Epilogo

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Na parte equatorial de Marion era onde existia a planície seca, o tempo normalmente era nublado com um avermelhado sangrento no céu. Nenhuma árvore havia ali, o solo marcado com rachaduras estendiam- se por toda província de Svartalfheim.

Na beirada do penhasco erguiam-se as torres pontiagudas negas, todas as vinte formando um círculo perfeito ao redor do grande e majestoso poço negro da divindade.

O vento ecoava um uivo sombrio pelo ar ao bater nos grandes paredões dos rochedos.

Era tarde e as senhoras de estado dormiam todas em seus covis a portas fechadas.

Ursula acordou assustada soltando um grito de terror. Demorou algum tempo até recuperar o fôlego. Percebeu que seu grito não foi único nem silenciado pelo vento forte que atingia o rochedo.

As demais senhoras de estado acordaram todas sobressaltadas com a mão no peito gritando junto a ela.

A pressão era forte rasgava-a de dentro pra fora. Olhou seu corpo nu com a pele coberta pelo pó negro e tentou concentrar-se em sua mágica.

Estava velha, seus ossos doíam, esperava pela morte a alguns anos, mas sabia que ainda faltava um tempo antes de partir.

Apoiou-se nos móveis até a capa vermelha que prendeu pelo pescoço. Era apenas uma formalidade vestir-se em uma ocasião como essa.

A magia era fraca em seu corpo mas suficiente para entender o que estava acontecendo. Uma história havia de ser contada. Explicações deveriam de ser dadas. E culpados haveriam de ser punidos.

Ursula deixou o covil andando pelos corredores da torre. Passos acompanharam os seus pelo caminho que percorreu.

A cada porta que passava senhoras de estado ainda nuas como dormiam, saiam de seus dormitórios e seguiam silenciosas os passos daquela à qual deviam suas vidas.

Ursula desceu a torre com pelo menos trinta e quatro mulheres e meninas atrás de si. Encaminhou-se para o centro onde o largo poço de águas negras feito de pedras estava.

Era onde faziam os rituais de iniciação, adoração e disseminação do pó por toda Marion.

As bruxas provenientes das demais torres saíram e postaram-se todas formando duas fila circulares ao redor do largo poço. As mais jovens atrás e mais velhas à frente.

Ursula deu as mãos a Naomi e Katri as duas senhoras de estado tão idosas quanto ela. Em seguida todas as mulheres deram-se as mãos.

O poder começou a fluir e o corpo nu das bruxas manchados por pó começaram a acender. O pó desprendia-se delas deixando-as de aparência tão normal quanto qualquer outra mulher.

Ao unir-se no centro do grande poço de águas negras a poeira iluminou-se para um tom claro, ligeiramente azulado formou-se estrelas de cinco pontas uma acima da outra onde cada estrela ligava uma bruxa a outras quatro e assim até que todas estivessem ligadas entre si.

Uma nuvem com imagens da vida de um lobo, um espectro e uma menina começou a passar na sua frente. Foi quando entenderam. Valkiria era pior do que pensaram que poderia ser.

A maldição que lançaram sobre ela e suas descendentes havia sido quebrada por Misha. A maldição do lobo permanecia naqueles incapazes de doar seu coração de forma completa a uma bruxa. E o garoto que amou a bruxa com todas as suas forças havia sido colocado à prova.

Seu espectro fora enviado para o limbo, e lá ele ficaria até que Rudah monstra-se capaz de quebrar a maldição reconstituindo a confiança de Valkiria nos homens de Marion.

Um forte poder explodiu as nuvens e as bruxas foram lançadas para trás caindo uma em cima das outras.

A risada de cruel de Valkiria ecoou, e um recado ela enviou através do poço das águas negras.

- Pensavam minhas queridas que podiam amaldiçoar-me assim? Estavam como de costume enganadas. Nos encontraremos em breve. Preparem um festejo digno de sua senhora.

Ursula, foi apoiada por Tâmisa uma jovem de apenas dezesseis anos que a pouco havia juntado-se as senhoras de estado. Agradeceu a menina em seguida olhou para o poço. Não havia mais as estrelas, nem as nuvens com a história do espectro nem a voz de Valkiria. O poço estava tranquilo como sempre esteve.

Virou a cabeça para Naomi primeiro. E ela logo lhe perguntou.

- Nossa maldição foi mesmo quebrada? - sua voz era de extremo terror.

- Temo que sim. - Ursula respondeu olhando para as demais bruxas a sua volta.

- Crês que ela virá para nos matar? - Katri pergunta logo em seguida colocando-se ao lado das bruxas mais antigas de toda Marion.

- Valkiria sabe que não tememos a morte. Nossa preocupação não deve ser conosco, mas com os seres de Marion. São eles e somente eles que ela irá atingir. - Ursula fala.

- O que faremos para ajudar o espectro? - Naomi pergunta com pena. Um calafrio percorre sua espinha só de pensar em como deve ser terrível ir parar no limbo.

- Só Valkiria e sua maldição tem o poder de tirá-lo de lá. O garoto será testado. Caso ele parta o coração da menina como os homens de Valkiria fizeram com ela. Temo que ele nunca se livrará da maldição do lobo. - Ursula balança a cabeça pesarosa.

Como foi capaz de deixar isso acontecer? Culpava-se a todo momento por deixar Valkiria perde-se na escuridão, era sua melhor e mais fiel pupila. Preparava-a a tanto tempo para assumir as rédeas do planeta quando partisse para o nível mais elevados.

Eram amigas, eram uma dupla imbatível. E condenar uma pessoa que tanto amava era o pior dos castigos e fardos que podia carregar nessa vida. Queria uma nova chance para mudar e fazer tudo diferente.

Sabia que a oportunidade estava por vir. A única coisa que precisava fazer era aguardar.

- O que faremos então? - Tâmisa arrisca-se a perguntar.

- Aguardaremos, menina, aguardaremos. - disse Ursula calmamente pegando de volta sua capa vermelha amarrando os cordões dourados no pescoço nu.

Andou de volta para sua torre resmungando sozinha.

- Valkiria irá voltar. Ela estará aqui em breve. Tenho que preparar sua chegada. Ela voltará.

O Espectro (Segredos de Marion #1) ✔Onde as histórias ganham vida. Descobre agora