1 - PILOTO (Parte I)

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- Eu vou sair também. A sua tia Glória ficou doente, e eu acho que vou ter que ajudá-la nas atividades de casa. Por via das dúvidas leva a sua chave.

- Tá bem. - Eduardo voltou até a sala, e foi achar um pequeno prego onde geralmente haviam duas chaves: a dele e a de Júlio. Ele pegou a chave e a colocou no bolso. 

- Tome cuidado, filho!

- É. Atravesse quando os carros estiverem passando rápido. - Disse Júlio com uma ponta de maldade saindo da mesa e indo procurar os livros que estavam no sofá, que ele deixara na noite anterior para facilitar a própria vida.

Quem dera tivesse coragem de fazer isso, pensou Eduardo. Não sabia se seria exatamente ruim o dia, uma vez que voltaria aquele mundo, que pra ele começara a ser estranho há alguns semestres. O mundo dos héteros, ao qual ele não se adaptava. E pior ainda, agora ele não sentia mais só atração pelos garotos como acontecia antes, agora, depois destas férias frustradas, ele sentia também medo de sentir atração pelos garotos. Medo de cair em tristezas sentimentais. Ele não podia saber se o dia seria ruim ou bom, mas ao sair, a luz do sol bateu em seus olhos ainda mais forte do que ele pensara, ficou quase cego, e foi andando sob o caminho que ele lembrava, sem olhar direito para a rua. Isso só poderia ser um sinal que o universo estava mandando para ele ficar em casa, pensou.

Mas a rua estava muito bonita, pensou quando finalmente abriu os olhos. As flores de dona Lucinda desabrocharam. Ele sentiu um doce perfume vindo no ar, e ai decidiu abrir os olhos por completo e ver, do outro lado da rua, aquelas obras de arte florescendo sobre os canteiros ao pé da janela e do lado da porta. A casa de dona Lucinda, tinha um caminho de pedras que levava até a entrada. Ao redor deste caminho de pedras havia grama, sobre a qual A SENHORA de uma majestosa árvore bastante foleada se exibia. Embaixo da árvore, dormia Lancelote, o cachorro de dona Lucinda. Era um vira lata castanho claro, muito simpático por sinal.

Antes da casa dele, e de dona Lucinda, haviam ainda diversas casas, casas essas que haviam sido construídas durante o ultimo período em que a população da cidade deu um salto, no início do século vinte. Palácio Dourado, não era exatamente uma cidade grande. De médio porte, sua população de cerca de 200 mil pessoas, conservava um espírito de interior. No início do século passado, uma grande quantidade de ouro fora descoberta nas redondezas, o que favoreceu um grande fluxo populacional a se mudar. Barões do ouro -  como eram chamados os ricos que obtiveram essa condição a custo do trabalho de mineradores -,  construíram grandes e vistosas moradias, vilas muito requintadas, para a época, e influenciaram na criação de estradas, parques, praças, grandes escolas e uma universidade da casa, que acabou por ser o grande motivo pelo qual, a cidade continuou crescendo, mesmo que aos poucos.

A casa em que Eduardo, Júlio e sua mãe moravam, era de herança de um avô, que havia sido um dos barões do ouro. Muitas outras casas na rua, eram ocupada por universitários que frequentavam a universidade, que ficava apenas há algumas quadras. Havia também a casa de dona Penha e suas duas filhas. Uma tinha mais ou menos a mesma idade que Eduardo e a outra era cerca de quatro anos mais nova. Todos naquela casa viviam bastante trancafiados, sem ter muito contato com as pessoas da rua. Ali também morava, mas bem raramente, o marido de dona Penha, um caminhoneiro, de quem ela recebia muitos chifres, pelo correio, e escondia dentro de um cofre de mais de quatrocentos anos, que a família herdara como presente da coroa portuguesa.

Do lado oposto, havia a casa de Daniela, a melhor amiga de Eduardo. Era uma garota lésbica que se mudara para a cidade há uns 3 anos, e de quem Eduardo ficou amigo logo na primeira noite em que a viu brincar no parquinho ali perto. Nesta época com treze anos, ele ainda saia de casa frequentemente, e brincava junto com Júlio, com os meninos do bairro. Antes que Eduardo precisasse apertar a campainha, Dani vinha saindo. Usava o uniforme da escola e uma presilha vermelhas no cabelo como era bastante comum. Ela bateu o portão e veio correndo na direção do menino:

- Você não vai acreditar no que aconteceu!

- Você também se atrasou? Venha, ande rápido, não preciso de mais pontos negativos, você sabe que meu histórico não é muito bom.

- Não... não é isso, é que uma coisa muito séria aconteceu.

- O quê?

- Roubaram nossa rua ontem.

Eduardo olhou ao redor, tudo parecia em ordem. O carro vermelho do pai de Dani ainda estava lá. Sem nenhum arranhão.

- Eu não vejo nada de diferente.

- Meu celular foi roubado...

- Como você sabe que ele foi roubado?

- Deixe que eu termine: Arrombaram a nossa porta dos fundos ontem, roubaram meu celular, e só não roubaram a casa da dona Lucinda por que o cachorro dela latiu e ela acordou.

- Nossa... isso é sério?

- Sim, é! Minha mãe vai inclusive ver se os universitários ligaram as câmeras ontem, pra ver se identificam alguém. - Algumas casas da rua eram patrimônio histórico municipal, por isso, após uma onda de vandalismo em 2014, a prefeitura resolveu instalar câmeras com o objetivo de frear os criminosos.

- Isso explica o sumiço da sanduicheira lá em casa. Você sabe que a porta dos fundos é muito sensível,  conseguiriam abri-la sem fazer barulho nenhum.

- Eu sei disso. - Dani estava lembrando da noite em que voltou bêbada de uma festa e teve que dormir na casa de Eduardo pra que sua mãe não percebesse. Infelizmente eles chegaram mais de duas da manhã, o que com certeza iria dar uma briga com dona Helena. Então, eles simplesmente empurraram a porta fazendo um pouco de força para cima, e lá se foi, magicamente estava aberta.

- Pois é. - Concordou o menino do cabelo bagunçado, enquanto andava o mais rápido que podia, e Dani, quase a arfar atrás dele dizia:

- Isso é horrível, essa criminalidade toda... só tem uma coisa boa em tudo isso.

- Qual?

- Meu pai vai me levar no shopping depois da aula, pra que eu compre um novo celular.

E lá foram, ambos descendo a avenida Leão e Castro  rumo à escola. Ao chegarem, na entrada, havia um grande número de alunos fora da escola, conversando em círculos, em grupos de três ou quatro, e dentro também parecia ser assim. Uma grande parte dos estudantes daquela escola já não eram estranhos nem para Eduardo nem para Daniela. Eles estavam inciando o segundo semestre do segundo ano. Até a chegada à sala, nada de anormal, exceto pela excitação dos estudantes, que estava de mais para uma segunda-feira. Mas, devia ser por que muitos deles passaram um mês sem se ver, pensou Eduardo.

Quando ambos entraram na sala de Aula, e procuraram pelo lugar onde sempre sentavam, eis que houve um problema: alguém estava sentado lá. Dani não pôde notar de imediato o problema pois foi abraçada por Sara, uma amiga. Mas Eduardo sentiu a dor de um tiro. Os cabelos do garoto tinham lindos cachinhos, sua pele era morena clara, bem bronzeada, como a de um surfista. Usava uma corrente grossa cor de prata no pescoço, e quando uma outra aluna da turma chegou para cumprimenta-lo, ele sorriu e uma linda covinha se fez no rosto dele. 


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