Saí e fui ver o que ele queria. Era uma caixa endereçada a mim. Achei estranho. Assinei a confirmação de recebimento, agradeci o cara e fui pra dentro de casa. Na embalagem tinha o meu primeiro e último nome, Fabio Linderoff, meu endereço, tudo. Mas no remetente nada havia exceto por uma única letra "P".

Não podia ser o que eu estava pensando. Será que era uma correspondência do Paulo para mim? Comecei a viajar, achei estranho. Tudo bem que ele sabia meu nome e endereço, mas ele tinha sumido. Não mandava notícias nem nada. Eu com todo o meu orgulho besta também não o procurava. Mas achar que aquele "P" era de Paulo soava como se eu estivesse começando a entrar em paranóia. Fazia exatamente uma semana que tínhamos trocado um beijo dentro do carro dele.

Fui para o meu quarto, sentei na cama e comecei a abrir aquela caixa. Dentro havia um folheto com propaganda política e um objeto embrulhado em um plástico bolha.

Peguei o panfleto e vi que realmente se traestava de uma propaganda política. Achei muito estranho. Virei o papel e na parte branca reparei que tinha algo escrito a mão com caneta cor azul bem no canto superior esquerdo: "NÃO CONSIGO TE ESQUECER, CABEÇÃO"

Eu abri um sorriso tão largo que se fosse possível meu rosto rasgaria de tão grande era meu sorriso de alegria. Só uma pessoa me chamava daquele jeito. Meu olho na hora encheu de água. Fiquei tão feliz que a minha vontade era de berrar até por os pulmões para fora. Peguei o objeto envolto em plástico bolha e o abri. Era um rechaud feito de pedra sabão na forma de concha e uma essência de canela. Era um presente do Paulo pra mim. Fiquei tão feliz que fiquei bobo o resto do dia.

Antes de sair e ir pra casa do meu pai, coloquei o rechaud no bufê da cozinha, acendi a velinha, e coloquei a essência. Enquanto lavava a louça da janta do dia anterior fiquei sentindo o aroma do presente que o Paulo me dera. Era um cheiro delicioso, me lembrava o natal.

Dentro do metrô, dentro do carro do meu pai e mesmo depois que cheguei na casa dos meus pais eu ainda estava feliz e pensando fixamente em Paulo. Ele de fato tinha ido pra praia e tinha dado um jeito de mandar um presente para mim dizendo que embora ele estivesse lá na praia com a mina dele, seu pensamento estava em mim. Percebi que tínhamos uma conexão. E talvez ele não fosse tão filha da puta quanto eu pensava, né? De São Paulo a Araraquara eram 4 ou 5 horas de viagem mais ou menos, meu pai andava feito uma mula então se dependesse dele chegaríamos só no ano novo. Fomos ouvindo música sertaneja que eles tanto gostavam e eu odiava. Fui respondendo aos inquéritos da minha mãe e ouvindo os conselhos do meu pai. Sentia vontade de ter um irmão pra dividir a encheção.

Chegando lá recebemos o caloroso abraço de minhas tias e tio com gritos e apertões. Meu outro tio estava internado com câncer no pulmão porque fumava feito louco. Apesar da barra pesada, minha tia estava bem ou aparentava pelo menos. Eles não eram um casal romântico. Tinham virado amigos com o tempo, logicamente era difícil para ela, mas também era melhor ele estar no hospital cercado por profissionais e especialistas no assunto do que passando dor e enchendo o saco em casa. Esses meus tios de Araraquara nunca tiveram filhos. Já para minha surpresa, meus tios que vieram de Maringá trouxeram meus dois primos, Carlos e Fernando. Carlos tinha 14 e Fernando 16. A última vez que eu os tinha visto eram ainda crianças. Foi uma vez que fomos nas férias da empresa do meu pai e passamos duas semanas no Paraná. Eu nem trabalhava naquela época, só estudava. Lembro que nos dávamos muito bem e passávamos o dia brincando de jogar bola na rua, soltando pipa no morrão e brincando de carrinho com os vizinhos da rua deles. Vê-los ali com os rostos tão diferentes era de assustar. Eu estava ficando velho e eles estavam ficando boa pinta. Nos cumprimentamos com apertos de mãos timidamente e não trocamos muita idéia. Sempre tem essa timidez quando passamos muito tempo sem ver uma pessoa, né?

2 HÉTEROS NUMA BALADA GLS (2016)Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon