BÔNUS: AUGUSTO MARQUES

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Nunca falamos sobre isso, pelo menos eu nunca falei sobre isso com ela.

Eu tentei por um tempo, tentei mesmo, mas sempre que tentava entrar no assunto Anna, ela me barrava. Forcei a barra em algumas situações – admito mesmo, não sou perfeito –, mas percebi que falar sobre aquilo machucava Bruna. E então simplesmente parei.

Depois disso passei a acreditar que a iniciativa teria que partir de Bruna para falarmos sobre isso. Primeiro porque iria mostrar que ela estava pronta para falar sobre aquilo comigo. E segundo porque...  Eu sempre soube que no momento que falássemos sobre o relacionamento dela com a Anna, eu iria abrir uma porta e falar sobre o nosso relacionamento também. Aí sim eu iria pedir uma explicação pelo nosso término e não pararia até ter uma. Parece que ela sabia disso também e, por isso, nunca tocou no assunto comigo.

Demorou um tempo, mas ambos conseguimos superar nossos términos de relação. A Bruna foi mil vezes mais rápida do que eu, nem de longe estou julgando, apenas relembrando tudo que aconteceu nesses três anos.

Quando ela e a Anna terminaram, não posso mentir e dizer que uma parte minha não criou uma esperança de que nós pudéssemos voltar. Sei lá, recomeçar novamente sempre me pareceu uma ótima coisa. Não foi o que aconteceu, claro, mas o lado bom da coisa – fico feliz mesmo e assumo – é que ela não voltou a se relacionar com ninguém durante esse tempo.

Foram quase três anos separados e mesmo assim nada me fazia superar a Bruna. Tenho dúvidas se algum dia vou conseguir superar tudo que senti e vivi com ela.

Bom, agora voltando para o tempo atual e encerrando a sessão de flashback, foi por isso que não perdi aquela oportunidade que a vida gentilmente me ofereceu.

Roubei o quarto da minha melhor amiga bem na madrugada do aniversário dela, mas seria por uma causa nobre.

Duas coisas poderiam acontecer dentro daquele quarto. Apenas uma me soava realista o bastante para me fazer seguir em frente: finalmente poderia entender o motivo de termos terminado. Talvez eu precisasse escutar de Bruna isso para superar, seguir em frente e poder me abrir para experiências amorosas novas. Seguir em frente.

Eu não gostava muito dessa opção, mas ela era mil vezes mais realista do que a segunda.

Também tinha a segunda coisa possível daquela noite: poderíamos voltar a sermos como éramos antes. Aquela porcentagem era quase nula, mas ela existia e preenchia o meu peito de tal maneira que eu nem acreditava ser possível.

A gente se beijou aquele dia aqui na casa da Maria Luísa e por mais que eu fique falando que foi algo "sem querer" ou algo do tipo, melhor do que ninguém eu sei que aquilo não foi um deslize ou um descuido. Eu a beijei sim e ela retribui, sim. Retribuiu de tal maneira que nem sei descrever.

Tinha tanta coisa naquele beijo. Saudade, ansiedade, receio, dúvidas, mas tinha tanta vontade. Vontade de quero mais, de mais toque, de mais paixão, de mais tempo, de mais tudo. Podia ter receio no meio daquilo tudo, mas tinha fogo também. E tinha sentimento. Ah, como tinha sentimento de ambas as partes.

Aquele beijo nem de longe foi um erro, ele foi a coisa mais certa que já fiz na minha vida até esse exato momento. Não foi um descuido, ao contrário, foi algo planejando em cima da hora por ambas as partes, mas não passava perto de um descuido.

Beijar a Bruna aquele dia foi tão certo, mas tão certo, que tornava a minha atitude do momento a seguir apenas mais correta ainda.

Ok, sendo o mais sincero possível: duvido e muito que algum de nós realmente tivesse ficado levemente bêbado naquela noite. A Maria Luísa ficou alegre e a Júlia bastante alegre, mas o resto de nós permanecia normal. Chamar o Samu de brincadeira não é um sinal claro de embriaguez, longe disso, eu sempre fazia essa gracinha apenas para agradar a Maria Luísa e a fazer rir. E ela ria. Muito mesmo.

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