O Deus de meu pai

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"Aquele que peca é que morre. O filho não sofrerá por causa dos pecados do pai, nem o pai, por causa dos pecados do filho. A pessoa boa será recompensada por fazer o bem, e a pessoa má sofrerá pelo mal que praticar."

(Ezequiel 18:20 NTLH)

O Deus de Abraão. O Deus de Isaque. O Deus de Jacó. O Deus de José. O feito conquistado por Abraão é o sonho de todo pai cristão: ver o seu Deus se tornando o Deus dos seus filhos. Pais lutam da forma que podem, para que isso se torne realidade; ensinam, levam à igreja durante a infância, às vezes até mesmo obrigam os pequenos a participarem das atividades da igreja, contra sua própria vontade. Mas logo que a adolescência chega, um novo mundo se abre diante dos olhos desses jovens, que buscam identidade. E a busca por identidade, natural da adolescência, não parece combinar nem um pouco com a fidelidade aos preceitos do "Deus do seu pai". E assim, em busca de novos rumos e descobertas, jovens filhos de pais cristãos vão atrás do seu próprio destino.

Talvez aqui se encontre parte dos leitores deste livro. Jovens que cresceram seguindo a religião de seus pais, mas descobriram agora que aqueles conceitos simplesmente não cabem em suas vidas hoje. Parece que as respostas do cristianismo dos seus pais simplesmente não respondem as perguntas e necessidades que surgem hoje na cabeça. Até mesmo a forma de cultuar a Deus na igreja parece algo antigo, ultrapassado. A monotonia das igrejas tradicionais não combina com a agitação das festas e baladas frequentadas pelos amigos da escola. Até mesmo conceitos como humildade, arrependimento, desprendimento de vaidades, e o "tomar a cruz" parecem muito mais encarcerar em prisões do que libertar como dizem que as palavras da Bíblia fazem, ainda mais em um mundo que tenta nos convencer a todo o momento do nosso direito à busca livre pelo prazer.

De fato, o profeta Ezequiel, na citação acima diz que o filho não herda a vida espiritual do Pai. E é verdade: os tempos - e as demandas da juventude - mudaram. E muitas vezes é difícil entender isso quando se é mais velho, da mesma forma que é difícil para os mais novos entender o valor da experiência e da vivência. Jovens normalmente querem provar, experimentar e descobrir novos prazeres, querem mudar o mundo, e precisam de aceitação deste mundo em que vivem. É difícil conciliar o antigo evangelho dos seus pais e avós, que prega uma vida simples e provada com a vida prazerosa, porém falsa, vivida e pregada pelos amigos. Algumas igrejas até tentam transformar o Evangelho em algo mais "cool", para tentar segurar seus jovens. Com o sufixo "gospel", a igreja tenta santificar todo o tipo de atividade antes considerada imunda pela própria igreja. E o que vemos são ministérios se perdendo nessa tentativa de manipular o santo e o profano. A mensagem do Evangelho, palavras ácidas pronunciadas por Jesus, se tornam a água com açúcar que vemos muitas vezes nos dias de hoje. A igreja, em cima do muro, vai perdendo a identidade, tornando-se mundana demais para cristãos, e religiosa demais para mundanos. E é no meio desse cenário que se encontram muitos jovens, que tentam encontrar algum motivo para manter sua fé.

Meu conselho aqui seria o seguinte: permaneça. Permaneça diante de Deus, buscando-o. Permaneça, inclusive, na mesma igreja de seus pais. Às vezes, alguns jovens que não querem largar Cristo, preferem abandonar o som dos hinos congregacionais da "retrógrada" igreja de seus pais e seguir o som das pick-ups e guitarras das igrejas mais "moderninhas". Talvez isso funcione para alguns, mas meu sincero conselho seria que você permanecesse no mesmo local, focando sua busca menos em formas de liturgias e mais em conhecer o Deus que está acima de qualquer liturgia. Porque nenhuma forma de se achegar a Deus pode ser mais importante do que o achegar-se a Deus.

Mas, confesso que quando aconselho permanecer, estou dando minha opinião pessoal. E talvez não seja a opinião apropriada. E digo isso olhando para a Bíblia que me mostra filhos descobrindo Deus por si só, buscando suas próprias experiências. Jacó certamente aprendeu sobre Deus através de seu pai Isaque, mas só no conheceu através de suas experiências pessoais, o drama com seu irmão, e até mesmo na inusitada briga com um anjo. Da mesma forma, José, certamente ouviu todas essas histórias contadas pelo seu pai Jacó, e acreditou. Mas somente à beira da morte, lançado dentro de um poço, ou levado de um país a outro como escravo, ou preso, acusado de crime sexual, José pode conhecer o poder e o consolo de Deus por si só. Estes homens não serviram o "Deus de seus pais", mas conheceram Deus através das suas próprias dores. E é assim que acontece na vida de todos nós; por mais que ouçamos sobre Deus da boca dos nossos pais, apenas nossas experiências e dores pessoais nos farão conhecer Deus por nós mesmos. Só provamos as verdades das palavras dos testemunhos dos nossos pais quando Deus vem aliviar as nossas próprias dores. Às vezes isso acontece da forma mais leve, como o caso de um jovem em busca de um emprego, ou com dificuldade nos estudos, ou um jovem casal vivendo a aflição dos preparativos do seu casamento. Mas às vezes, isso acontece da forma mais difícil. Há jovens que só irão conhecer Deus no frio de uma prisão, com a consciência pesada por causa dos seus próprios crimes, e suas mãos sujas de sangue. Muitos precisam passar por experiências até mesmo tristes para conhecer e reconhecer Deus como seu Salvador.

Eu espero que em sua vida, leitor, as coisas aconteçam pela forma mais fácil. Que você não tenha que dar voltas tão longas para conhecer o Deus de seu pai, que na verdade, é o seu Deus.

Um livro pra você, que saiu da igrejaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora