Seu gosto

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(Lauren)

O tempo é a unica ferramenta que o homem não tem controle. Vivo a enaltecer as oportunidades que a vida nos dá. Muitas das vezes não sabemos aproveitá-las e por quê? Medo. Medo de tentar, medo talvez do desconhecido ou simplesmente medo de ser feliz. Algumas pessoas têm o seu passado tão presente, que a própria magoa a impede de seguir em frente. Duvidas de outrora, o sentimento de solidão e incapacidade. Bertrand Russel disse certa vez: Temer o amor é temer a vida, e os que temem a vida já estão meio mortos.

Por que estou a falar e a falar sobre isso?

Abro o meu coração e lhes digo: o meu maior medo é o de nunca conhecer alguém que me ame. Eu anseio, respiro e vivo amor. Não aqueles de livros, nem os de novela, mas amor. A entrega mútua de sentimentos, compaixão, altruísmo, amizade e companheirismo. Coração palpitante, olhos brilhantes, os calafrios pelo corpo, uma palavra ou gesto que lhe é capaz de mudar o dia. Um amor que fosse possível tocar.

Mas eu tão pouco acreditava que existisse de fato alguém esperando por mim.

Quando conheci Alycia, nossa amizade logo transcendeu. Ela era – e continua sendo – cordial, sempre carregava um sorriso no rosto e nunca ligou para quem eu era e a parte defeituosa em mim. Quando a conheci, me apaixonei pela ideia de amá-la, pelo afeto que nunca havia recebido e pela bondade do seu coração.

O que me trás novamente ao tema das oportunidades. Ainda não havia dado a mim mesma a oportunidade de tentar com alguém. A Dr. Lucy Hale, minha psicóloga, havia me dito em uma de nossas sessões que eu devia isso a mim mesma. Mesmo que não me sentisse confortável para abordar o meu problema. Eu sabia que nem todas as mulheres ou homens – se o caso fosse esse – se sentiriam a vontade comigo. Ninguém espera que uma mulher vá ter um par de testículos no lugar do útero. E era esse medo que me refreava.

Mas não mais.

– Dê uma volta, eu quero ver você.

Taylor pediu assim que abri a porta do banheiro. Ela me olhava com um sorriso enorme nos lábios e as mãos juntas abaixo do queixo. Olhei para a roupa que usava, sentindo minhas bochechas pegarem fogo.

– Você acha que isso é necessário? – perguntei receosa, enquanto mantinha meus olhos pregados nos jeans rasgados. – Sinto-me como..não sei, não estou acostumada.

– Cale a boca. – ela ralhou, girando os olhos enquanto se erguia sobre os pés. Taylor caminhou em minha direção, tomando-me pela mão e me puxando até estar diante do grande espelho, este, localizado na outra extremidade do meu quarto, ao lado da porta. – Você é linda, e está maravilhosa nessa roupa. Devia se arrumar mais vezes.

– Não tenho porque me arrumar. – respondo em descaso dando de ombros e ouço minha irmã rir baixinho atrás de mim.

– Se tudo der certo hoje, provavelmente terá um motivo para aposentar suas camisas geek. – ela disse maliciosa, piscando para mim através do espelho.

– Taylor! Isso não é um encontro...é só...uma volta. – respondi prontamente. – Não me deixe mais nervosa, por favor. – desviei meus da minha imagem refletida, sentindo uma falta absurda dos meus óculos. – Acho que irei tirar as lentes, não consigo me acostumar a elas.

– Depois você tira, agora vem. – ela me chamou. – Sente-se aqui, ainda tenho um trabalho enorme pela frente chamado: suas sobrancelhas.

Girei os olhos pelo drama supérfluo dela e caminhei pelo quarto até me jogar de qualquer maneira na poltrona do Darth Vader. Esfreguei as mãos no rosto com força, sabendo que os minutos a seguir seriam de pura tortura. Fechei meus olhos concentrando-me nas demais coisas.

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