Capítulo Único

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Era uma noite gelada, sem lua. No terraço do prédio onde morava, ela tinha a vista perfeita da costa. O cheiro do mar trazia memórias de uma infância divertida que ela deixara para trás há muito tempo. Puxou o xale contra o peito e respirou fundo o ar fresco, a noite lhe fazia bem. A porta abriu com um rangido e ela não precisou olhar para saber quem interrompia seu momento. Alain era impaciente, mas um bom amigo.

– Não vai dormir? - ele perguntou, sentando-se ao seu lado.

– Não estou com sono.

Ficaram em silêncio por alguns instantes, apenas ouvindo o quebrar das ondas ao longe.

– Noites assim me lembram de quando ainda trabalhávamos para a Corte. - ela começou – Sinto falta das nossas aventuras.

– Claro, você sentiria falta. Ninguém nunca te pegou numa missão. - ele riu – Eu estou é feliz por ter me aposentado com vida.

– Nós éramos bons, Alain... Tínhamos um objetivo...

– Então é por isso que você não tem sono? Pensando nos velhos tempos? - ela apenas acenou com a cabeça. - Olha, Nina, por melhor que aquela época tenha sido, acabou. A Corte não tem mais a influência que tinha para manter espiões. Temos que procurar outras coisas para ocupar nosso tempo, outros objetivos.

– É isso que você está tentando fazer abrindo um restaurante?

– E por que não? Todo mundo adorava minha comida e é algo que eu gosto de fazer. Você devia achar algo assim também pra você.

Ela puxou o caderno que estava ao seu lado e jogou no colo dele.

– Talvez eu tenha achado. - Havia desenhos enchendo cada página daquele caderno, a técnica era impressionante e o estilo bem característico, com alto contraste de claro e escuro.

– Esses desenhos estão lindos, Nina! Coisa de profissional!

– É... Antes da Corte, era isso que eu fazia... Eu me formei em Belas Artes na faculdade. Parece piada, né?

– Que nada! - ele parou por um momento – Ei, o que você acha de fazer o logo do meu restaurante? Não posso pagar agora, seria mais um investimento entre amigos...

– Não tenho nada melhor pra fazer e você está me deixando viver de favor, é o mínimo que posso fazer. - ela sorriu.

Eles se abraçaram e Alain foi dormir, deixando Nina sozinha com a noite. Ela soltou um suspiro e apoiou a mão sobre o caderno fechado. Sentiu o movimento dos desenhos contra sua palma, lutando para sair, esperando seu comando.

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