Capítulo 31

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LIZA

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LIZA

Se você aceita casar comigo

Estava sentada num dos primeiros bancos da van que levaria a congregação a uma culto fora da cidade, olhando pela janela, quando Nicholas me chamou:

― Posso sentar aqui?

Meneei a cabeça negativamente. Ele ergueu uma sobrancelha e cambaleou quando o automóvel começou a andar.

― Vou ter que sentar, de qualquer jeito. Não tem outro lugar.

Então, sentou-se e pôs o cinto de segurança. Só percebi que estava prendendo a respiração algum tempo depois, quando me acostumei com sua presença. Minha mãe e meu pai conversaram um pouco com ele, já que eram vizinhos de banco. Eu não entendia como tinham tanta intimidade...

― Está chovendo, né?

Não, está caindo água do céu...

― Sim.

― Tudo bem com você?

Soltei o ar.

― Sim.

― Está na sua programação essa resposta? "Sim", "Sim"...

Criei coragem para fitá-lo. Nunca estivemos tão perto. Nenhum de nós sorriu.

― Gosto de apreciar as paisagens.

― Eu também ― e continuou me olhando. ― Mas dias de chuva me deixam meio blé ― fez careta e desenhou uma carinha triste na janela, com o dedo.

Apaguei e no lugar fiz uma careta mostrando a língua.

― Dias chuvosos são meus preferidos.

Nos encaramos mais uma vez, até que ele vacilou com um sorriso. Desviei os olhos e depois pus os fones de ouvidos e não os tirei até chegarmos no destino final.

***

A casa onde chegamos era aconchegante. Com sua estrutura de madeira desgastada pelo tempo, emanava um calor acolhedor devido à lareira acesa no centro da sala. Os sofás e poltronas serviam de assento para alguns irmãos, enquanto outros aproveitaram para se assentar à mesa da cozinha que era acoplada com a sala.

Minha mãe me chamou para louvarmos juntas o hino inicial. Nicholas foi o violonista.

― Paz seja convosco. ― ela segurou minha mão, diante dos irmãos ― Queria dizer que estou muito feliz de participar desse culto juntamente da minha família. É o primeiro de muitos, em nome de Jesus.

A igreja presente respondeu entre "glória a Deus", "louvado seja Deus" e "amém".

Entoamos um hino do hinário e as oportunidades se seguiram. Tivemos mensagem e até alguns testemunhos. Logo após o culto, a irmã Joana e o irmão Toinho, que eram os anfitriões, nos direcionaram à cozinha para a janta, mas eu estava me sentindo um pouco sufocada e decidi ir para a varanda.

O ar puro e frio me arrepiava, junto da escuridão da densa mata ao redor. Outros irmãos também estavam ali, o que me aliviava a consciência de estar sendo anti social.

Inspirei e expirei várias vezes e, nesse ínterim, minha mãe encontrou-me após alguns minutos de tranquilidade.

― Betie, não pode ficar nesse frio...

Ela estava acompanhada. Nicholas entregou-me um prato de sopa.

― Obrigada... e, mãe, eu só estou... hum... respirando fundo. É importante pra mim.

― Você nem trouxe seu cachecol, querida. ― suas mãos quentes pousaram sobre minhas orelhas geladas e eu dei uma risada. ― O clima lá dentro está bem melhor. Vamos?

Meneei a cabeça negativamente.

― Vai ficar aqui mesmo? Olha que no interior tem lobisomem, não é irmão Toinho? ― Nicholas deu um grito. O senhorzinho, que passava para entregar sopa aos outros, tomou um susto. Ele tapou a boca, envergonhado, e se desculpou juntando as mãos.

Acabou nos arrancando uma boa risada. Depois disso, tocou no ombro da minha progenitora e sorriu:

― Eu faço companhia para ela.

Recebeu uma piscadela como resposta, antes que mamãe sumisse de nossa vista.

Tomei um pouco da sopa. Estava deliciosa. O caldo era rico e encorpado, enquanto eu podia sentir também a doçura sutil dos legumes frescos. Saboreei aquilo com tanto gosto que até esqueci que Nicholas ficou ali, me observando com olhos pidões.

― Quer?

Ele meneou a cabeça negativamente, rindo.

― Só estava te observando.

Quase me engasguei como na noite do jantar, há alguns dias.

― Preciso te perguntar uma coisa ― falei, depois de aproveitar bastante a sopa. Deixei-a de lado, um pouco.

― Fique à vontade.

Não gastei tempo para construir o questionamento:

― O que está acontecendo com você?

Ele deu um sorriso desentendido.

― Como assim?

― Não sei... acho que... parece... meio... perto demais.

Soltei o ar e vi-o engolir em seco.

― Estou incomodando?

Neguei imediatamente. Não queria que ele me entendesse errado.

― Seja sincera.

― Não, Nicholas. Eu só...

― Tudo bem. Eu posso estar te deixando sufocando e não quero isso. Também não quero que me interprete errado. Preciso ser real com você.

Como assim real?

Foi a minha vez de engolir em seco.

― Você já pensou em se casar, Liza?

Emudeci. Meu coração passou a bater descompassado, ecoando nos meus ouvidos enquanto eu lutava contra o nervosismo que me dominava. Minhas mãos ficaram trêmulas, incapazes de encontrar conforto uma na outra.

― Liza...

A cara de assustado dele, no meio de toda minha crise, foi como uma faísca para o riso nervoso que borbulhou dentro de mim. De repente, uma risada escapou de meus lábios, fraca no início, mas rapidamente se transformando em um riso incontrolável. Era como se toda a tensão acumulada dentro de mim estivesse sendo liberada em uma explosão de risadas.

Ele se contagiou. No início, um sorriso tímido se formou em seus lábios, mas logo se transformou em uma risada franca e calorosa. Seus olhos brilhavam com a mesma alegria que os meus, e juntos, começamos a compartilhar aquele momento de puro deleite.

Respirei fundo, quando me controlei um pouco. Pus a mão no peito e indaguei:

― O que você tinha perguntado mesmo?

Nicholas, sério, cravou os olhos nos meus:

― Se você aceita se casar comigo

Até que te encontreiOnde as histórias ganham vida. Descobre agora