Capítulo I: Família

375 8 0
                                    

O que leva alguém a praticar tal ato? Julgamos as pessoas sem levar em conta a história de cada uma. O que Luiz fez é imperdoável, é injustificável. Mas seria hipocrisia de minha parte dizer que não faria o mesmo. Nas condições em que cresci e vivi, com certeza não faria. Mas nas condições de Luiz, quem não o faria? É uma atitude desesperada, inconsequente e fria. A frieza vem com o tempo, o desespero vem pela condição, a inconsequência vem da alma.

Luiz cresceu em uma família de classe média, numa cidade do interior do Rio Grande do Sul. Os pais vieram de famílias pobres. Casaram-se quando a mãe engravidou do irmão mais velho, que morreu quando Luiz era criança. A partir do fatídico acontecimento, a relação na família começou a se deteriorar. Luiz ganhava presentes caríssimos constantemente. Os pais achavam que os presentes poderiam preencher o espaço deixado pelo irmão. Como se fosse possível.

Não condeno-os pelas suas ações. Erros só são cometidos quando se quer acertar. Eles fizeram o melhor que podiam. Mas eles não tinham a percepção de que o melhor que eles tentaram fazer não era o suficiente. Pra ninguém. Todos sentiam e todos sofriam sem motivos para sorrir. O pai tentava buscar felicidade em outros lugares, enquanto a mãe ficava em casa fingindo estar bem. Ninguém podia saber que aquela família não era feliz.

Um dia, a mãe descobriu que o marido buscava o que não tinha. Os dois brigaram. Luiz assistia a cena chorando. Não conseguia entender o porquê de os pais não se entenderem. Foi melhor esconder do menino o que acontecia.

"Por que você estava brigando com a mamãe?"

"Desculpa filho! Está tudo bem, papai já se acertou com a mãe. Eu te amo!!"

Amor não era algo que pudesse ser sentido. Eles tentaram, como tentaram. Mas um já não amava mais o outro. O único sentimento era o ressentimento. A princípio poder-se-ia dizer que os dois agiam como crianças birrentas. Mas não. Eles agiam como adultos. A única criança era Luiz, que sofria deveras com a frieza dos pais. Davam-lhe presentes para disfarçar a ausência.

A vida escolar do garoto também não foi das melhores. Luiz era um garoto muito fechado. Vestia-se de uma forma completamente destoante dos outros. Nos dias mais quentes do verão gaúcho, vestia camisetas pretas, calças escuras e seu tênis de couro. Os fones de ouvido estavam sempre com ele. O garoto não falava, não se abria, ficava aos cantos sofrendo. E como sofreu. Não demorou muito, as perseguições e zoações começaram. No começo pareciam ter como intuito a inclusão. Mas aquilo o incomodava, até que chegou a um ponto insuportável.

Chegava em casa, deitava em sua cama e entregava-se aos prantos. Os pais não percebiam, pois estavam ocupados demais fingindo estar bem. Luiz não tinha com quem contar, não tinha com quem falar, e aos poucos se acabava. A solidão era a sua única amiga. Até que apareceu Elisa.

Educação Vem De CasaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora