[12] RAFAEL

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Fiquei encarando a porta sem acreditar. Olhei para minha mãe com a boca meio aberta em choque e ela me olhava com os olhos arregalados assustada. Eu ainda estava dormindo? Provavelmente não, porque meu corpo estava dolorido, minha cabeça estava latejando e eu nem tinha bebido, só não tinha descansado o suficiente. Como eu podia sentir todas aquelas dores, sabia que não estava sonhando. Aos poucos a realidade foi batendo e eu fui acordando de vez. Então a raiva foi me consumindo mais uma vez.

- Eu não acredito. – Entrei de vez na cozinha, quase gritando. – Ela é muito mal-agradecida, mãe.

- Confesso que hoje não tá dando muito para defendê-la. – Ela ponderou. – Mas eu acredito que ela tenha ficado com vergonha e por isso saiu assim.

- Ah, qual é. – Neguei, sentando para comer. – Não justifica.

- Aliás, como você deixa a menina beber dessa maneira, Rafael? – Tá brincando que ia sobrar pra mim? Eu juro que nunca mais ajudo essa menina para nada na vida. Da próxima vez, minha mãe pode chorar sangue, mas não ajudo.

- Você não pode estar falando sério, mãe. – Balancei a cabeça em negação. – Você conhece a Isadora. Tudo bem que você pode até achar que eu tenho implicância com ela e que na verdade ela é um doce de garota. Mas até mesmo você precisa admitir que ela é cabeça dura. Você acha mesmo que eu conseguiria impedir?

- Não sei. – Ela exclamou exaltada. – Sei lá. – Ela parecia sem respostas mesmo. Ponto pra mim.

- Ela me deu perdido a noite toda com as amigas. Sempre que eu chegava perto, elas arrumavam uma desculpa para se afastar. Passei o tempo todo tentando segui-la e quando a via bebendo eu tirava o copo da mão dela. Mas elas sempre davam um jeito de arrumar outro. – Claro que nada daquilo era verdade, mas eu não podia deixar minha mãe continuar pensando que eu era um irresponsável. Ou bem ou mal, eu havia dito que iria atrás dela para não a deixar beber mais e acabei ficando com a Juliana e esquecendo da Isadora. E embora eu tivesse certeza que minha mãe não diria nada à Sérgio, até porque se fosse pra ferrar com ela eu a teria levado para casa, pelo menos eu tinha queimado um pouco o filme dela com minha mãe.

- Me pergunto o que o Sérgio vai dizer quando ela chegar. Ele deve estar preocupadíssimo.

- Eu mandei uma mensagem para ele ontem dizendo que havia deixado a Isadora em total segurança na casa da amiga dela e que as duas estavam bem. – Falei enquanto passava manteiga no meu pão.

- Imaginei. – Ela me lançou um sorriso rápido. - Mas ele com certeza vai encher o saco dela perguntando porque foi você quem mandou mensagem e não ela.

- Por isso que eu mandei uma mensagem para ele antes, do celular dela, como se fosse ela avisando. – Minha mãe me olhou com um encantamento, como se eu fosse um gênio, sorrindo cheia de orgulho. – Menos, mãe. Só me deixa ficar longe dessa garota na próxima aventura. – Ela sorriu de lado, comendo o pão dela também.

Depois de tomar café com minha mãe resolvi voltar para minha cama. Ela tinha me acordado relativamente cedo por causa da Isadora, e para não tomar café sozinha. Mas eu ainda estava muito cansado por ter chegado em casa tarde demais. Entrei no meu quarto e vi que ela tinha deixado as roupas que emprestei dobradas em cima da cama. Joguei as roupas em um canto da mesa e deitei na cama de qualquer jeito. Me aconcheguei debaixo das cobertas e me virei enfiando a cabeça no travesseiro. Era mesmo porque eu estava com muito sono para levantar e trocar os lençóis, mas estava ficando sufocado com o perfume dela que havia ficado ali. Mas como ela havia conseguido tomar banho e continuar tão cheirosa? Mistérios do universo que eu não desvendaria naquele momento, nem provavelmente nunca. Acordei algumas horas depois e já passava da hora do almoço. Estranhei minha mãe não ter me acordado para almoçar com ela. Quando eu saí do quarto louco para comer alguma coisa entendi que ela não havia me chamado porque não estava em casa. Dei de ombros e abri a geladeira procurando alguma sobra do dia anterior para almoçar. Estava quase acabando quando minha mãe chegou, sorrindo para mim e sentando na cadeira o meu lado.

Ele e Ela [Os Dois Lados da História] [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora