(Killian) Treinamento - Parte 1

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Ele ainda não acreditava que aquilo tinha acontecido. Como que puderam deixá-la para trás? Podiam ter esquecido dele, ele estava pronto para ficar desde o momento que entrou naquele lugar, mas ela... Depois daquele vídeo... Ainda assim, fora tão forte! A descarga de adrenalina naqueles últimos momentos... a sensação de mesmo que ele caísse, cairia ao seu lado. Porém, agora tudo estava perdido... Na melhor das hipóteses ela teria morrido e deixado todo sofrimento acabar. Seria pior para ele que já não conseguia pensar em sua existência sem aquela rabugenta. Na pior das hipóteses, ela estaria agora nas mãos deles, sofrendo sabe que tipo de torturas e tudo por culpa dele! Não era ele que deveria estar ali! Entretanto, não havia como remediar o passado e ele devia fazer algo pelo futuro.

Levantou-se de sua cama improvisada, como sempre estava muito escuro, mas o que esperar de um abrigo no subterrâneo de Londinium? Estava tentando se acostumar com a vida naquele local, sempre treinando e vendo planos e formas de tirar Pietra daquele lugar. Não poderiam usar a mesma estratégia de antes, pois os guardas estavam de sobreaviso e a segurança fora duplicada. Todo dia se reunia com Yara e seus subordinados e sempre ouvia a mesma resposta:

- Tenha paciência, Killian.

Mas ele já a estava perdendo. Precisaram tirar todos os infiltrados da cidade, pois não sabiam quem fora revelado. Por mais que Killian tenha passado todas as informações que descobrira do laboratório e das pesquisas, ainda era preciso descobrir muita coisa. O que o desesperava era não ter notícias de Pietra, o que devia significar que ainda estava viva, pois se tivesse morrido, sua morte seria usada como martírio, para que ninguém copiasse o seu exemplo. Killian não sabia se isso o alegrava ou entristecia e não saber o que ela estava passando, não poder ajudá-la, o fazia morrer por dentro. Não se surpreendeu ao descobrir que Yara era líder daquela repartição, desde que a conhecera percebeu que ela possuía uma atitude de comando e agora que a via sem máscaras, podia perceber que não se enganara. Já que sabia que Yara iria ter a mesma reação de todos os dias se fosse procurá-la, resolveu procurar os outros garotos para treinar com eles. Esse, sim, foi um grande choque para o rapaz, a quantidade de rapazes e moças que treinavam e serviam como exército deles era muito maior do que qualquer expectativa que Killian poderia ter. Eles se chamavam de Os Verdes, pois acreditavam simbolizar uma esperança de um futuro melhor não só para o povo como para o planeta.

O ritmo do treinamento era pesado e começava pela manhã cedo com aeróbicos, passando por fortalecimento dos músculos e por fim no treinamento de combate. Como os soldados não viam o sol durante meses, e já possuíam a saúde prejudicada por causa da poluição e falta de alimentação adequada na infância, o dia terminava com uma refeição feita de uma hortaliças estranhas, enriquecidas com vitaminas que eram criadas pelos cientistas da base. A base Boudicca era muito maior do que Killian poderia imaginar, se espalhando como uma teia de aranha debaixo do Centro de Estado. Inicialmente era um antigo sistema de esgoto de antes da Queda, mas com a evolução e progresso dos verdes, o complexo foi aumentando em tamanho e tecnologia, adquirindo adeptos com qualidades diferentes, somando no crescimento da base. No mês que passara naquele lugar, apesar da constante angústia por novidades de sua amiga, treinara todos os dias e adquirira força e agilidade. Já se destacava nos treinos e, após os aeróbicos e fortalecimentos do dia, foi praticar a luta com o melhor soldado dali: Serafine.

Nunca poderia imaginar que aquela garota era tão forte! Não havia homem que a vencesse em combate, ou mesmo que ficasse em pé por mais de vinte segundos quando lutasse com ela. Em um dos últimos treinos, depois de muito pressioná-la a respeito, Serafine finalmente contou sobre toda a operação que se passava em Londinium quando eles se conheceram.

- Killian, você deve entender que a gente não sabia que vocês se juntariam a nós, e muito menos que aquilo acontecesse com a Pietra - disse a garota no fim do treino, retirando uma faixa que usava enrolada nas mãos, enquanto conversava com ele. Sua voz transbordava tristeza.

- Serafine, eu não te culpo... - começou Killian chateado - só preciso saber de tudo para poder consertar isso...

- Nem tudo pode ser consertado por você... Precisa aceitar isso - afirmou a garota se virando para ele

- Não é por isso que vou deixar de tentar!

Serafine o observou por alguns instantes e viu que ele estava resoluto, dando um suspiro começou:

- Ok, já que não tem jeito, se senta aí, - falou ela, apontando para o chão de cimento - a história é longa.

Killian apenas concordou com um aceno de cabeça e Serafine ficou alguns segundos tentando ordenar os acontecimentos em sua mente antes de começar:

- Bom, é o seguinte: nós somos filhos e filhas dos excluídos, homens e mulheres que se opuseram a esse sistema e que foram indo para o submundo, buscando força para poder, de uma vez por toda, acabar com ele. Desde pequenos, nós treinamos nessas bases, que estão escondidas debaixo de vários Centros de Estado e perto de alguns Vilarejos e, foi dessa forma que tiramos sua família e a de Pietra de onde vocês nasceram.

Por um segundo, o rapaz se sentiu péssimo... havia se esquecido completamente do que havia acontecido com sua família, e, assustado, interrompeu a garota:

- E eles? Como estão? Estão bem? Flora, Ana, o bebê? E a família de Pietra? Ela nunca vai me perdoar se eu deixasse que algo tivesse acontecido com eles!!!

- Ei! Se acalma! Estão todos bem! - disse Serafine tentando acalmá-lo - Yara achou melhor deixá-los um pouco mais longe para que não se assustassem com o sumiço de Pietra.

Pela expressão da jovem, ela não concordava com a decisão, porém, continuou com a narrativa.

- Bom, quando eu e mais algumas garotas fizemos 19 anos, recebemos nossa primeira missão. Deveríamos fingir ser as mulheres procuradas pelos homens da fábrica e retirar deles o que pudéssemos para ajudar nas informações.

- Até hoje, fico me sentindo péssimo por vocês terem feito o que tiveram que ter feito...

- Então... Preciso te contar toda a verdade. - disse Serafine sem jeito e Killian olhou para ela com dúvida - Nós nunca fizemos nada com aqueles homens...

- Como assim?

- A verdade é que nós tínhamos uma espécie de pó que soprávamos nas narinas dos trabalhadores e eles ficavam em total transe. Nesse momento, nós fazíamos as perguntas e eles respondiam. Quando eles despertavam, achavam que tinham feito outro tipo de coisa...

- Mas... - o garoto estava sem fala - então tudo que eu e Pietra fizemos foi em vão?


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E aí, gente! Demorou alguns minutinhos a mais, mas saiu a primeira parte do primeiro capítulo do Killian! O que vocês estão achando? O que acham que vem pela frente? Quero saber as opiniões de vocês! E se puderem deixar aquela estrelinha, eu agradeço de coração <3.

Beijos da Bia!

Killian (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora