na classe, que levava numa boa sua homossexualidade. Ele tinha a coordenação do seu lado. E o menino que ele mais amava no mundo estava logo à frente... de costas para ele.

ly'

LUCAS E ALEX - Amores ConectadosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora