Capítulo 01: Depois da Guerra

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Rá cumprimentou sua velha serva e amiga pessoal Bast com um abraço. Ela parecia exausta, mas ao mesmo tempo, feliz e aliviada. Combater um inimigo por toda eternidade não era algo bom de se fazer, nem mesmo para uma deusa.

– Precisamos ir atrás dele! – Ela falou. – Não podemos deixar que ele escape.

– Escape? – Rá estranhou. – Nós, deuses, não temos poder para sair do Duat. Nem mesmo ele.

– Antes de ele desaparecer, eu consegui ouvir através da porta a conversa de Apófis com aquele homem estranho. – Bast estava bem desesperada. – Ele deu a Apófis sangue de anjo. Ele tem a chave para sair daqui, e nós não podemos permitir!

Rá ficou pensativo por vários momentos, tentando descobrir o que Apófis faria a seguir. Ele teve um momento de clareza, pois lembrou-se de algo que fizera a Apófis pouco antes de prendê-lo atrás daquela porta. O deus-sol, há muitos e muitos anos, tirou de Apófis sua sombra; seu . Portanto, o deus do caos estava incompleto e era isso que ele queria; tornar-se completo outra vez.

– Ele está indo recuperar sua sombra. – Rá concluiu em voz alta, para ver se Bast concordava com ele.

– Tem razão. Sem ela, Apófis não tem seu pleno poder. Vamos!

Os dois deuses assumiram suas formas animalescas, o que os tornava mais rápidos. Eles correram pela areia até que cruzaram com o barco do sol de Rá, fazendo sua jornada pelo rio do dia. Rá pousou no barco, Bast não teve outra escolha senão acompanhá-lo. Já na forma humana, ela questionou o motivo de eles terem entrado ali.

– Está na hora de botar esse velho barco para um bom uso. – Ele retrucou.

Rá começou a fazer diversos feitiços na embarcação. Hieróglifos brilharam em todos os lados. Bast entendeu o que ele estava tentando fazer, por isso se segurou firme em uma das bordas. O deus-sol sorriu quando o barco saiu da água, flutuando, navegando pelo ar. Ela percebeu que a parte de baixo do navio emitia um brilho que iluminava vários quilômetros; quanto mais alto ele ia, mais longe sua luz ia.

O velho barco que um dia comandara o sol, não mais estava conectado ao astro rei que ilumina a Terra, por isso, estava na hora de os deuses egípcios aceitarem que a glória de seu país não existia mais; estava na hora de aquele barco tornar-se o sol do Duat; fazê-lo dizer quando é dia e quando é noite. Rá, fazendo aquele feitiço, estava aceitando de uma vez por todas que os egípcios nunca mais voltariam para Terra. Pelo menos, não para dominá-la como um dia fizeram.

Em poucos minutos, o Mar de Escaravelhos se estendia sob eles. A luz que o barco-sol emitia era tão forte, que muitos daqueles insetos ficaram cegos. Rá virou uma águia e Bast virou um gato; o deus-sol pegou-a gentilmente entre suas garras e a levou até o obelisco que prendia a sombra de Apófis.

O deus do caos havia criado uma pequena ilha entre os escaravelhos, para que pudesse fazer seus rituais demoníacos para tentar libertar o resto do seu ser. Era um processo extremamente complicado, mas não impossível; Rá, contudo, era o único capaz de fazê-lo da maneira correta. Se Apófis conseguisse o que queria, ele precisaria quebrar o feitiço de uma maneira profana.

Ele notou a aproximação dos inimigos, por isso disse algumas palavras, fazendo com que hieróglifos vermelhos piscassem uma única vez ao surgirem nas costas de uma quantidade imensa de escaravelhos ao redor do obelisco. Com movimentos de mãos, ele lançou espécies de colunas para o alto, tentando derrubar a dupla de deuses da ordem. Rá fez manobras certeiras para desviar; eles conseguiram ficar exatamente em cima de Apófis, que lançou ainda mais escaravelhos.

Rá soltou a deusa, que no ar assumiu sua forma humana. Ela tinha duas khopeshs um pouco menores do que uma khopesh comum, mas que era tão letais quanto – ainda mais se empunhadas pela deusa. Ela precisou cortar alguns ataques do deus, que pareceu ficar extremamente frustrado; Bast e Apófis lutaram durante milênios, e ainda assim, a deusa tinha movimentos novos e gatunos para mostrar. Assim que ela atingiu o solo, Apófis não teve outra opção senão desviar e, com um único salto, ir do obelisco para a distante praia de areia cinzenta a beira do Mar de Escaravelhos.

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