Foda-se o sistema

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(Lauren)

Desde pequena, aprendi a não demonstrar sentimentos excessivos fora da minha cabeça. Eu costumava pensar que, se soubessem o que eu pensava, me chamariam de louca e eu seria tratada como uma estranha — mais do que eu já era. Mais do que eu me considerava. Papai e mamãe devem pensar que sempre considerei normal minha condição, pois nunca deixei que vissem minhas lágrimas e nunca vocalizei meu desgosto comigo mesma desde que aprendi a ter noção do que era certo e errado. Sou a típica garota que tem milhões de pensamentos todos os dias e diz apenas um. Poucas pessoas sabem sobre meus sentimentos por elas, e poucas pessoas vão saber.

Mas nem por isso me considero inocente, longe disso, o que tenho feito com Camila não pode ser chamado de inocente; ela está satisfazendo a libido dela e eu a minha. A diferença é que pra ela se trata de algo físico; já eu...eu a amo. Amo muito. Amo cada dia mais forte, cada dia mais intenso, cada dia mais com o meu coração. Ela nunca saberia sobre meus sentimentos por ela, no entanto; esse amor está fadado à terminar como começou: em segredo.

Eu deveria me sentir um lixo por ter aceitado me tornar um passatempo sexual de Camila, mas esse tempo está sendo, incrivelmente, a melhor parte dos meus dias. As coisas não têm sido como eu pensei que seriam, ela não me tratado como um objeto sexual, pelo contrário: ela se torna uma pessoa totalmente diferente quando estamos juntas e essa mudança é como da água para o vinho. Ela tira sua máscara para mim sempre que nos encontramos após a escola; temos sido a companhia uma da outra como eu nunca pensei que seríamos outra vez.

Camila desperta o meu lado selvagem e sexual, me deixa desinibida e louca por ela. Mas, mais que isso, ela também me torna sua calmaria, seu ponto de equilíbrio; equilibramos nossos mundos em uma balança quando estamos juntas.

Mas todo segredo tem seu peso, e o meu está começando a me sufocar internamente. Eu preciso confia-lo à alguém antes que enlouqueça e acabe piorando o estado psicológico de Camila, e, bem, é exatamente isso que estou fazendo agora no refeitório da escola.

— Você o que?! — Alycia berrou tão alto que chamou atenção de várias pessoas, inclusive da mesa de torcida, onde agora Camila me encarava com o cenho franzido. No entanto, havia algo diferente com ela naquele dia, sua áurea beirava a de uma garota triste, desanimada.

Abaixei a cabeça envergonhada e continuei mexendo nas batatas fritas como se nada tivesse acontecido, precisava parar de me preocupar com Camila quando estávamos na escola.

— Eu vou afundar sua cara na mesa. – grunhi baixo, o suficiente para que ela ouvisse e batesse com força na mesa com as duas mãos, ignorando as pessoas.

— Você diz que está transando com a miss dona do mundo e acha mesmo que vou ficar quieta? – Jogou uma batata em minha direção, que acabou acertando minha testa. – Da próxima vez, jogo uma cadeira, Lauren!

– Olha só, você está dormindo com a nossa professora de química e eu não falo nada, não é mesmo? – protestei, discutindo com ela por sussurros e gestos.

Alycia cerrou os olhos e ficou vermelha, provavelmente de raiva.

— Eliza não pratica bullying comigo, não é mesmo?

— Tecnicamente, nem Camila. – Dei de ombros, vendo seu queixo cair. Comi algumas batatas observando ao meu redor, tendo certeza que ninguém prestava atenção em nossa conversa. Voltei-me para Alycia que mantinha os braços cruzados abaixo dos seios e os olhos verdes faiscando em raiva. – Ela nunca fez nada direto contra mim, apenas...foi cúmplice?

Alycia jogou os braços no ar em ironia e espalmou o próprio rosto, como se tentasse ao máximo não me agredir na frente de todos.

— Você só pode estar brincando com a porra da minha cara, Lauren! Essa garota está usando você porque provavelmente aquele namoradinho dela não dava conta! E você, uma garota tão inteligente, está aceitando isso numa boa!

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