Hugo - Capítulo I

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Elas já olharam discretamente para cá duas vezes. Eu percebi. Acham que foram sutis, que estou alheio à conversinha baixa seguida pelo movimento discreto de cabeça, mas não estou.

Também percebi o sorriso da amiga loira e o olhar de empolgação da outra, que é mais loira que a primeira.

Deus, achei que estivessem em extinção, mas aparentemente existem algumas sobreviventes.

Fãs.

Ajeito meu corpo na cadeira desconfortável da sala de embarque enquanto aguardo o chamado para meu voo.

É clássico encontrar pessoas famosas em aeroportos. Até parece que esbarrar em uma celebridade faz parte do pacote da ponte aérea.

"Pague um acréscimo de 15% no valor da passagem e tenha a sorte de cruzar com algum famoso pelo seu caminho!!!!!"

Estou tomando mais um gole da minha Coca quando percebo o olhar das meninas em mim – de novo. Sorrio com o canudinho preso entre os dentes enquanto faço a minha melhor expressão Bruno-Ama-Michele, em referência ao par romântico da minha novela.

Caramba, nem meu sorriso sexy continua sexy com um canudo atravessado.

Melhore, Hugo, melhore.

De qualquer forma, elas riram. Isso mesmo, riram envergonhadas antes de fingirem prestar atenção em uma mãe que brinca com o bebê de colo.

Adoro essas meninas.

Não elas, necessariamente.

Adoro esse tipo de fã que é legal demais para vir falar comigo e pedir um autógrafo. "Claro" que acredito que elas não estão entrando em combustão interna pela sorte de encontrar Benjamin García. O cômico é a necessidade tola de agir como se isso não fosse grande coisa.

Como se eu não fosse grande coisa.

...Afinal, toda fã-que-se-acha-legal-demais-para-ser-fã faz isso porque crê que tem mais chances de virar melhor amiga da celebridade em questão se conseguir manter a calma e agir com naturalidade.

Elas parecem tão naturais quanto os pinguins de Madagascar, pelo amor de Deus.

Olho para elas mais uma vez, desta vez enviando o pensamento de "venham logo, moças, eu posso dar um autógrafo e até tirar uma foto (duas, se vocês não foram naturalmente fotogênicas), mas daqui a poucos minutos meu voo será chamado e eu irei embora. Se eu for embora, vocês perderão essa oportunidade incrível!".

A narina da garota mais loira se expande e suas sobrancelhas se apertam no meio da testa. Ela parece levemente desconcertada diante da minha abordagem psíquica objetiva, então vira-se para a amiga e sussurra alguma coisa em seu ouvido.

"Ele está olhando para cá! Parece convidativo! Vamos pedir seu autógrafo!" ela deve ter dito.

Confiro o horário no meu celular. Meu avião já está dois minutos atrasado, mas a movimentação diante do portão de embarque indica que muito em breve serei chamado.

Primeiro idosos, adultos acompanhados de crianças e pessoas com necessidades especiais.

Depois o resto.

Eu, no caso, faço parte do resto.

Não posso reclamar, porque não estou velho (vinte e três anos não é tanto assim); não tenho filhos (conhecidos) e tampouco porto qualquer tipo de deficiência.

Sou apenas o cara mais famoso do Brasil.

Perdão, fui.

Não precisa jogar na cara.

Brioche? (SUSPENSO :(  )Onde as histórias ganham vida. Descobre agora