A festa

32.7K 2.3K 4.2K
                                    

(Camila)

Suspirei audivelmente pela décima vez — em menos de trinta segundos —, afrouxando o aperto na bolsa que descansava em meu colo. Meu olhar estava preso nas minhas pernas que saltavam no assoalho do carro em sinal claro de nervosismo; eu estava prestes a explodir de raiva. O sol naquela manhã de sexta estava terrivelmente forte, o que só aumentou minha vontade de acertar a cara de alguém em uma voadora. E eu faria isso se não soubesse que acabaria rachada ao meio depois de acertar o golpe e cair como uma pamonha no chão.

Enfim, onde eu estava? Ah! A porra do meu ânimo assassino!

— Você tem certeza de que está estudando o suficiente? — tentou Dominic com os olhos cautelosos em mim. Nós estávamos dentro do carro estacionado em frente à entrada da escola. Dom gostava de me buscar pela manhã quando não tinha aula na faculdade.

Revirei os olhos dando o suspiro manhoso de número décimo primeiro.

— Eliza é a única pegando no meu pé, os outros professores já nem discutem porque eles sabem como a treinadora é com as líderes. — argumentei. — Ainda acho que ela tem um amor reprimido por Lauren e quer se vingar de mim.

— Se vingar de você? — ele franziu o cenho. — E por que ela iria querer se vingar de você?

Mordi a língua dentro da boca me amaldiçoando por tê-la aberto. Dominic não sabia dos meus atos não-tão-certinhos dentro da escola, e se dependesse de mim, nunca saberia. Não que eu tivesse vergonha de quem eu era, isso jamais, conquistar a posição de chefe de torcida não foi a coisa mais fácil do mundo e eu tive que aguentar muita humilhação até chegar no topo, mas Dominic costumava ser o cara que te estende a mão no corredor da escola quando um popular o derruba. Talvez ele fosse um dos raros populares, assim como Alycia, que via o mundo fora da caixa, coisa que eu realmente tentava, mas não conseguia por falta de opções.

Não me levem a mal, não é como se eu adorasse sair derrubando os livros das pessoas, humilhá-las revelando seus segredos ou jogar slushie em seus rostos; eu não sou tão vadia assim. Mas como eu disse, há uma pirâmide a qual hoje eu me encaixo perfeitamente estando no topo, as pessoas esperam esse tipo de comportamento; eu vivia sendo empurrada para a borda pela pressão de ser popular e eu nunca quis tanto algo como ser notada, amada e aclamada. E se fosse preciso humilhar algumas pessoas para isso...bom, ninguém chega ao topo sem ter que derrubar algumas pessoas.

— Eu discuti com Lauren na aula de química, coisa boba. — sorri amarelo.

Dominic assentiu, suas mãos abandonando o volante e se dirigindo até meu rosto trazendo-o mais perto do seu.

— Prometa-me que vai dedicar-se um pouco mais? — ele perguntou, olhando-me com expectativa. Assenti, mesmo que a contra gosto. — Ano que vem eu quero você na faculdade, formando o nosso futuro, quem sabe...?

Ele sorriu e eu também, e então nos beijamos levemente. Na minha cabeça havia vários sinais de PARE, apitando, piscando, vibrando, desconfortável sobre a conversa sobre um possível futuro com ele. Não que eu não o amasse, na verdade eu não sei o que sentia por Dominic, e se fosse amor, tudo bem também. Eu só precisava ter alguém que me amasse.

Merda! Como saber quando se está amando?

O sinal tocou, e os poucos alunos no lado de fora começaram a entrar agitados para a primeira aula. Dominic encerrou nosso beijo com vários selinhos pelo meu rosto e disse a temida frase.

— Eu te amo.

Sorri levemente, e pincelei seu nariz com a ponta do dedo indicador. Sim, eu acho que o amava, mas sempre seria incapaz de dizer tal frase para uma pessoa. É como se me sentisse indigna, ou quisesse me enganar dizendo a mim mesma que amor não existia e que era uma baboseira inventada para crianças terem algo para acreditar.

UncoverOnde histórias criam vida. Descubra agora