Capítulo 7 - A névoa

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Embora a neblina tivesse se dissipado um pouco, nem Lua ou estrelas se faziam visíveis no céu

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Embora a neblina tivesse se dissipado um pouco, nem Lua ou estrelas se faziam visíveis no céu. Keaven ia primeiro, a lanterna iluminando o trajeto, atento a cada metro vencido. Fazia frio, mas um frio estagnado, como se brotasse de dentro dos ossos e dali fizesse seu caminho para fora, arrepiando a pele. A vegetação enegrecida pela falta de luz não se movia, manchas de tons escuros borradas, estáticas.

— Esse lugar é muito esquisito — disse Felicia. — É como se estivéssemos parados no tempo.

— Você também sentiu? — perguntou Tomás. Transpirava muito; o peso de Leonard em suas costas começava a deixar de ser suportável. Felicia balançou a cabeça afirmativamente, agarrada ao braço de Rômulo.

Estavam caminhando há algum tempo, incapazes de precisar com exatidão; poderia ter sido um quilômetro ou três. A sensação de estarem conscientes dentro de um sonho era tão real que assustava. No entanto, ninguém expressava em palavras o que sentia. Via-se em seus olhares que estavam todos cientes de ocuparem o mesmo barco. Estavam à deriva, alheios ao que espreitava. Finalmente, depois de virar uma curva, avistaram a fachada de uma construção. Juntaram-se próximos à beira de um barranco, fascinados pela imponência do lugar. Era como um rei derrotado, deixado para apodrecer no campo de batalha.

Conforme aproximavam-se, descendo desajeitados (Tomás teve bastante dificuldade em descer com Leonard em suas costas, mas não o deixou em nenhum momento), notavam a invasão por parte da natureza sobre a prisão. Os tijolos escuros haviam sido tomados pelo mato e musgo, eras dominando toda a extensão das paredes. Um cheiro ocre vinha do lugar de janelas destruídas; poucas mantinham-se inteiras com grades enferrujadas. Ao redor do prédio um fosso era tomado pelas sombras. De suas profundezas subia vegetação ressequida; a profundidade era desconhecida. Podia conter água pantanosa, mato, rochas, ou nada. Uma ponte de pedra passava sobre o buraco e terminava num lance de degraus largos. Poucos metros acima havia um espaço circular, e adiante, a porta de entrada. Estava fechada.

Keaven adiantou-se, tentando abri-la. Houve resistência; as juntas do umbral haviam se esquecido como girar os ferrolhos. Sara chegou ao seu lado e o ajudou. Um de cada lado, empurraram novamente. Estalos ressoaram. Poeira caiu sobre suas cabeças. Com um impulso mais forte, as folhas se abriram. Os GENESI viram-se diante de um corredor largo, escuro. Os fachos das lanternas mergulhavam adentro, rasgando a escuridão, mas não encontravam o fim do caminho. Keaven fez sinal para que esperassem ali, e entrou.

Vasculhou ao redor. Não havia tinta nas paredes, nem mesmo resquícios. O prédio havia sido erguido de forma crua, sem atenção a detalhes. O intuito realmente havia sido o de criar um lugar para aprisionar gente da pior espécie, um buraco para indigentes, e não uma obra arquitetônica. O pé-direito era alto. A fonte de iluminação planejada havia sido também bastante arcaica. Suportes de metal estendiam-se pela parede, espaçados, com restos de tochas apodrecidas.

Após muito penetrar pelo corredor, Keaven chegou a uma área maior, abarrotada de entulho. Pedras, móveis quebrados — não soube dizer. Estava tudo muito bagunçado. A destruição era total. Apontou a lanterna para cima: a luz atravessou a balaustrada de grades estreitas e iluminou os pavimentos superiores, os quais levavam para cantos distintos da prisão. Havia uma infinidade de portas, superfícies negras, ferrosas; o lugar devia ser um labirinto para os incautos.

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