O tempo muda tudo

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(Lauren)

Acordar cedo depois de dois dias em casa, suportar os professores buzinando no seu ouvido, as bolinhas de papel que sempre acabam me acertando e a detestável cena dos mascadores de chiclete que não sabem manter a boca fechada definitivamente não era a melhor parte de uma manhã de segunda feira. A escola poderia ser descrita como o meu inferno particular, porque aquele era mesmo o meu purgatório. Era, literalmente, a parte mais chata e temida do meu dia, mesmo sendo meu último ano naquela ditadura escolar que chamam de ensino médio. Embora, é claro, havia coisas pelas quais eu gostava de estar lá, como os poucos amigos que possuía, meu clube de química e o time de esgrima.

Você provavelmente deve estar se perguntando: "Lauren Jauregui é uma nerd?", sim, orgulhosamente sim. Agradeço todos os dias por preferir meus livros, gibis e videogame à ter me tornado uma garota desesperada por status, o que acaba sendo 70% dos alunos. 20% deles apenas tentam fazer parte da falsa elite e os outros 10%, o que eu estava incluída, não se importavam com nada disso.

Suspirei encarando o teto, cogitando seriamente em virar para o lado e ignorar o tocar incessante do despertador. Que mal teria faltar uma aula? Não é como se não soubesse as matérias que seriam dadas, porque inferno...eu sabia todas.

"Você tem um futuro brilhante pela frente, Lauren."

Eu já havia perdido as contas de quantas vezes ouvi essa mesma frase saindo da boca dos meus pais, professores e até mesmo minha psicóloga, Dra. Hale. Eles tinham em mente um futuro pra mim que eu não enxergava. A inteligência ajuda bastante; ser nerd tem seu lado positivo no mundo em que vivemos. Entretanto, o diferente não. E eu posso afirmar isso com todas as letras.

Atirei minha coberta para o lado fazendo uma careta para o ar condicionado que rugia próximo à janela do meu quarto — nota mental: lembrar meu pai de consertar essa droga antes que me cause mais dor de cabeça —, e joguei as pernas para fora da cama ainda grogue de sono. Coloquei força sobre os meus braços, erguendo-me e então saindo da cama em passos lentos até a janela. Miami era um clima tão quente que eu sentia vontade de sair pelas ruas sem roupa alguma. Ok. Péssima ideia. Mas eu odiava o calor com todas as forças dramáticas que uma adolescente de 17 anos pode ter.

Puxei a cortina para o lado, meus olhos focalizando no céu azul, totalmente livre de nuvens.

— Grande dia, Lauren. — soltei uma risada baixa e então olhei para a casa do outro lado da rua. — Grande merda de dia.

Voltei a caminhar pelo quarto recuperando as roupas que havia jogado pelo chão na noite anterior, havia voltado tão tarde do treino de esgrima que a preguiça de jogar as roupas dentro do cesto fora maior. Abri a porta do banheiro, parando em frente ao espelho que ficava na lateral oposta a entrada. Costumava evitar aquilo, mas, segundo Dra. Porter, eu já não era uma criança e tinha de aprender a me amar da forma como eu era, me amar e me aceitar. Queria dizer a ela que me aceitar e me amar não iria mudar o desejo de ser normal como as outras garotas; mas como tudo que eu queria dizer para alguém, ficava guardando dentro da minha cabeça, e apenas lá.

Após o banho, me arrumei rapidamente jogando a mochila transversal cinza que estava no chão sobre um dos meus ombros e chequei o celular para conferir as horas, gemendo ao ver três ligações perdidas de Alycia. Eu estava ferrada. Desci as escadas correndo, pulando os últimos dois degraus e chocando-me com minha mãe no caminho.

— Ei, ei, ei! — ela riu do meu desespero. — Quem morreu, mocinha?

— Provavelmente eu se não estiver lá fora em segundos. — falei, beijando rapidamente seu rosto.

— Você já vai? — ela perguntou quando caminhei em passos largos em direção à porta, apenas me limitando em balançar a cabeça enquanto procurava pelos meus tênis...eu tinha certeza que os havia deixado ao lado da porta noite passada! — Estão do lado de fora, querida. — minha mãe ria enquanto balançava a cabeça. — Você vai sair sem comer nada?

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