7 - Coleira

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Eu sabia exatamente o que eu precisava fazer.

O problema residia na minha incapacidade de fazê-lo.

A pergunta de Matzen pairou no ar como se existisse sem o propósito de esperar uma resposta. Se havia ou não uma essência plenamente retórica em sua intenção é algo que eu não cheguei a descobrir.

Ele pegou no sono prendendo-me em seus braços, respirando em meu pescoço. Talvez esperando uma confirmação de conforto que nunca veio.

Eu não sabia o que dizer.

Qualquer outro cliente e eu teria me desfeito de suas emoções acalouradas como se fossem pouco mais que insignificantes.

Mas Matzen...

Matzen cheirava tão bem.

E, pela minha vida, eu não consegui pensar em nenhuma de minhas respostas rápidas para lhe devolver. Parte de mim agarrando-se a convicção de que havia momentos na vida em que resposta nenhuma seria melhor que qualquer resposta. No entanto, a medida que o silêncio se prolongou, eu percebi que esse não seria um desses momentos.

A manhã trouxe um sol brilhando em nossa janela, dois ou três pássaros conversando em melodias no parapeito da varanda e uma enxaqueca sem precedentes.

Precisei tomar um remédio assim que acordei, ciente de minha ressaca. Não de álcool, mas de outra substância que lhe fazia as vezes: desordem mental.

Estava tudo bagunçado e embaralhado.

E aquela porra daquele cheiro de homem que ainda exalava do filho da puta deitado ao meu lado, mesmo que ele estivesse em sono profundo enquanto eu estava em perdição absoluta.

Maldito fosse.

Maldito fosse ele e sua incapacidade de se manter profissional.

Era uma merda ser puta nessas horas.

Esfreguei meus olhos, lavando o rosto compulsivamente, após escovar os dentes.

Não era apenas higiene matinal, era exorcismo. Eu queria tirar o cheiro do homem que parecia ter se enfiado em minha pele como se ele tivesse desenvolvido a habilidade de se tornar meu próprio suor.

Mordi meu lábio, revivendo os momentos que me levaram até ali.

Eu adorava ser puta.

Era algo que eu fazia bem e que me fazia bem.

Estava em um dos clubes que eu frequentava quando a oportunidade surgiu. Ele queria uma mulher que o espancasse com tiras de couro e enfiasse um salto alto em mais de um de seus orifícios. Ele fez sua proposta com timidez e incerteza.

Minha primeira pergunta foi se ele pagaria pelos saltos.

Ele sorriu ao confirmar.

E então eu estava contratada.

Veja bem, eu não me incomodaria em espancá-lo com suas tiras de couro ou fazê-lo engolir um salto agulho pela bunda, de graça. Faria, sem problemas.

Receber por isso era um extra.

Alguém gostou de meus serviços e as indicações circularam pelo boca-a-boca. Em um mês eu era a companhia mais solicitada do clube e sequer tinha me profissionalizado.

Foi o maior momento "e por que não?" da minha vida.

Eu adorava.

Adorava assistir os homens babando aos meus pés.

[Degustação] MalíciaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora