Capítulo 11 - A passagem de Tempo e os Legisladores

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Estela foi puxada para longe sob os olhares perversos do casal real. Deixou o salão principal do castelo e foi conduzida pelos soldados para a prisão localizada nos calabouços do palácio sem ainda entender o grau de crueldade da sua pena. Entregue aos responsáveis do lugar, foi imediatamente jogada em uma cela escura.

Agarrada as grades enferrujadas ainda acompanhando a saída dos que a tinham deixado ali, teve uma curiosa sensação. Foi como se reencontrasse o cárcere; como se não fosse a primeira vez que estivesse ali.

— O que isso significa? — disse num misto de curiosidade e espanto.

Afastou-se para o canto da sua prisão. Sentou-se. O que seria de si? Era a primeira vez que pensava nos seus atos desde a ação de enterrar Adrianna. Teria sido imprudente? Agora lhe parecia triste morrer ali de fome e sede. Ouviu passos e o desespero ou esperança a impulsionou de volta às grades.

— Como está a minha paciente? — era Tempo que passava com as mãos nos bolsos do jaleco.

— Tempo! Ajude-me!

— Ora, Estela, estou só de passagem!

Ela agarrou o jaleco do médico.

— Me tire daqui!

Ele sorriu surpreso. A cartola verde entortou-se em sua cabeça. Respondeu:

— Só você pode ajudar a si mesma. Por falar nisso, obrigado por ter me recebido de minha mãe.

Estela o soltou. Indagou-lhe:

— O que foi aquilo? Foi real?

— Sempre querendo saber se o que vive é real! Não lhe pareceu real o bastante? O que está vivendo agora, não é de verdade? Aproveite o tempo para pensar na solução — e desapareceu diante dos olhos desesperados da prisioneira.

Estela suspirou. Ajoelhou-se. Por si mesma deduziu estar desesperada e que deveria se acalmar para recuperar a serenidade. Talvez se vasculhasse os acontecimentos pudesse encontrar algo. Recordou da sua velhice, da operação de Tempo, de Sofia e Salomão. Da filha, neta e Amélia. O esbarrão que dera no médico quando este lhe explicou que o coração-relógio havia se integrado ao seu corpo, de forma que não era mais preciso voltar ponteiros nem vê-lo no peito para saber do seu funcionamento. E veio-lhe a resposta! As grades eram projetadas para adultos! Se fosse criança poderia passar entre elas e se ver livre!

Fechou os olhos e acreditou com todas as suas forças que era possível; que realmente existia o coração-relógio; que poderia voltar a ser criança. Ao abri-los, a roupa estava grande. O corpinho foi experimentado nas grades, era o suficiente para transpassá-las. Estela improvisou uma nova vestimenta utilizando-se da que usava como adulta. Partiu-a, ajeitou aqui e ali e fez o seu vestidinho.

Os passos ligeiros e curtos da criança seguiram livres, mas cautelosos. Escondendo-se entre as pilastras que sustentavam o lugar, Estela não foi notada por nenhum guarda. Quando chegou à superfície, nos fundos do castelo, foi mais fácil. Misturou-se às outras crianças que estavam por perto e seguiu com elas, fingindo brincar, afastando-se segura da prisão. À vontade, indagou a um garoto se sabia da saída do reino e foi informada que havia uma, secreta, dentro do castelo de Jorge III.

— Vamos, todos, acompanhá-la! Será uma grande aventura! — disse o garoto com entusiasmo depois da explicação.

Entraram Estela, duas meninas e três meninos no castelo por uma passagem lateral, pouco utilizada. O bando infantil corria pelos corredores do palácio fazendo algazarra, o que despertou a atenção dos soldados. Houve a perseguição, o que era divertido para os arruaceiros, menos para Estela, que, então, entrou por uma porta aleatória desembocando em uma grande sala.

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