9 - Ego

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É engraçado como a vida te destrói exatamente daquele jeito que você nunca imaginou.

Clientes irritantes, problemas familias, concorrência... vários elementos que poderiam se desenvolver em contendas sérias para mim, mas que, por acaso, sorte ou interferência sobrenatural, nunca o tinham feito.

Já misturar negócios com prazer era o tipo de batida clichê que eu nunca me imaginei bebendo.

Mas quanto mais eu penso sobre o desastre que se tornou o controle que eu tinha sobre minha vida, mas eu chego a uma conclusão inconfundível: nada faria mais sentido.

A vida precisa ser a puta imprevísivel que te fode por um buraco que você não sabia que tinha. Até porque os buracos que você conhece estão todos bem policiados... como ela poderia te foder por ali?

Clientes irritantes, problemas familiares, concorrência... eu estava de olho em tudo isso. A vida até tentou me foder por aí, em alguns momentos, mas precisou lidar com a frustração do tesão que tinha em me arrombar. Eu estava preparada. Estava no controle.

Mas me envolver com um cliente?

Eu era o motorista que achava que sabia dirigir bem demais. Exatamente como Stow tinha dito.

Fechei os olhos, acelerei e derrapei, entregando de bandeja um orifício novinho pra que a vida me fodesse.

E não era apenas a parte do "me envolver emocionalmente com um cliente" o que me destruía. Era o joguinho.

Eu detestava aquela merda.

Já tinha terminado com uns três caras diferentes por causa desse tipo de coisa.

Eles começavam a tentar me fazer ciúmes e manipulações, na maior parte das vezes para me convencer a lutar por eles e abandonar a profissão, apenas para me descobrir entediada e pouco solícita. Eu lhes dava um pé na bunda e um desejo de boa sorte em suas empreitadas futuras, porque, comigo, não ia rolar.

Mas Matzen era um mamífero de uma categoria diferente.

Talvez sempre tenha sido, ou talvez tenha se transmutado no instante que nossa interpretação de papeis começou e eu me permiti receber uma atenção e carinho que ele dedicaria a mim apenas se fosse sua.

E eu quis ser dele.

Eu.

Que nunca quis ser de homem nenhum, mas queria-os todos para mim...

"Querer pertencer" era novidade no meu dicionário. Expressão com uma definição que eu desconhecia e esse... esse era o buraco que a vida tinha encontrado pra me foder.

Vida, sua puta, parabéns. Você se esforça.

O barulho do lado de fora da minha porta foi alto como se alguém estivesse colocando o corredor inteiro abaixo ou, no mínimo, estivesse dedicado na tarefa de fazê-lo.

Investiguei pelo olho mágico antes de abrir a porta, aflita.

- David?

Stavo o trazia pelo braço e quando eu digo "trazia" é exatamente isso que quero dizer.

Cego de bebida - e eu temia até imaginar de mais o quê - tropeçando pelos corredores, confiando seu equilíbrio a um Stavo que não parecia menos embriagado, mas, ao contrário do meu amigo, parecia suportar a ebriedade sem perder o controle básico das funções cognitivas.

David tinha um cheiro que eu conhecia bem.

Era tequila, sexo e, em breve, arrependimento.

- O que você fez com ele?

[Degustação] MalíciaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora