Pré Produção

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Twitter: ISBB5H


Primeira tomada: "Quando eu crescer, ainda quero ser um diretor." (Steven Spielberg)

E assim disse um famoso cineasta, lembrando-me do desejo mais infantil e ainda hoje, dois anos após a minha formatura, tão atual. A direção cinematográfica fora sempre a minha paixão. Quando pequena sentava-me ao sofá nas manhãs de sábado para assistir a interminável sequência de filmes dispostos na grande prateleira da sala, e de lá somente saía aos domingos. Minhas babás nunca se importaram. "Eu não dava trabalho", diziam aos meus pais. Não, eu não dava. Era quieta demais, introspectiva demais. Saltava do sofá para dentro da tela, para o colo dos personagens, para o berço de todas as histórias e ali dentro eu me encontrava.

Não fora de toda uma grande surpresa para qualquer respectivo conhecido quando me graduei na arte da direção, mas fora para mim, ao descobrir que minha aparentemente deturpada perspectiva do mundo, fazia-se bela se reproduzida atrás de meia dúzia de lentes.

Uma bela parceria no ano em que me formei rendeu-me bons frutos. Meu primeiro trabalho tornou-se grande. Popular entre as bocas do cinema independente, premiado nos pequenos festivais. E assim me tornei conhecida. Requisitada pelos grandes pescadores, que me fisgaram dentro de um tanque pequeno. Dois anos depois, duas produções, e com esse currículo decidi-me por me aventurar de cabeça e coração em minha terceira façanha. O terceiro filme, mas este uma escandalosa, gigantesca e deslumbrante aventura hollywoodiana.

Demorei a me acostumar. Trabalhar na "indústria independente" nos livrava, a mim e a minha equipe, de qualquer interferência dos grandes estúdios. Oh, talvez eu deva tornar claro... Minha equipe compunha-se de minha assistente pessoal Ally e minha diretora de fotografia, Dinah Jane. Com elas discuti as incoerências das exigências do estúdio de produção. Queriam um elenco estrelado. Nada mais justo, certo? Um elenco estrelado para um filme que esperam ser premiado. Errado. Receitas fáceis não eram a minha praia, e após uma infinidade de reuniões, discussões e ameaças de quebra de contrato, convenci-os a um passo de fé, em mim. Todo o elenco seria estrelado, prometi, com a exceção do papel da protagonista. Para meu alívio e satisfação, esse eu poderia escolher sem antes precisar considerar o peso público que carregam alguns nomes.

Começamos em uma manhã de outubro. A primeira manhã de outubro para ser mais exata. Os papéis secundários já haviam sido selecionados, mas para o completo desespero dos produtores, a protagonista ainda não. Era o meu jeito único interferindo com o cronograma mais uma vez... Mas eu precisava. Eu simplesmente precisava do lugar perfeito para escolhê-la. – Simon ligou. – Ally corria. Suas pernas mais curtas do que as minhas dificultavam sua tola tentativa de me acompanhar através saguão do hotel. – É a sétima vez. A sétima, Lauren. – Enquanto andávamos percebi os itens que a assistente carregava consigo. Nas costas a grande mochila vermelha, recipiente sagrado que guardava toda a minha vida. No corpo uma capa de chuva transparente. Em suas mãos minha agenda e celular. Em seu antebraço a minha própria capa de chuva. Debaixo do outro braço o guarda chuva. – Você precisa atendê-lo. O homem está desesperado. – Ri diante da aflição da mulher. – Oh, droga! – Ela engasgou ao me observar sair do hotel e caminhar em direção a rua sem me importar com a chuva grossa e de gotas pesadas. O guarda chuva foi aberto em seguida, mantendo-me seca e segura. – Use isso, use essa maldita capa!

Parei de me mover imediatamente, muito tocada pela atenção e pelo cuidado da mulher. Tomei aquele ridículo traje de plástico em minhas mãos e lhe sorri agradecida. – Ally, o que seria de mim sem você?

– Estaria fodida nas mãos de um inexperiente assistente qualquer, alguém que jamais seria capaz de compreender suas esquisitices. E é bom que reconheça isso. – Recomecei a caminhada. – Lauren espere. E quanto à Simon?

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