[13] ISADORA

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Ir para a escola naquela segunda depois do meu aniversário foi uma tortura. É claro que eu não estava mais de ressaca, mas não poderia usar essa desculpa para o meu pai de qualquer forma. Ele jamais poderia saber que eu tive uma ressaca em primeiro lugar, porque isso significaria um castigo muito maior. Eu já esperava ficar de castigo com certeza, não pelo motivo que ele deu, mas por outro muito maior. Ele reclamou que eu havia ido para a casa da Bia sem pedir antes, mas eu achei que ele fosse me castigar por não ter sequer avisado. É claro que eu estava bêbada demais naquela madrugada para pensar que ele provavelmente estaria em casa me esperando e ficaria desesperado a cada minuto que passava e eu não aparecia. Quando eu saí correndo da casa da Cíntia, nem me dei conta de que àquela hora da manhã ele já estaria ali questionando o Rafael sobre meu paradeiro e acionando a polícia por não ter aparecido em casa. Mas isso sequer passou pela minha cabeça, até eu chegar em casa e encontrá-lo, relativamente calmo esperando por mim na sala.

- Posso saber porque você foi para a casa da Bia? – Ele mal me deixou entrar em casa e já estava me questionando. Olhei para os meus pés acuada, pensando em como ele sabia que eu diria que estava na casa da Bia. – Sem me pedir?

- Desculpa, pai. – Falei em um sussurro. – Eu ia te avisar.

- Não estou falando de avisar. Avisar você avisou. – Não levantei a cabeça para olhar para ele, mas eu estava confusa. – Esse é o problema. Você não pode simplesmente avisar que vai a algum lugar, você precisa pedir primeiro.

Ele continuou passando sermão, falando sobre responsabilidades e me colocou de castigo. Nem me importei muito para ser sincera, não pretendia sair de casa tão cedo. Nunca mais. Ficaria na minha cama, pensando na cena do Ricardo beijando outra depois de ter ficado comigo, esmagando todos os meus planos e sonhos com a sola do sapato. Quando meu pai terminou, fui para o quarto e a primeira coisa que eu fiz foi olhar minhas mensagens para tentar entender do que ele estava falando. Como eu havia avisado? Eu estava bêbada demais para isso. Um pequeno desespero me bateu pensando que eu talvez tivesse mandado uma mensagem totalmente sem nexo, passando um atestado de bêbada completo, ferrando de vez com a cobertura que eu tinha tido. Mas depois eu lembrei que se eu tivesse mandado uma mensagem daquelas ele teria me questionado e o castigo com certeza seria pior. Tipo não sair mais até o dia do meu casamento, que ele só permitiria acontecer depois dos meus cinquenta anos. Não precisei procurar muito pela última conversa que tive com ele. Conforme eu lia a troca de mensagens, percebia que não havia sido eu a manter aquela conversa. Eu não tinha grandes memórias da noite anterior, mas aquela mensagem havia sido enviada relativamente dentro do horário que ele havia estipulado minha chegada em casa e se eu não estava enganada, ainda estávamos em algum lugar entre o bar, a calçada e o carro. Bem longe de casa. Pensei que talvez a Bia ou a Paulinha tivessem feito aquilo, me salvando de um esporro sobre o horário também.

Isa: Foi você que mandou uma mensagem pro meu pai falando que eu ia dormir na sua casa, Bia?

Bia: Eu não, tá louca? Estava tão bêbada que mal sabia onde estava o meu próprio telefone. A única coisa que me lembro é de você vomitando, a gente no carro e... ahh, e o Rafael não deixando você sair do carro comigo.

Paulinha: Ele não deixou você sair do carro? Como assim, gente?

Bia: NÃO!! Não dá mais para defender aquele dedo duro. Ele não deixou ela ficar aqui para se safar do pai, disse que a levaria direto para casa, assumir as responsabilidades dela.

Paulinha: Que vacilão. Você está de castigo então?

Ele e Ela [Os Dois Lados da História] [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora