Capítulo 07 - Mesmo que haja desconfiança?

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Entre Sem Bater

Por Andréia Kennen

Capítulo 07

Mesmo que haja desconfiança?

— Ai. Está doendo. Não coloca com tanta força.

— Calma. Estou indo bem devagar.

— Não, não, não está. Não, para. Espera. Espera.

— Você chora demais. Está todo suado. E eu só coloquei a pontinha ainda.

— Mas está doendo.

— Você ainda é o mesmo bebê chorão de antes. Deixa eu colocar tudo de uma vez que a dor vai ser uma só.

— Não, não quero desse jeito — reclamei com uma voz chorosa.

— Tire a mão, está atrapalhando!

— Mas você prometeu que iria devagar, e não está cumprindo sua promessa.

— Se eu for mais devagar que isso, vamos terminar o ano que vem.

— Tá — suspirei fundo. — Pode colocar, mas...

— Era o que eu queria ouvir, agora vai!

Arqueei a cabeça para trás e não consegui segurar o grito quando senti aquela dor aguda.

— Ah!

— Santa Madre de Dios, Caiozito! Parece até que está tendo um orgasmo.

— Juro que eu fiquei com essa mesma impressão.

A voz repentina do Thiago me fez sobressaltar e afastar o Cassiano de perto de mim, ele tinha se aproximado demais para poder colocar o pircing no meu nariz.

— Mas é que doeu. Você foi muito mal, Cass.

— Não me chame desse apelido de trolo (1) que tu sabes que eu não gosto.

— "Argentino" cai bem melhor — Thiago balbuciou, voltando a sentar na frente da televisão para assistir o documentário financeiro que ele tinha alugado para fazer o trabalho de economia do professor Rogério.

— Fica na sua aí, ô, Thiaguito. E que mierda é essa que tú estás assistindo? Bota no futebol! E pega una birra(2) para todos nós! Pega somente para usted! És um boludo(3) mesmo!

— Vocês estão muito ocupados se pegando no momento, não vão querer beber.

— O Cassiano só está colocando o pircing que eu pedi — eu o corrigi rapidamente.

— Como se ele não tivesse quatro olhos na cara para não ver esto! Ah, ele só está de marra, Caiozito. Ciúmes desse corpo aqui, que Dios modelou com mais perfeição que o dele. — O Cassiano apontou para o próprio corpo, olhando de soslaio para o Thiago. Eu podia afirmar que se tornara a diversão dele, desde que voltara da Argentina, alfinetar o meu namorado. — Agora larga a mão desse vacilão e vai olhar no espelho como ficou tu pircing.

— Está sangrando? — eu perguntei antes de me mover.

— Está tudo certo, pibe (4)! Olha lá.

Eu fiquei com receio de levantar, não por causa do pircing, era outro tipo de receio. Mas levantei assim mesmo, e quando passei pelo Cassiano o meu temor se concretizou em forma de pesadelo. Ele fez aquilo: me deu um baita tapa na bunda. Foi tão forte que o barulho do estalo ecoou pelo meu pequeno quarto e sobressaiu até mesmo o barulho da televisão que o Thiago assistia.

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