Prólogo

17.1K 850 36
                                    

— Kevin! Por favor, não vá! Kevin! –gritei aos prantos agarrando-lhe o braço e tentando força-lo a ficar

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.

— Kevin! Por favor, não vá! Kevin! –gritei aos prantos agarrando-lhe o braço e tentando força-lo a ficar.

— Eu não consigo aguentar mais isso aqui, Lizzie... Eu simplesmente não consigo! – Kevin disse me olhando fixamente nos olhos. Eu podia senti-lo, eu devia entendê-lo, mas eu não conseguia aceitar. Sean interviu afastando-me bruscamente e lançando-me contra sua mesa.

— Saia! Ande, bastardo, se apresse! – Sean gritou apanhando a mochila de Kevin e jogando contra seu peito, o enxotando para fora da sala como um cão. – Suma daqui de uma vez por todas e não se atreva a aparecer por aqui outra vez! – continuou a berrar enquanto agarrou a gola do moletom de Kevin e o arrastou até a porta de saída da boate.

Levantei-me com uma das mãos pressionando o quadril, onde havia batido de forma violenta contra a mesa, e corri até a porta da sala. A Casa estava cheia. A música era alta como de costume, mas isso não impediu com que todos voltassem sua atenção a Sean arrastando Kevin pela aglomeração de pessoas. Assim que vi Sean o lançando para fora da Casa e o tratando como um indigente, minhas pernas fraquejaram e caí arrastando as costas contra a parede. Encolhi-me ali, abraçando meus joelhos e abaixei meu rosto, deixando as lágrimas escorrerem desvairadamente.

— Mas que diabos, Elizabeth? Levante-se já daí! – Sean disse entrando repentinamente em sua sala. Preferi enganar a mim mesma e fingir que sua presença era algo de minha mente. Ignorei-o, continuando encolhida. Ouvi-o resmungar e logo seu pulso apanhou um de meus braços, colocando-me de pé com certa brutalidade. Abri os olhos já temendo por qualquer atitude inesperada, mas ele já havia se afastado. Aprontava um de seus charutos, acendendo-o logo em seguida e baforando a fumaça espessa por todo o cômodo. Dirigi-me até a porta, mas antes que eu pudesse tocar a maçaneta, sua voz irrompeu o silêncio de forma ríspida: — Espere... Volte e sente-se aqui. Quero conversar contigo.

— Sim...? –disse quase em tom de sussurro, assim que me sentei em seu sofá.

— Saiba que foi melhor assim. –Ele disse puxando uma cadeira e colocando-a bem a minha frente. Sentou-se e esticou-se para alcançar o cinzeiro. Eu mal conseguia manter qualquer contato visual com ele. Eu sabia que tudo o que sairia de sua boca seriam frases planejadas e nada daquilo faria me sentir melhor. – Seu irmão é só mais um fracassado. Tê-lo aqui era só mais um gasto desnecessário, e você, melhor que ninguém, sabe que a nossa situação não está boa a ponto de sustentar um viciado imprestável.

O máximo que consegui fazer foi comprimir os lábios a fim de conter as lágrimas que insistiam em querer saltar de meus olhos. Eu acenava confirmando cada palavra de Sean. Mantinha meus olhos fixos nos pés de sua cadeira e tentava escapar de meus pensamentos.

Kevin era a única família que me restava desde que mamãe morreu. Talvez por ser o irmão mais velho, seu modo de enfrentar a morte de nossa mãe tenha sido mais extremo. De fato, nunca tivemos uma mãe. Ela dizia que já havia feito sua parte, que era nos dar uma casa para morar e colocar comida na mesa. Tudo isso só fora possível, pois recebia a pensão que meu pai nos deixara após sua morte. Nunca conhecemos nosso pai, mas sabíamos que ele havia sido Militar.

Mamãe era viciada em jogos e soníferos. Passava a maior parte do tempo em cassinos, becos e vielas. Qualquer lugar em que existisse jogatina, lá estava ela apostando até mesmo dinheiro que não tínhamos. Quando não estava jogando, estava em casa, resmungando e praguejando contra a vida, se abarrotando de soníferos para fugir de qualquer responsabilidade. Conheceu Sean quando passou a se prostituir para arcar com as dívidas dos jogos. Sean sempre se envolveu em esquemas de prostituição, onde aliciava mulheres e mantinha várias casas noturnas. Mamãe se apaixonou por ele e acabaram firmando um relacionamento. De todos os erros que ela cometeu em sua vida, confiar em Sean fora o pior deles.

Sean Copperfield. Esse era o nome do homem que um dia pareceu ser o padrasto que nos faltava. Quando eu era apenas uma adolescente, Sean sempre dedicava seus mimos a mim. Nunca ninguém havia me apresentado afeto e foi nele que pude conhecer tal sentimento, mas foi em meu amadurecimento que passei a enxergar os olhos de Sean. Ele não tinha os olhos de um padrasto. Ele tinha olhos de homem. Olhos de um homem com intenções sujas.

Mamãe morreu em sua terceira overdose e a partir de então, Kevin se transformou. Começou a passar tanto tempo nas ruas que eu mal o reconhecia quando voltava para casa. Seu cabelo estava sempre grande, suas roupas sempre sujas e parecia sofrer de um resfriado incurável, pois seu nariz parecia sempre irritado. Mas eu sabia muito bem que não era nenhum resfriado. Ele havia se entregado às drogas. Furtava e se envolvia em brigas frequentemente, apenas para sustentar este maldito vício. Agora, havia perdido a cabeça e discutido com Sean, sendo expulso e jogado às ruas.


— Escute! – despertei-me sentindo meu corpo tremer-se por completo quando Sean segurou meu rosto, forçando-me a encara-lo. – Kevin cometeu o maior erro de sua vida quando saiu por aquela porta. Eu sei que você não será tão estúpida quanto ele em abrir mão de todas as mordomias que te ofereço, não é mesmo, minha bonequinha? – Sua mão soltou meu rosto, descendo por meu pescoço e continuando a trilhar minha pele. Seus lábios se curvaram em um breve sorriso maldoso e não consegui conter minha repulsa. Afastei suas mãos de meu corpo, saltando do sofá e correndo para fora de sua sala.



Biker BloodOnde as histórias ganham vida. Descobre agora