Capítulo 5 - Síndrome de Estocolmo

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Cassandra Pavlova habitava a um perfeito mausoléu. Aparentava ter uns três andares, com a pintura branca gasta, telhas esburacadas e árvores secas ao seu entorno, como uma casa abandonada, ou mal assombrada. De qualquer forma, não parecia que ninguém, em sã consciência, moraria ali.

Mas Cassandra nunca lhe pareceu ser um exemplo de normalidade.

— Cada um com seu gosto, não é? — resolveu limitar sua análise minuciosa do local, enfim voltando a atenção ao restante do condomínio, para as casas ali próximas. Era melhor conter seu espanto, do que perder longos minutos observando cada característica esquisita daquele jazigo. Faria isso em breve. — Enfim, vamos no número... dezenove?

— Pode ser — Oz levou seu olhar à tal moradia, a única ali por perto, e foi como se saísse de um banho quente em direção ao Alasca, tamanho foi o choque com a diferença.

Tratava-se de um lar aconchegante, para começar. O telhado azul escuro, as janelas completamente limpas, e o jardim impecável, que via-se à frente do de Cassandra, lotado de ervas daninhas .

Caminharam até o outro lado da rua, deixando o carro estacionado à frente do jazigo da cartomante, e Jack continuou desmerecendo os quilos de curiosidade saltitando em seu interior. Pensava em desbravar aquele lugar estranho, ver como ele era por dentro, se possuía fantasmas vagando pelo andar de baixo, ou morcegos descansando no andar de cima. Refletia até mesmo sobre as janelas cobertas por cortinas escuras, como se fosse um galpão abandonado. Era instigante, decerto. Conseguia imaginá-la vagando por ali, vislumbrando o que acontecia no condomínio, nas frestas do tecido cinzento, guiada por bisbilhotice, talvez tão grande quanto a que ele era forçado a controlar naquele momento.

Enfim alcançaram a casa vizinha, e Oz cerrou seus punhos, açoitando a porta com tinta impecável por breves segundos:

—Olá? — bradou, conseguindo escutar passos ligeiros vindos de dentro.

— Olá? Oz, você não está visitando sua tia. Aja como um policial normal, e não como uma professora do jardim de infância — Jack resmungou, dando uma cotovelada no parceiro. — É sério. A gente tá buscando o álibi de uma suspeita de homicídio, não estamos investigando o roubo de doces numa cafeteria.

— Se agir como professor do jardim de infância significa ser educado, me desculpe — rebateu, com os olhos devidamente revirados. — Não dá para mudar. Você que é...

— Posso ajudá-los? — um senhor de idade abria a porta com cautela, mirando Jack e Oz com os dois únicos pelos de sua sobrancelha levantados, a corcunda pesada e um forte aroma de erva cidreira.

— Sou o quê, Oz? — Jack virou-se para o policial com a sátira aquecendo sua face. Gargalhava do semblante estático dele em seu interior; o corpo parado formulando o cumprimento amigável ao interrogado do dia; os lábios comprimidos para impedir que o possível xingamento a Jack fugisse. O detetive adorava vê-lo em uma enrascada, sempre aprazível.— Hein, me diz.

— Um policial muito interessado em resolver este caso — abriu um largo sorriso, preparando-se para apertar a mão do idoso. — Boa tarde, somos da polícia de Nova Orleans, e gostaríamos de lhe fazer algumas perguntas. Meu nome é Oz Ward e este aqui é o Jack.

— Johnson — complementou, cumprimentando o senhor da mesma forma.

— Boa tarde... — o homem proferiu, receoso. Sua voz era falha, típica da idade avançada. — Angus Baudelaire.Gostariam de entrar?

— Como o senhor desejar — Oz permaneceu com sua simpatia exacerbada, adentrando à residência cauteloso, enquanto retirava o chapéu. Jack fez o mesmo.

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