Exogenesis: Sinfônia, Pt 3 : Redenção

6 0 0
                                    

A pequena ursa caminha à aurora. A cidade caída acompanha o pulsar de seu instinto e o que é vida e destruição fica para trás em cada passo. A poeira lhe arde os olhos enquanto suas lágrimas, sujas, queimam lhe a pele. Os pontos de luz em seu horizonte de agonia lhe acalmam e o ofegar dos pulmões de Nedail lhe fazem sentir a vida que ainda a segue. A salvação lhe aguarda, ela vem dos céus. Não olhe para trás, pobre Tira, apenas corra.

Entre os raios e gritos, erguesse o sorriso e a poderosa loucura de Talio. O maldito rei despelasse em uma dança de sadismo e ódio, usa de suas próprias garras para arrancar de seu corpo todo o pelo alvo já manchado de sangue. Ele se contorce exaustivamente, expondo todas as suas novas feridas e alguma parte de seus ossos. Em seu pescoço, a chave queima lhe penetrando o peito até o abraçar de seu coração. Dos olhos escorrem um pus enquanto os dentes caem para fora de sua boca e em seu ultimo ato de seu teatro de lástima, se posta a comer os restos daquele o qual derrotou.

O colossal monstro caminha à aurora. De seu hálito formam-se nuvens tóxicas enquanto os insetos que o acompanham devoram tudo aquilo que veem. A grande Assanim o aguarda, assim como o resto do pequeno planeta azul.

Ao ver as luzes sobre a cidade, a criatura preparou-se para o ataque. Arrancou um dos arranha-céus com uma das mãos e o lançou nas suas direções. O imenso amontoado de metal, vidro e concreto não chegou sequer perto das luzes, mas deixou um rastro de outros prédios destruídos. Houve mais dor. Muitos estilhaços foram lançados pela cidade e alguns alcançaram a pequena rebelde. Tira caiu.

Ao levantar, notou-se pela sorte de não ser atingida e que deixou escapar Nedail de sua mão. Sobre a cortina de poeira e a chuva de escombros o procurou, não iria deixa-lo para trás. Por debaixo de algumas vigas e pedaços de concreto estava o ofegante e fraco humano. A cada vez que Tira lhe ajudava, percebia que seus ferimentos eram muito graves, o sangue escorreu de seus olhos e boca. Suas pernas e o braço direito foram esmagados e muitos dos ossos provavelmente teriam se quebrados.

Tira correu para próximo das luzes, não havia mais ninguém com ela a não ser o medroso primata em seus braços e em seus últimos suspiros. Olhou para cima e sentiu o calor da aflição de ser resgatada, mesmo não sabendo quem era. Os espasmos do corpo quase desfalecido de Nedail lhe silenciaram a esperança e mesmo os estrondosos sons de toda catástrofe não acalentaram a sua alma.

A vida de um corpo mudo se calou.

O pouso do Anjo lhe revelou o inesperado, o peso do metal e das turbinas encravavam seus pés metálicos no desgastado asfalto, alguns holofotes procuravam coisas além dela. Uma fumaça de exaustão envolveu a ursa enquanto algumas palavras ditas tentavam lhe acalmar. Uma espaçonave viera lhe resgatar.

Cinco longos passos foram suficientes para chegar a ela. Parou diante a uma das entradas, olhou para o rosto de Nedail já encoberto por uma paz confortante, repousou seu corpo sobre a calçada enquanto alguns androides vieram lhe guiaram até o interior da nave. Ao olhar para trás, na ultima imagem que teve de seu companheiro entre o fechar das comportas, viu o singelo dormir de um humano destroçado, a beira da rua, em um cenário monstruoso e desolador. Ela sempre se lembraria disso.

O tremer das coisas acusaria de estarem decolando. Não havia janelas, nem mesmo outros seres vivos até então. Tudo era bastante limpo e branco. Foi encaminhada para uma antessala, na qual recebeu algumas vistorias e algumas medidas médicas por outros robôs, afinal ela estava suja e com alguns ferimentos. Disseram-na que deveria ir mais além e que eles queriam falar com ela. Ao adentrar na sala de comando teve a maior das surpresas. Dois seres esguios e cinzentos lhe esperavam. Eram humanoides e em usavam muitos adereços de alta tecnologia em seus corpos. Um deles disse:

''- Recebemos seu recado, pequena ursa. O seu e de mais uma centena. ''

- Quem são vocês? O que está acontecendo? Porque estou aqui? O que é tudo isso?

'' - Bem... Primeiramente, você está aqui, pois isso deveria acontecer. As inconstantes mudanças que vem ocorrendo em nossas galáxias tem nos levado a um rumo preciso e constante. Para um entendimento mais preciso, digo lhe que todos os ursos aqui resgatados serão importantes para o seguimento da linha de nosso tempo.

Sobre sua primeira pergunta não posso lhe responder, pois a razão e a exatidão de uma afirmação sobre o que nós somos ainda não existem. O que podemos lhe responder, é que um dia, nossos antepassados já foram humanos de seu pequeno planeta. Eles tiveram de fugir, ameaçados pelo perigo da extinção, para o único lugar com possibilidades de salvação. De acordo com a seleção natural, as condições do espaço e do tempo que viveram lá e uma espécie de ajuda de algo superior a nós, moldaram os genes de nossa raça. Durante um bom tempo, vagaram pela grandiosidade do sistema solar, até acharem uma porta que lhes alavancariam pra o que somos. Inexplicavelmente, tal portal se localizava na orbita de Júpiter e sua saída na orbita de um planeta que chamamos de Tureys, em uma galáxia que apelidamos de Sculptor. Não sabemos a exatidão de seu local no universo e nem de sua relação com esta galáxia. Incrivelmente, esta espécie de 'fossa galáctica' tem as mesmas características do portal que viu em seu planeta há algumas horas atrás. Elas aparecem espontaneamente em pontos estratégicos próximos a planetas habitáveis com potencial de vida, além disso, dispõem de distorções temporais significativas, ou seja, o tempo passara alguns milênios enquanto passaram-se apenas algumas centenas de anos aqui, na terra. Esta relatividade nos ajudou em alguns aspectos sociais, biológicos e tecnológicos.

As coisas que estão acontecendo em seu planeta são um fruto daquilo que foi plantado desde sua criação, pois assim é o universo. Tudo converge para as coisas que realmente devem acontecer e elas irão acontecer.

Deduzimos que, com altas probabilidades de certeza, aquelas criaturas procedem de outro canto de nosso universo e que, pelo decorrer da história vieram adentrando na sociedade ursa aos poucos. Até eclodirem, ultrapassando pelas barreiras da porta e aniquilando as outras espécies da terra. Talvez o que querem é apenas se apropriar de uma casa, assim como nossos antepassados o fizeram, como os ursos e assim como nós estamos fazendo...

Hoje, poucos de nós caminham em direção ao que achamos ser um novo planeta habitável pelo sistema solar de Sculptor. Viemos em busca da sabedoria ursa, sozinhos não poderemos e nem chegaremos ao lugar que o tempo nos indica. ''

Tira não conseguiu pronunciar qualquer som, ficou em silencio por um tempo. Pela grande vidraça, que separava ela e o frio vazio do espaço, se deparou com a visão da calma, sinuosa e majestosa Terra. O palco de décadas de luta repousava em sono profundo, assim como sempre fez. Naquele momento, a pequena aventureira percebeu a insignificância de tudo aquilo que conhecia. Nada era tão singelo e poderoso, nem triste e nem tão belo. Ela sentou-se, no chão, não se movia, seu respirar profundo lhe consolou e, dali, apenas olhou.

O avançado humano sentou ao seu lado. A bela pintura postava-se as suas vistas e assim, ele a suplicou:

" - Somos o produto daquilo o que não sabemos... Vagamos em busca das coisas que um dia nos abandonarão, e todo o tempo que perdemos em nossa caminhada, não caminhará conosco na hora que voltarmos para casa. Achamos que somos o centro de toda existência e que estamos em um lugar privilegiado no universo, que aqueles os reis passados devem temer a seu povo e que aquele o rebelde deve defendê-los. Achamos que a história é feita para os heróis de guerra e para aqueles que morreram por ideologias caídas ou que é daqueles que sofrem de fome e escravidão. Achamos que a verdade é para aqueles que a conhecem e que não se amedrontam em expô-la com o custo de sua vida ou que é sobre aqueles que têm a ignorância como uma virtude.

Uma antiga história sobre os antigos ursos um dia será recontada por antigos ursos e aquilo o que ficará para trás será esquecido. Assim, entendemos que não estamos, mas que somos o universo. O cosmos nos chama para descobri-lo e admira-lo, assim como faz a nós. Vamos recomeçar novamente, E nós ficaremos bem...

Desta vez nós faremos isso...

Nós faremos isso certo...

É nossa última chance para perdoarmos a nós mesmos."

Bearvengers - Primeira Versão Onde as histórias ganham vida. Descobre agora