Quando você me toca

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(Lauren)

Se você tivesse o dom de cantar, sobre o que cantaria? Se tivesse o dom de pintar, o que pintaria? Se tivesse sido agraciado com o dom da escrita...sobre o que você escreveria?

Existe uma folha em branco. Existe uma partitura em branco. Uma tela em branco. Todas elas prontas para serem preenchidas com sentimentos. Coisas que não conseguimos carregar no peito. Que transborda, escorre, por vezes machuca e fere a alma. E então sentimos a obrigatoriedade de colocar para fora.

Todo ser humano é como uma bomba relógio emocional. Acionada e prestes a explodir. Cabe a cada um de nós decidirmos de que forma. Cabe a você entender, que por mais que fuja de tudo que sints e queira..os sentimentos e emoções permanecem intactos, corroem e te devoram por dentro. Você tem que se permitir viver, se permitir ser livre. Se não da forma que quer, que seja da forma que encontrou para isso..em pura arte.

Suspirei enquanto mantinha meus olhos fixos na tela a minha frente. Movimentos rápidos, o pincel resvalando com destreza, preenchendo pouco a pouco os espaços rabiscados anteriormente pelo carvão. As tintas espalhadas ao meu redor, jornais cobrindo o chão. Estava há pouco tempo ali, tentando concluir o que havia começado dias atrás. A figura feminina a minha frente, rica em detalhes e formas. Lábios cheios, avermelhados. Os cabelos espalhados e revoltos, tão distintamente conhecidos como sua marca registrada. O castanho dos olhos pigmentados com malícia. Tão bela e infinitamente distante.

A confusão que rondava minha cabeça perdurava. Convivia com a lembrança, fazia comparações mesmo que soubesse que não deveria fazê-lo. De um lado havia Amber e toda a sua graça. Ela era inteligente, carinhosa, me tirava sorrisos fáceis...e do outro estava Camila. Inconstante como o oceano, impetuosa como o vento, imprevisível como o tempo. Tentava encaixar tudo em minha mente, de como paramos naquela situação...de como me deixei levar e acabo chegando a conclusão de que eu esperava por isso desde muito tempo. Não podia negar a mim mesma o que sentia por ela, nunca fui ignorante a esse ponto. Sempre podemos enganar aos outros, mas nunca a nós mesmos...um ditado antigo, mas eficaz.

Entretanto, nada do que aconteceu mudaria o passado. Beijar Camila fora tudo e nada ao mesmo tempo. Nenhum gesto vindo dela apagaria as marcas que havia me deixado.

— Deixe-me ver se entendi — a voz de Bear soou sarcástica do outro lado da linha. — Você saiu com a garota, que pela foto que eu mesma vi no orkut é linda e tem capacidade pra colocar todas as modelos de Miranda no chinelo...e a beijou como uma virgem?

— Eu expliquei que estava nervosa! — respondi enquanto me afastava do quadro, girando os olhos pelos gritos histéricos dela.

— Mas ficou nervosinha quando jogou aquela cachorra contra os armários do banheiro? — perguntou maliciosa. — Não deve ter ficado! Não entendo porque você não comeu ela logo, sexo é bom Lauren! Já te disse isso mil vezes...trepar, foder, fazer amor é tudo muito gostoso! — fez uma pausa dramática. — Se bem que conhecendo você como conheço...mandaria um memorando de foda pra qualquer pessoa, você sabe, pra ter a autorização escrita por extenso.

— Por que eu converso com você mesmo, Kordei?

— Primeiro que você me ama. — Normani soltou uma risada sarcástica. — E segundo porque sem mim você vira uma sem teto, não esqueceu do nosso acordo, né queridinha? O mínimo que tem que fazer é me amar incondicionalmente.

Normani Kordei e seu ego enorme. Colocaria a culpa nos astros por trazerem uma leonina para a minha vida? Colocaria. A conheci há alguns anos quando ela trabalhava em uma cafeteria para juntar dinheiro da faculdade. Coincidências da vida? Talvez. Eu não acreditava no acaso, não quando se tratava de Normani. Eu a enxergava como um presente de Deus, um presente muito valioso. Quando ela se mudou para Oxford no ano passado, para estudar o que sonhava, me vi triste e feliz ao mesmo tempo. Triste porque um oceano inteiro nos manteria afastadas fisicamente, mas feliz porque sabia que ela estava atrás do que a fazia bem.

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