Capítulo 25 - A Casa de Pedra

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Foi um dia estranho para Driali, Dufel e Lyriel.

Eles não costumavam se afastar de Silena. O bardo ainda se lembrava de sua última viagem, três anos atrás. O mar azul estendendo-se além do porto de Anderion quase o fizera saltar em um barco para ver o mundo além de Amspar; contudo, como sempre, algo o segurara, e ali estava ele agora, desbravando mares de árvores e lama para ir atrás de seu amigo, a criatura mais pacata que ele conhecia.

El, você sempre se mete em encrenca sem querer. Desta vez, os problemas vieram te buscar em casa... você, que sempre quis ficar. Enquanto isso, eu, que sempre quis partir, estou me sentindo mal por ter deixado Silena.

Dufel olhou para sua irmã; sabia que ela sentia o mesmo desconforto, e em um grau ainda maior. O rosto de Driali era o mais abatido dos três, mas ela se mantinha firme no cavalo, guiando os amigos pelos caminhos que Faedran, o dokalfar, indicava. O elfo negro, por outro lado, esforçava-se para não se apoiar muito em sua companheira de sela; contudo, agora que estavam viajando há quase dez horas, entre paradas para refeições e descansos, ele parecia exaurido. Às vezes, deixava-se cair nas costas da jovem, ao que Driali se retesava, discreta. Dufel pensou em dizer que já era hora de um descanso maior, mas Olena foi mais rápida.

– Driali – ela chamou – Seu passageiro precisa dormir. Ademais, vai começar a escurecer. Ele já sabe onde temos de parar?

– Sim – Driali respondeu, tentando ouvir algo que Faedran dizia – Sim, ele disse que estamos perto. Dokalfar... eu vou tentar ir mais rápido.

– Está bem – ele afirmou – Perdoe-me. Precisarei me segurar em você.

Os braços dele apertaram a cintura da "moça com cabelos de fogo". Driali sentiu-se desconfortável, mas não podia ceder a tamanha infantilidade. Vai deixar o rapaz cair?

Do cavalo de Lily, Dufel percebeu como sua irmã havia corado. Dri sempre lhe parecera imune àquele tipo de acanhamento. Nunca ficava desconcertada ou tímida perante galanteios, por exemplo; ela os recebia bastante, mas tinha um modo peculiar de lidar com gracejos. Caras feias, safanões e mesmo ameaças com a espada eram o seu jeito de afastar qualquer engraçadinho. O único jovem de Silena que nunca tomara uma de suas coças era Eladar. Ela costumava afirmar para Dufel (meio rindo, meio zangada) que só não perdia a fé na decência dos rapazes daquela geração por causa de El. Mas El era seu "irmãozinho". Ela nunca o vira de outra forma. Por outro lado, aquele dokalfar transformista conseguia fazer Driali corar sem dizer uma única palavra, o que era muito curioso.

– Lena, Dufel – Lyriel chamou, tirando o bardo de seus pensamentos – O terreno aqui é mais difícil. Cuidado aí, ok?

Ele assentiu, quieto. Lily não o deixara guiar, embora ele fosse um cavaleiro relativamente capaz. "Deixe que eu ocupe minha cabeça, Dufel", ela argumentara. A garota parecia um pouco mais animada agora que estava atrás do irmão, mas Dufel sabia que ela ainda estava bastante angustiada. Quase podia ouvi-la pensando "Preciso achar Eladar, preciso achar Eladar, preciso..."

– Ali! – Driali gritou, de repente – Uma entrada! O dokalfar disse que sente a energia da irmã...

– O quê? – Lily perguntou, afoita – Ela está ali?

O elfo negro balançou a cabeça, e Driali completou:

– Esteve, Lily. Esteve. Não vai ser tão rápido assim.

A elfa suspirou, frustrada, e olhou para frente. Debaixo de muito musgo e um amontoado natural de rochas, havia uma passagem estreita que indicava a existência de uma gruta. Driali parou o cavalo e desceu, enquanto Dara pulava atrás de seus calcanhares. Dufel, Lily e Lena também desmontaram, e o bardo foi ajudar a irmã a tirar Faedran da sela.

Sombra e Sol (EM HIATO - autora teve bebê)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora