›» Capítulo 14 «‹

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– Oi – ela diz. – O que é isso?

– O violão? – pergunto apontando para o mesmo. Começo a tocar uma música qualquer para ela ouvir. Acho que essa é a melhor forma de se explicar o que é um violão, né?

– Nossa! – ela diz surpresa e senta ao meu lado. – Eu adorei isso, toca mais?

– Sério mesmo que gostou? – pergunto arqueando uma sobrancelha. Dizem que crianças dizem a verdade, então vamos acreditar e levar isso como um baita elogio. A menina – insira o nome dela aqui – confirma com a cabeça e me olha com os olhos brilhando. Eu continuo tocando olhando para baixo, e apenas levanto minha cabeça novamente quando uma terceira voz invade o lugar.

– Você não é ruim, Benjamin.

– Finalmente você chegou, Andrea! – digo deixando o violão de lado e ficando de pé.

– Eu não demorei tanto assim – ela diz fazendo uma careta. – Minha irmã que veio correndo quando viu você. Ela te viu apenas uma vez e já foi com a sua cara. Sabe o quão difícil é isso acontecer? Sinta-se privilegiado.

Levo isso como um elogio. Vamos ver pelo lado positivo, pelo menos eu já conquistei a irmã.

– Posso ir brincar, Ann? – a garota pede e Andie confirma com a cabeça. Finalmente a sós.

– Desculpe pela Malia – Andrea diz quando a menina está longe o suficiente para não ouvir. Ela senta no chão e eu a acompanho. – Tive que trazê-la.

– Por que Malia? – pergunto curioso.

– Sério, Lewis? – ela diz num tom de deboche. – De todas as perguntas, essa foi a que você escolheu nesse momento? – continua com o mesmo tom. Eu afirmo com a cabeça e ela fica indiferente. Ok, eu sou um babaca e comecei tudo errado. Podemos recomeçar tudo de novo, por favor? – É coisa da minha mãe. Malia significa águas pacíficas e calmas. Quando Malia veio, estávamos numa má condição, e minha mãe previu que com ela tudo iria melhorar e colocou o nome.

– Por que você me deixa tão curioso? – pergunto aproximando-me calmamente dela.

– Por que você faz tantas perguntas? Eu não tenho nada de interessante, Lewis, acredite – ela continua e se encosta na árvore.

– Eu não acredito.

– Aí o problema não é meu – ela finaliza e eu volto para "o meu canto".

– Eu só queria saber mais de você – murmuro. – Não posso ficar numa incógnita, ainda mais agora que eu te achei. Andrea, eu te procurei por meses. Depois da sua carta, não consegui focar em outra coisa. Andie, eu também prezo pela minha liberdade.

– Ben... – ela diz suspirando. Se eu não me engane, nesse exato momento ela não sabe o que dizer. Sabe como é difícil deixar a Andrea sem saber o que dizer?? Por um momento eu me pergunto se é a mesma Andrea Aima que conheço, e sei que a resposta é óbvia.

– Por favor, não fala nada – finalizo e pego meu violão. Tiro uma pasta da minha bolsa que contém umas folhas, e de lá eu pego uma em especial. Está escrito a mão e está um baita garrancho, mas foi o mínimo que eu consegui fazer. Aliás, nesses dias tudo o que eu consigo é o mínimo dos mínimos.

Fiquei ensaiando O Agora por minutos, e coloquei dentro da minha mente que a coragem não é tão difícil de se encarar. A tenacidade talvez seja um instinto querendo dar chances a novas coisas. Se não for hoje, quando será? E é com esse pensamento que toco a primeira nota do meu violão. Sol. Sempre gostei dessa nota, talvez porque fora a primeira que eu aprendi.

Fecho os olhos e deixo a sensação me levar. Não ligava para mais nada do que estava acontecendo naquele momento, muito menos para quem estava por perto. Não havia frio nem crianças correndo. Não conseguia ouvir os pássaros, apenas sentia a nota entrar pelos meus ouvidos e a letra de uma música mal feita sair pelos meus lábios.

Além do MarOnde as histórias ganham vida. Descobre agora