Capítulo 15 - 10 de julho (Pedro)

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10 de julho de 2016

Olá caderno preto,

O dia de ontem não podia ter sido passado em melhor companhia, mas foi no meio da alegria que senti um sentimento terrível, sabes? Algo que me fez afastar das tuas páginas. Não por não querer a tua companhia, mas por ter medo da maneira como me iria consciencializar das coisas.

Ontem o Carlos e o João fizeram-me uma proposta que era irrecusável, especialmente depois de tanto tempo confinado nos meus aposentos com os exercícios matemáticos. Por mais desejoso que estivesse de receber este convite, que não poderia recusar, fazia parte da equação uma "constante" bastante importante. Mas, verdade seja dita, a constante já eu a descobrira, o que não era constante era este ardor que sentia no peito de cada vez que a via. De cada vez que via a Sofia. Era algo que vinha e ia só com o simples poder do pensamento. E um pensamento que surgia nos momentos mais inesperados do dia.

Acabámos por chegar à praia de S. Pedro no meio de gargalhadas e de olhadelas curiosas que a Sofia fazia às nossas conversas parvas. Se me perguntares do que falámos, confesso-te que já não me recordo muito bem. Mas agora se me perguntares se me lembro como estava ela. Como estava o seu sorriso ou o seu olhar hesitante, isso sim. Isso seria algo que conseguiria descrever.

Mas não o consigo fazer.

E porquê? Porque só o olhar carinhoso, com que o Carlos olhava para ela e ela para ele, matava-me. Comecei a perceber que a fantasia que tinha criado, estupidamente, na minha cabeça, simplesmente, não funcionava.

Sabes o que mais me revoltou, depois de eu ter chegado a estas conclusões? Foi que ela falou comigo e foi como se a Terra tremesse. Como se ela tivesse abanado por completo as minhas fundações, deixando-me cair literalmente na areia.

Estava eu a sair do mar gelado quando os meus olhos recaíram no seu olhar, atento aos movimentos que o Carlos e o João faziam ao jogar à bola.

- Com que então és o Pedro, não é? – perguntou, retórica, não conseguindo esconder um sorriso tímido.

- Touché, madame!

Confesso que estava curioso com o possível rumo da conversa.

- Desculpa-me da outra vez. As M&M tinham-me ligado e, se não atendesse a chamada, quase que me poderia considerar como morta.

E riu-se. Foi um riso tão genuíno e descontraído que, pensar que tinha sido a razão de tal acontecer, quase me fizera esquecer as inseguranças que sentia. Não eram propriamente inseguranças e sei que apenas posso atribuir a mim uma parte naquele seu belo riso, mas estava a começar a duvidar seriamente se fazia algum sentido tudo o que estava a sentir!

- E há quanto tempo conheces o Carlos?

Acho que devo ter revirado a cabeça do avesso à procura de uma data e foi quando a encontrei que ele apareceu:

- Nem te lembras meu?

Carlos ria-se, a pregas soltas. E eu acabei por lhe seguir o exemplo, tentando aliviar o meu desconforto.

– Este gajo aqui ajudou-me a passar por um período bem mau da minha vida. Não foi?

- Claro que foi! Bem sabes o quão fantástico e irresistível que sou! – trocei.

- Pois, pois... Opá... olhando bem para ti, se eu jogasse no outro campeonato, acho que até nem te deitava fora.

E rimo-nos todos, dando eu de seguida um soco amigável ao Carlos.

- Mas acho que, o quê... há uns 5 anos que nos conhecemos?

Tentou adivinhar e com precisão.

E o problema é este. É que o Carlos é um amigo fantástico. O meu melhor amigo, o meu mano, como agora se diz. Eu sei, de facto, a que se refere quando falou à Sofia do seu "período mau". É por saber isto tudo dele que, o que sinto, não faz sentido. Eu e a Sofia nunca iríamos resultar. Era algo que não faria ao Carlos por saber o quão sofrido ele ficou depois da última vez...

- Não poderias ter sido mais certeiro. Conhecemo-nos antes de entrar para o curso. Somos praticamente vizinhos. No secundário ficámos bons amigos e por aqui continuamos, não é verdade?

- Nem mais! – Gracejou, dando-me um leve encontrão, deixando-se cair, em seguida, na toalha que estava quase que colada à da Sofia.

E, a partir daquele momento, ela começou a olhar para mim de maneira diferente. Como alguém que conhecia verdadeiramente o seu, quiçá, futuro namorado. Talvez alguém até em quem pudesse confiar quando o assunto fosse ele.

Foi a esse olhar de confiança que me agarrei e arranjei força para ser unicamente o seu parceiro de corrida e, talvez, um amigo.

Era isto que tinha medo de me consciencializar. O acabar da minha fantasia. Uma fantasia que não tinha pés nem cabeça (acho que nunca teve, para te ser sincero). Mas acho que apenas procuro uma relação verdadeira ao fim de tantos anos. Um abrigo! Alguém que me dê amor.

Mas, aparentemente, não irá acontecer agora e se há coisa que não falta, no mundo, são raparigas. E foi com essa consciência que acabei por mandar mensagem a uma das raparigas do meu curso.

Por favor, não me julgues. Nem quero "fazer" nada. Apenas descontrair e estar com uma amiga.

Será só café.

Acho.

Mas é melhor ir prevenido, não achas?

Abraço,

Pedro

P.S.: Ficas Comigo? (Nova Edição)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora